Depois de uma semana, retomamos nosso caminho de reflexão sobre o pecado. Recordo-me que terminamos nossa primeira postagem sobre o assunto colocando-nos em diálogo com o Senhor. Nós lhe pedimos a graça de nos libertar de todo e qualquer medo de Deus, de acolher e experimentar seu imenso amor e de reconhecer que pecamos, ou seja, o desprezamos, faltando com a nossa necessária resposta ao amor de Deus por nós. Podemos agora, creio, dar um passo avante em nossa reflexão.
Afinal, por que pecamos?
À medida em que procuramos responder ao amor de Deus, vamos sentindo a necessidade de dizer não ao pecado. Porém, experimentamos que isso não é tão fácil assim. Talvez você já tenha percebido que não basta dizer não ao pecado para que não sinta mais vontade de cometê-lo. A primeira percepção daquele que se decide por lutar contra o pecado na própria vida é de que isso exige um esforço contínuo de vigilância sobre si mesmo. E por que? Porque todo ser humano traz consigo uma inclinação natural ao pecado com a qual terá que travar uma luta constante.
Interessante que essa experiência que fazemos coincide com aquilo que Deus nos revelou sobre o pecado. O relato da história de Adão e Eva no paraíso (cf. Gn 3) procura, de modo figurado, nos explicar uma verdade de fé fundamental: Deus fez o ser humano bom, mas ele se deixou seduzir pelo Mal e, por isso, perdeu a graça da santidade original. A Escritura também descreve as conseqüências dramáticas deste primeiro pecado (cf. Gn 4). A esse primeiro pecado, nós o denominamos como "pecado original". Se por iniciativa de Deus, o ser humano vivia na graça da santidade original, pelo uso de sua própria liberdade, o mesmo ser humano cometeu o pecado original que, outra coisa não é, senão a recusa da graça de Deus.
As figuras de Adão e Eva representam, na verdade, todo o gênero humano. O pecado por eles cometido diz respeito a toda a natureza humana. Isso significa dizer que pelo fato de sermos humanos, somos atingidos profundamente por esse pecado. O pecado original, portanto, é o único que não o cometemos por livre e espontânea vontade, mas o herdamos por natureza, nascemos atingidos por ele.
Porém, quando somos batizados, pela graça de Cristo nos tornamos uma nova criatura. A graça que experimentamos no batismo apaga o pecado original e nos faz voltar à comunhão com Deus. No entanto, as conseqüências de tal pecado permanecem em nós. Mas como assim? É como quando cometemos qualquer outro pecado e somos perdoados; o perdão apaga a culpa que tínhamos, mas as conseqüências dela permanecem. Assim, se você, por exemplo, ofendeu gravemente alguém e se arrependeu, Deus absolve a sua culpa, mas a ofensa a tal pessoa está feita, deverá ser reparada por você... Da mesma forma acontece com o pecado original: ele é apagado pela graça de Cristo recebida no batismo, mas suas conseqüências permanecem em nós. Tais conseqüências se refletem na inclinação para o mal que experimentamos dentro de nós.
Ah, agora as coisas vão ficando mais claras! Essa inclinação para o pecado que todos nós trazemos dentro de nós é a conseqüência do pecado original? Exatamente! É por isso que nos sentimos muitas vezes divididos entre o bem e o mal, queremos o bem, nos sentimos inclinados ao mal: é a força dessa inclinação agindo em nós. E é justamente contra ela que nós devemos lutar se quisermos vencer a batalha contra o pecado. Lutar contra essa inclinação é atacar o pecado em sua raíz...
Mas, para concluir, precisamos responder à pergunta inicial: "por que pecamos?" Pois então. Só essa inclinação não é capaz de nos fazer pecar, ela é apenas uma tendência, uma propensão. Nós pecamos porque não resistimos a ela e acabamos, livre e conscientemente, optando pelo mal. O pecado, resumindo, é sempre uma ação livre e consciente, ou seja, pecamos por opção mesmo...
Bem, imagino que você esteja se fazendo outras perguntas. Mas por hoje é só, já temos bastante coisa para refletir... A gente se vê na segunda-feira, por aqui.
Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.
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