Na mesma semana em que recebi o convite para escrever este artigo, atendi um jovem que me perguntava sobre quais os passos para ler a Bíblia com maior proveito. Enquanto dialogávamos, percebi no coração dele o mesmo desejo do salmista quando exclama: “Senhor, é a vossa face que eu procuro!” (Sl 26, 8). Conversamos por um bom tempo e, daquele bate-papo, nasceu esse artigo.
Diante daquela pergunta não hesitei em dar ao jovem uma primeira boa notícia: antes mesmo que nos colocássemos a sua procura, Deus já havia decidido vir ao nosso encontro para nos revelar o seu grande mistério de amor.
Deus se revela por meio da Palavra
Como Deus vem ao nosso encontro? Essa foi a segunda pergunta que o jovem me fez. Mas a resposta, ao mesmo tempo que lógica, lhe pareceu um tanto estranha. Eu lhe disse que Deus sempre fez o “uso da palavra” para falar conosco.
Antes mesmo que existíssemos já era assim. Foi pela palavra que Ele criou o mundo: “Deus disse: ‘Faça-se a luz!’ E a luz foi feita” (Gn 1, 3). Também foi pela palavra que nós passamos a existir: “Depois Deus disse: ‘Façamos o ser humano a nossa imagem e semelhança...” (Gn 1,26). É pela palavra que Ele se revela ao povo de Israel, de cima do Monte Horeb: “Convoca o povo para junto de mim, a fim de ouvirem as minhas palavras...” De fato, o próprio Moisés depois testemunha o ocorrido: “O Senhor falou-vos do meio do fogo; ouvistes o som das palavras, mas não vistes figura alguma. Era apenas uma voz” (Dt 4,10.12).
A palavra de Deus é uma palavra de Amor. Deus é Amor! (cf. 1 Jo 4,8). Quando se revela a nós, Deus assim o faz para nos atrair a Ele, para nos fazer participar de seu amor. Por isso a revelação de Deus ao longo da história, nós a chamamos de História da Salvação. É salvo todo aquele que acolhe a Palavra de Deus. Foi então que anunciei ao jovem uma boa notícia ainda maior!
A Palavra de Deus veio morar entre nós!
A História da Salvação alcança seu ponto mais alto com a vinda de Jesus. O desejo de Deus de nos atrair a Ele se realiza plena e concretamente quando sua Palavra se une a nossa natureza humana. Jesus Cristo é a Palavra de Deus que se fez carne.
Foi então que, pensativo, o jovem se recordou do que está escrito no início do Evangelho de São João: “No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne e veio habitar no meio de nós.” (Jo 1,1.14)
De fato, toda a vida de Cristo foi uma realização da Palavra: seus silêncios, suas pregações, seus gestos, suas orações, seu amor incondicional pelo ser humano, sua entrega na cruz para a salvação do mundo, sua Ressurreição... Tudo nele é Palavra por excelência porque comunica ao coração do homem as coisas do coração de Deus! Ele é o pleno cumprimento da Revelação de Deus.
A Sagrada Escritura
Embora não seja a única forma pela qual Deus se revela ao longo da história, a Bíblia representa um grande momento desse longo percurso; ela é o grande “testemunho”, em forma escrita, da Palavra de Deus. Como expressão escrita dessa Palavra, a Sagrada Escritura a contém e a manifesta em toda a sua eficácia (cf. 2 Tm 3,16). Por isso, a Bíblia é um caminho imprescindível para aquele que procura a face do Senhor.
A Sagrada Escritura é Escritura porque compreende um conjunto de textos, fruto de diversas releituras de fé que o povo de Israel foi realizando de sua própria história com Deus. Mas ela é, antes de tudo, Sagrada porque suas diversas redações foram sempre inspiradas por Deus. É a inspiração de Deus que faz de tais textos Palavra de Deus: a Palavra de Deus escrita.
No longo e complexo processo de redação dos livros sagrados, o povo de Deus sempre foi assistido pelo Espírito Santo. É o Espírito do Senhor quem inspirou os diversos autores a escreverem tudo e somente aquilo que Deus desejava comunicar por escrito. É também o Espírito quem confiou a Palavra de Deus escrita à Igreja para ser guardada, autenticamente interpretada, vivida e anunciada ao mundo inteiro. Daqui nascem as duas primeiras atitudes fundamentais para quem deseja ler a Bíblia com proveito: pedir a assistência do Espírito Santo e lê-la em comunhão com toda a Igreja.
Pedir a assistência do Espírito Santo
Uma vez que, como dissemos, é o Espírito quem guia o povo de Deus na justa interpretação daquilo que Ele mesmo inspirou que fosse escrito e entregou à Igreja para que fosse vivido e anunciado, é à luz de sua presença e ação que devemos contemplar a Sagrada Escritura.
Precisamos pedir o auxílio do Espírito na leitura e no estudo da Sagrada Escritura, já que é Ele quem nos ensina todas as coisas (cf. Jo 14,26) e nos leva à plenitude da verdade (cf. Jo 16,13); no esforço por traduzir a Palavra escrita em atos de vida porque Ele é a força que faz de nós testemunhas de Deus (cf. At 1,8); no momento de anunciá-la a todos porque é Ele quem fala em nós e por meio de nós (cf. Mc 13, 10-11).
Ler a Bíblia em comunhão com a Igreja
Exatamente porque o Espírito assiste à Igreja de Deus desde o momento de sua fundação, o segundo critério fundamental é ler a Sagrada Escritura sempre em comunhão com a Igreja. De fato, a tradição da Igreja dispõe de um grande tesouro que nos auxilia em muito a compreender, testemunhar e anunciar aquilo que lemos.
Nesse sentido, lugar privilegiado para o encontro com a Sagrada Escritura é a liturgia da Igreja. Nas celebrações litúrgicas, a Palavra escrita é uma das formas pela qual Deus vem ao nosso encontro para salvar-nos. Por isso é ali que, de modo especial, o fiel experimenta a ação transformadora da Palavra em sua vida e recebe a força para anunciá-la.
Fala, Senhor!
Bem, mas você pode estar se perguntando sobre como terminou a conversa com aquele jovem. Ela não terminou. Na verdade, jamais terminará! A Sagrada Escritura é uma fonte inesgotável. Continuamos, ele e eu, a procurar a face do Senhor. E nessa procura, aprendemos com a Sagrada Escritura, todos os dias, dizer a Deus: “Fala, Senhor! O teu servo escuta!” (1 Sm 3, 10) E a cada vez que lhe pedimos, Ele nos fala.
Com afeto salesiano,
Diante daquela pergunta não hesitei em dar ao jovem uma primeira boa notícia: antes mesmo que nos colocássemos a sua procura, Deus já havia decidido vir ao nosso encontro para nos revelar o seu grande mistério de amor.
Deus se revela por meio da Palavra
Como Deus vem ao nosso encontro? Essa foi a segunda pergunta que o jovem me fez. Mas a resposta, ao mesmo tempo que lógica, lhe pareceu um tanto estranha. Eu lhe disse que Deus sempre fez o “uso da palavra” para falar conosco.
Antes mesmo que existíssemos já era assim. Foi pela palavra que Ele criou o mundo: “Deus disse: ‘Faça-se a luz!’ E a luz foi feita” (Gn 1, 3). Também foi pela palavra que nós passamos a existir: “Depois Deus disse: ‘Façamos o ser humano a nossa imagem e semelhança...” (Gn 1,26). É pela palavra que Ele se revela ao povo de Israel, de cima do Monte Horeb: “Convoca o povo para junto de mim, a fim de ouvirem as minhas palavras...” De fato, o próprio Moisés depois testemunha o ocorrido: “O Senhor falou-vos do meio do fogo; ouvistes o som das palavras, mas não vistes figura alguma. Era apenas uma voz” (Dt 4,10.12).
A palavra de Deus é uma palavra de Amor. Deus é Amor! (cf. 1 Jo 4,8). Quando se revela a nós, Deus assim o faz para nos atrair a Ele, para nos fazer participar de seu amor. Por isso a revelação de Deus ao longo da história, nós a chamamos de História da Salvação. É salvo todo aquele que acolhe a Palavra de Deus. Foi então que anunciei ao jovem uma boa notícia ainda maior!
A Palavra de Deus veio morar entre nós!
A História da Salvação alcança seu ponto mais alto com a vinda de Jesus. O desejo de Deus de nos atrair a Ele se realiza plena e concretamente quando sua Palavra se une a nossa natureza humana. Jesus Cristo é a Palavra de Deus que se fez carne.
Foi então que, pensativo, o jovem se recordou do que está escrito no início do Evangelho de São João: “No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne e veio habitar no meio de nós.” (Jo 1,1.14)
De fato, toda a vida de Cristo foi uma realização da Palavra: seus silêncios, suas pregações, seus gestos, suas orações, seu amor incondicional pelo ser humano, sua entrega na cruz para a salvação do mundo, sua Ressurreição... Tudo nele é Palavra por excelência porque comunica ao coração do homem as coisas do coração de Deus! Ele é o pleno cumprimento da Revelação de Deus.
A Sagrada Escritura
Embora não seja a única forma pela qual Deus se revela ao longo da história, a Bíblia representa um grande momento desse longo percurso; ela é o grande “testemunho”, em forma escrita, da Palavra de Deus. Como expressão escrita dessa Palavra, a Sagrada Escritura a contém e a manifesta em toda a sua eficácia (cf. 2 Tm 3,16). Por isso, a Bíblia é um caminho imprescindível para aquele que procura a face do Senhor.
A Sagrada Escritura é Escritura porque compreende um conjunto de textos, fruto de diversas releituras de fé que o povo de Israel foi realizando de sua própria história com Deus. Mas ela é, antes de tudo, Sagrada porque suas diversas redações foram sempre inspiradas por Deus. É a inspiração de Deus que faz de tais textos Palavra de Deus: a Palavra de Deus escrita.
No longo e complexo processo de redação dos livros sagrados, o povo de Deus sempre foi assistido pelo Espírito Santo. É o Espírito do Senhor quem inspirou os diversos autores a escreverem tudo e somente aquilo que Deus desejava comunicar por escrito. É também o Espírito quem confiou a Palavra de Deus escrita à Igreja para ser guardada, autenticamente interpretada, vivida e anunciada ao mundo inteiro. Daqui nascem as duas primeiras atitudes fundamentais para quem deseja ler a Bíblia com proveito: pedir a assistência do Espírito Santo e lê-la em comunhão com toda a Igreja.
Pedir a assistência do Espírito Santo
Uma vez que, como dissemos, é o Espírito quem guia o povo de Deus na justa interpretação daquilo que Ele mesmo inspirou que fosse escrito e entregou à Igreja para que fosse vivido e anunciado, é à luz de sua presença e ação que devemos contemplar a Sagrada Escritura.
Precisamos pedir o auxílio do Espírito na leitura e no estudo da Sagrada Escritura, já que é Ele quem nos ensina todas as coisas (cf. Jo 14,26) e nos leva à plenitude da verdade (cf. Jo 16,13); no esforço por traduzir a Palavra escrita em atos de vida porque Ele é a força que faz de nós testemunhas de Deus (cf. At 1,8); no momento de anunciá-la a todos porque é Ele quem fala em nós e por meio de nós (cf. Mc 13, 10-11).
Ler a Bíblia em comunhão com a Igreja
Exatamente porque o Espírito assiste à Igreja de Deus desde o momento de sua fundação, o segundo critério fundamental é ler a Sagrada Escritura sempre em comunhão com a Igreja. De fato, a tradição da Igreja dispõe de um grande tesouro que nos auxilia em muito a compreender, testemunhar e anunciar aquilo que lemos.
Nesse sentido, lugar privilegiado para o encontro com a Sagrada Escritura é a liturgia da Igreja. Nas celebrações litúrgicas, a Palavra escrita é uma das formas pela qual Deus vem ao nosso encontro para salvar-nos. Por isso é ali que, de modo especial, o fiel experimenta a ação transformadora da Palavra em sua vida e recebe a força para anunciá-la.
Fala, Senhor!
Bem, mas você pode estar se perguntando sobre como terminou a conversa com aquele jovem. Ela não terminou. Na verdade, jamais terminará! A Sagrada Escritura é uma fonte inesgotável. Continuamos, ele e eu, a procurar a face do Senhor. E nessa procura, aprendemos com a Sagrada Escritura, todos os dias, dizer a Deus: “Fala, Senhor! O teu servo escuta!” (1 Sm 3, 10) E a cada vez que lhe pedimos, Ele nos fala.
Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.
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