Aqueles que estão ao mesmo tempo que acompanhando essas postagens sobre Paulo Apóstolo, lendo com atenção o relato dos Atos dos Apóstolos, verão que depois de At 9,31, momento em que Paulo parte foragido para sua cidade natal, sua figura desaparece da narração do livro, para retornar em At 11,25.
A partir de At 11,19, o autor começa a narrar a dispersão dos discípulos após o martírio de Estevão, em Jerusalém. Na narrativa lemos que eles foram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, mas não falavam do nome de Jesus a ninguém, a não ser aos próprios judeus que encontravam pelo caminho. Foi na cidade de Antioquia que, pela primeira vez, os discípulos começaram a pregar também aos gregos, convertendo inúmeras pessoas.
Antioquia da Síria
Situada a 25 km do mar, Antioquia foi fundada por Seleuco I Nicatore no ano de 300 a.C. para ser a capital do reino sírio. Graças à posição estratégica do Porto de Selêucia, a cidade rapidamente adquiriu uma grande importância comercial, tornando-se uma das maiores cidades do Império Romano. Quando em 64 a.C. Pompeu reduziu a Síria a uma província romana, Antioquia tornou-se a capital de toda a região. Por isso, o governo romano ampliou a capacidade do Porto de Selêucia e melhorou a rede de estradas que davam acesso à cidade, de modo que Antioquia da Síria tornou-se o primeiro e mais importante centro comercial e político do Oriente Médio.
Como toda “metrópole”, Antioquia da Síria foi sempre marcada pela convivência entre diversas expressões culturais. Era possível encontrar na vida social da cidade um misto de expressões da civilização helênica (grega) e influências culturais provenientes das diversas religiões orientais de então. Como fruto desse ambiente, os cidadãos antioquenos do século I d.C. se distinguiam entre os demais povos por um espírito intelectualmente eclético e por uma grande abertura à busca religiosa. Esse cenário ofereceu as condições fundamentais para que as primeiras pregações cristãs que começavam a percorrer o mundo de então encontrassem ali um terreno muito propício de proliferação, fato que fez de Antioquia o primeiro grande centro extra-palestinense de difusão do cristianismo no mundo. A evangelização da cidade, como dito anteriormente, foi obra dos judeus-cristãos expulsos de Jerusalém depois da morte de Estevão (cf. At 8, 1-4; 11, 19-21).
A notícia do que acontecia em Antioquia despertou a atenção da Igreja em Jerusalém que enviou Barnabé para coordenar os trabalhos de evangelização daquela cidade. Como não cessava de crescer o número dos que aderiam ao Senhor naquela cidade, Barnabé vai a Tarso para pedir ajuda a Paulo na evangelização dos antioquenos. A missão em Antioquia traz consigo características muito interessantes que os Atos dos Apóstolos descrevem assim: "Eles (Paulo e Barnabé) passaram um ano inteiro trabalhando juntos nesta Igreja e instruindo uma multidão considerável. E foi em Antioquia que pela primeira vez os discípulos foram chamados com o nome de 'cristãos'." (At 11, 26)
É também de Antioquia, a primeira notícia de solidariedade entre comunidades cristãs. O livro dos Atos dos Apóstolos relata que, sabendo do difícil período que atravessava a Igreja em Jerusalém, "os discípulos (em Antioquia) resolveram então enviar, segundo os recursos de cada um, uma contribuição em ajuda aos irmãos que habitavam a Judéia". (At 11, 29)
Foi, por fim, em Antioquia que surgiu o grave e decisivo problema acerca da verdadeira identidade do cristianismo, resolvido pelo Concílio Apostólico de Jerusalém (49 d.C.). A problemática girava em torno da circuncisão dos não-judeus convertidos ao cristianismo (cf. At 15, 5-29), ou seja, se deveriam ou não seguir os preceitos judaicos aqueles que não eram judeus como todos os discípulos até então, mas que haviam aderido à fé no Senhor Jesus. A questão era realmente importante uma vez que foi a partir de então que os discípulos começaram a compreender que a mensagem cristã era de destinação universal.
A importância de Antioquia da Síria não pára por aí. Os primeiros séculos da era cristã viram surgir naquela cidade nomes que marcarão para sempre a história da Igreja, sobretudo, na elaboração dos fundamentos da doutrina cristã: Santo Inácio de Antioquia (+107 d.C.), Santo Bábila (+250 d.C.), São Efrém, o Sírio (+373 d.C.) e São João Crisóstomo (+407 d.C.) entre muitos outros.
Antioquia da Síria, hoje (Antakia)
Hoje, a cidade recebe o nome de Antakia e é a capital da província turca de Hatay. Praticamente, por causa dos muitos terremotos, diversas guerras, mas, sobretudo, da invasão dos turcos otomanos que quase tudo destruíram, nada pode se visto na cidade dos primeiros tempos do cristianismo, exceto a Gruta de São Pedro (uma construção que data do século IV d.C.). Antakia conta com aproximadamente 200.000 habitantes, dos quais, quase a totalidade é islâmica.
Em meio à população de Antakia, existem pouco mais de 1000 cristãos ortodoxos e apenas 70 católicos. Isso mesmo! Existem somente 70 católicos lque freqüentam a única paróquia da cidade, dedicada a São Pedro e São Paulo. A paróquia funciona numa espécie de sobrado, numa viela bem escondida nos arredores da cidade. No entanto, é um ambiente muito acolhedor animado pelos freis franciscanos capuchinhos. Lá, nosso grupo teve a graça de celebrar a Eucaristia no final do dia. Lá, "escondidos", celebramos num lugar que parecia realmente uma casa de família: era exatamente assim que a Igreja dos inícios vivia... De lá, oramos pela Igreja no mundo inteiro, pelo diálogo ecumênico e inter-religioso e pela expansão do anúncio do Evangelho.
O centro da cidade
Região próxima à Gruta de São Pedro
A Gruta de São Pedro vista de longe, única coisa que restou da antiguidade cristã em toda a cidade.
Gruta de São Pedro
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