sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Um ateísmo que avança?


Há tempos tenho observado o interesse crescente da mídia pelo avanço do número daqueles que se declaram ateus. Só nos últimos dias, vi três veículos da imprensa escrita que dedicaram várias páginas de suas publicações para o assunto. Nas três ocasiões, o crescimento do ateísmo era tratado como uma ameaça à fé no mundo de hoje. Se, de fato, os números mencionados por essas pesquisas forem verdadeiros, não creio que configurem uma ameaça à fé, e sim, uma ameaça à saudável compreensão da natureza humana e de suas reais potencialidades.

Mais do que uma negação de Deus, o ateísmo de nossos dias parece uma reação indignada à falta de sentido que assola o mundo moderno. Diante de tudo quanto assistimos, estupefatos, são esperadas perguntas do tipo: "onde está Deus que não vê isso acontecer?" ou "o que faz Deus que não age nessa determinada situação?" , ou ainda, "porque Deus se cala diante de tudo isso?"

Mediante uma realidade assustadora, muitas pessoas acabam não encontrando em Deus, respostas que justifiquem o caos dos quais é vítima toda a sociedade. A complexidade do mundo moderno deixa as pessoas perplexas e a realidade parece, muitas vezes, não mais refletir uma ordem que lhe seria imposta por algum Ser que lhe fosse exterior. Daí resultam as afirmações - de ateus declarados ou não - que Deus não faz parte da vida humana ou que Ele, de fato, não existe. Se percebermos, é justamente assim que milhares de pessoas vivem: como se Deus não existisse ou como se Ele não tivesse ingerência alguma sobre os fatos da vida.

Creio, no entanto que, mais do que olharmos para Deus, devemos olhar para dentro de nós mesmos. Se o mundo atravessa atualmente uma situação caótica sob vários aspectos, não é pela negligência de Deus, muito menos indício de sua não-existência e, sim, por conseqüência do mal uso que o homem faz de sua própria liberdade.

Falando de modo mais claro, o que acontece com muitas pessoas é mais ou menos isso: fazem tudo sem perguntar nada a Deus e depois tentam culpá-lo pelos erros dos atos impensados... Antes de perguntarmos por Deus, deveríamos pensar melhor sobre as escolhas que fazemos e se elas refletem o querer amoroso de Deus a nosso respeito.

Nós, os "crentes", temos um grande desafio pela frente: mostrar que a vida tem um sentido que lhe ultrapassa. Levar milhares de pessoas a perceber que Deus se faz presente em todos os momentos da vida e que Ele deseja participar de todos, não apenas das conseqüências...

Deus te abençoe!
Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda

Um comentário:

  1. Padre,
    Também vi algumas reportagens sobre o ateísmo.
    Engraçado, em todas as reportagens não vi nenhuma que apresentasse um argumento contundente de uma prova de que Deus não exista. Muitos céticos falam que, da mesma forma que não se pode provar que Deus não existe, também não se pode provar a sua existência.

    Eu concordo em partes, pois a primeira pergunta que eu faria para um cético ou um ateu seria: O que vem após a morte? Tudo bem, vamos nos comportar como um ateu. Um dia morrerei, e tudo acabou! Não verei nunca mais as pessoas que amei e que me amaram. Ajudei muitas pessoas de coração, fiz muitas pessoas felizes, momentos inesquecíveis, e terei o mesmo fim que pessoas que só fizeram maldade.
    Ou seja, por este pensamento, todos nossos atos são vazios, sem um fim, sem sentido. Não adianta determinado escritor falar que um mundo sem religião seria melhor, porque não seria. Não acho que devemos ser bons somente para um dia chegar ao Céu e ganhar uma recompensa de Deus, mas devemos ser bons porque nossos atos têm um fim, tem sentido, não são atos vazios. A vida não é um mero acaso, porque se fosse, o homem não teria a menor capacidade de criar uma religião.

    A religião não é movida por estrategistas, mas a essência da religião é movida por uma inspiração interna espiritual humana que difere o homem dos outros animais. Sim, o homem precisa do Divino, não por medo do sofrimento ou da morte, mas sim porque o homem foi criado a partir da natureza de Deus com o conhecimento da razão, do que é certo e errado. Não foi criado como os animais, na pureza, para viver pelo seu instinto. Foi criado para ter sabedoria e governar o mundo. Se alguns se utilizaram da religião para dominar e disfarçar o real objetivo de suas ganâncias, não se pode culpar a Deus por não sabermos amá-lo!

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