quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A vocação fundamental

Agosto é conhecido como o “mês das vocações”. Ter um mês para aprofundar o assunto é realmente algo muito bom, mas traz consigo o risco de conceber o tema como uma espécie de “compartimento” da vida cristã, recordado apenas uma vez ao ano. A questão vocacional está, ao contrário, no fundamento de tudo.

Na criação do mundo, Deus manifesta sua predileção pela criatura humana: a cria a sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 16-27) e insufla-lhe nas narinas o hálito da vida (cf. Gn 2,7). A imagem do “hálito da vida” expressa a intimidade que o Criador quis estabelecer com sua criatura ao lhe comunicar a sua vida interior. Existe no ser humano algo que, de fato, o transcende, algo que é próprio de Deus, mas que lhe foi dado como ‘dom’.


A dignidade do ser humano (Cf. Gn 2,19) fica ainda mais evidente com a descrição da realidade do paraíso, experiência originária, onde o primeiro homem foi, então, fixado. Impressionante ali, por exemplo, a proximidade e intimidade do ser humano com seu Criador, manifestas na preparação de um jardim para ele (Gn 2,8), com toda sorte de frutos (cf. Gn 2,9), por meio do qual o próprio Senhor passeava a brisa do dia (cf. Gn 3,8)! Na verdade, tudo o que lemos no relato da criação do homem nos leva a reconhecer a sublime razão pela qual ele foi criado: para participar da vida de seu Criador. Eis a vocação de todos! Não há uma só pessoa que não tenha recebido esse chamado de Deus!

Porém, Deus não somente chama o homem a participar de sua vida, como também o ajuda na realização dessa vocação fundamental; permanece muito perto dele e acompanha-o neste processo que implica o esforço, livre e consciente, de conformar a própria existência à vida de Deus.

Nessa resposta que o homem é chamado a dar, a vivência cristã adquire um papel insubstituível. Em primeiro lugar porque esse processo encontra em Jesus Cristo, Deus que se fez homem (cf. Jo 1, 14), seu único caminho possível de realização (cf. Jo 14,6). É em Jesus que o humano e o divino se encontram de maneira plena e perfeita. Em segundo lugar porque se Jesus é o caminho que nos revela o mistério de Deus e nos faz compreender o mistério do ser humano, a Igreja, como comunidade dos batizados reunidos em nome de Cristo, é o local privilegiado onde isso acontece. O fiel “toca” o mistério de Deus e é por ele “tocado” por meio dos sacramentos da Igreja, dos quais a Eucaristia, presença real de Cristo, ocupa lugar privilegiado.

Entendido isso, aí sim podemos nos perguntar sobre as diversas maneiras de seguir Jesus em sua Igreja. É da realização da vocação fundamental de participar da vida de Deus que nascem as vocações específicas, ou seja, o modo pelo qual cada pessoa é chamada a responder, de acordo com suas aptidões e seu estilo de vida.

Que Deus abençoe nossa resposta!

Com afeto salesiano,
P. Mauricio Miranda.

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