quarta-feira, 25 de junho de 2008

O pecado - Conclusão


Chegamos ao final de nossa reflexão sobre a realidade do pecado. É preciso, no entanto, dizer que tudo o que abordamos nesse blog foi apenas um 'início de conversa', ou seja, um incentivo à reflexão e um grande convite para incluirmos esse assunto em nossas conversas com Deus. De fato, um dos pedidos da oração que Jesus nos ensinou é o "livrai-nos do mal" (cf. Mt 6, 9-13). A consciência do pecado e a luta que devemos travar contra ele são partes integrantes e inseparáveis da vida cristã. Espero de coração que esse blog tenha, de alguma forma, lhe ajudado a compreender melhor o assunto e, sobretudo, contribuído para que você crescesse em sua vida de oração!

De tudo quanto dissemos nas seis postagens sobre o assunto, gostaria de retomar dois pontos fundamentais para nossa conclusão. O primeiro deles nasce do confronto entre a experiência da imensidão do amor de Deus e da nossa falta de resposta a tanto amor: a necessidade de dizer 'não' ao pecado!

Um 'não' definitivo!

Eis o primeiro passo que Deus nos convida a dar: um 'não' definitivo ao pecado. Como vimos, isso não quer dizer que nunca mais sintamos dificuldade para sermos fiéis nem que nunca mais venhamos a pecar, mas significa uma decisão radical de não querer mais pecar. Esse primeiro e importante passo nasce da profunda necessidade que sentimos de responder com nossa vida ao amor que de Deus experimentamos. Se o pecado consiste em todo o tipo de falta contra o amor, só nos resta uma única atitude coerente diante disso: dizer não! Em outras palavras, implica dizer:



Senhor, eu me decido por Ti!

Agora já posso sentir e compreender
um pouco mais a grandeza de teu amor!
Não posso e não quero viver de outra forma
a não ser respondendo a ele!

Faz de minha vida uma resposta de amor, Senhor!
Por isso, diante de Ti, eu digo um 'não' definitivo
a toda ausência de amor
para contigo e para com os outros!

Sim, eu me decido pelo Amor!
Ajuda-me, Senhor, a ser coerente com essa decisão!

Amém.


O segundo ponto é conseqüência do primeiro. Quando tomamos a firme decisão de dizer não ao pecado, vamos compreendendo que será preciso dizê-lo todos os dias. Isso mesmo! Não basta dizer apenas uma vez! E por que? Porque o 'não' ao pecado se traduz numa batalha diária por causa de tudo quanto já dissemos nas postagens anteriores. Mas você pode se perguntar: devo lutar contra quem ou contra o que?

Livrai-nos do Mal

Nesse pedido expresso na oração do Senhor, o mal não é compreendido de modo abstrato, ou seja, quando rezamos "livrai-nos do mal", não estamos pedindo que Deus nos livre do mal em geral, mas sim, de uma pessoa: Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus!

Aqui tocamos num ponto onde muita gente "torce o nariz" quando escuta esse tipo de discurso. Desculpem-me essas pessoas, mas falo daquilo que diz nossa fé católica, amparada nas Escrituras e na Tradição da Igreja. Volto a dizer: no pedido da oração do Pai-nosso, o Mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa: Satanás.

Com isso, ninguém está querendo semear medo no coração das pessoas, mas ensiná-las como agir se quiserem ser vencedoras na luta contra o pecado. Não é preciso, por isso, ter medo de Satanás, mas se faz necessário admitir sua existência e ação para entender o sentido de nossa luta. De fato, o Apóstolo nos explica que tipo de batalha travamos quando nos diz: "revistam-se da armadura de Deus para que possam resistir aos ataques do diabo. A nossa luta não é contra as forças humanas, mas contra as autoridades, contra as potestades, contra os dominadores desse mundo de trevas, contra os espíritos do mal espalhados nos ares." (Ef 6,11-12).

Por que é importante compreender tudo isso? Porque quando dizemos que nos decidimos lutar contra o pecado, não estamos afirmando que é uma batalha que travamos contra nós mesmos, contra nossas próprias concupiscências (lembra-se dessa palavra?). Como dissemos, a concupiscência não pode, por si mesma, nos levar a pecar. A raiz de todo o pecado é, na verdade, o Maligno que, sabendo de tais inclinações, nos seduz a ponto de cedermos livremente a elas. Por isso também pedimos na oração do Senhor: "e não nos deixeis cair em tentação" (cf. Mateus 6, 9-13).

Por fim, é importante estarmos certos que nos foram dados meios suficientes para vencer essa luta, que fortalecem nossa vontade de nos manter fiéis ao Amor. Dentre eles, eu recordo dois considerados fundamentais: o Sacramento da Reconciliação (conhecido por confissão) e o Sacramento da Eucaristia. E por que são fundamentais? Porque a partir do momento em que são celebrados (esses dois e os outros cinco sacramentos), o poder de Cristo e de seu Espírito agem neles e por meio deles. Ora, a vitória sobre Satanás foi alcançada pela morte e ressurreição de Cristo! Ele é o caminho de nossa vitória! É por Ele que devemos nos decidir sempre!

Termino aqui nossas postagens sobre o pecado. Mais uma vez lhe digo que, espero de coração, que essas poucas palavras tenham lhe ajudado a compreender melhor a fé católica e a crescer em santidade, já que "essa é a vontade de Deus: a vossa santificação" (1 Tessalonicenses 4,3).

Deus te abençoe!

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O pecado - Parte 5


Paz e alegria!

Que bom encontrá-lo novamente por aqui! Depois de um período de ausência minha por causa das provas de final de semestre, finalmente posso retomar as postagens da nossa reflexão sobre o pecado. Espero que você me perdoe o atraso...

Ainda quero dedicar mais duas postagens sobre o assunto que vimos discutindo. Na postagem passada, falamos sobre a distinção do pecado quanto a sua gravidade. Hoje, trataremos sobre as conseqüências dele em nossa vida. E por que escolhemos esse tema? Porque somente tendo a real visão e entendimento do alcance que o pecado possui é que nos decidiremos a travar com ele uma luta permanente!

A ruptura da comunhão com Deus

Creio que esta primeira conseqüência seja, de per si, motivo suficiente para nos decidirmos a iniciar uma batalha perene contra o pecado. Quanto mais crescemos na compreensão e na experiência da imensa misericórdia de Deus por nós, mas entendemos quão sério é tudo aquilo que rompe ou colabora com a ruptura de nossa comunhão com Ele. Não é verdade que ninguém quer ficar longe da pessoa amada? Pois então, quanto mais descobrimos a real necessidade que temos do amor de Deus, mais compreendemos ser necessário dizer 'não' a tudo o que nos afasta dele.

Quando pecamos, ainda que a comunhão com Deus não seja rompida diretamente (ler a parte 4 sobre a diferença entre o pecado mortal e venial), vimos que mesmo assim ela acaba sendo abalada de alguma forma. Aqui está a primeira decisão que devemos tomar: romper com o pecado!

Talvez você nunca tenha ouvido falar nisso ou, ao menos, dessa forma: é preciso se decidir em romper com o pecado! Precisamos nos decidir a dizer 'não' ao pecado, todos os dias de nossa vida. Todos aqueles que são considerados verdadeiros amigos de Deus (=santos) tomaram essa decisão em algum momento de sua existência. As tão conhecidas palavras de Domingos Sávio, por exemplo, "antes morrer que pecar" traduzem essa tomada de decisão. Em outras palavras, num dado momento de sua vida, Sávio se decidiu que lutaria contra o pecado tanto quanto lutava por viver! Conosco não é diferente, devemos tomar a mesma decisão!

Aqui, no entanto, é preciso lembrá-lo que nada na vida é automático, ou seja, não é porque você se decidiu a não mais pecar que, de fato, não sentirá mais a inclinação para o mal. Entenda: a decisão de romper com o pecado é apenas um passo fundamental para que você inicie a verdadeira batalha! Não romper com o pecado seria como se começássemos uma guerra sem querer vencer o adversário... Ora, se não queremos vencer o adversário, porque começamos a lutar?! Não tem lógica! Pode parecer radical, mas... é radical mesmo!

A ruptura da comunhão entre os filhos de Deus

Não sei se você já parou para pensar, mas falar que todos nós somos chamados à comunhão com Deus, significa admitir uma necessária comunhão entre nós, não é mesmo? Sim, é verdade! Entre nós existem laços de estreita comunhão que possuem seu fundamento na comunhão de todo o gênero humano com Deus. Na verdade, a comunhão entre os seres humanos é reflexo e conseqüência daquela estabelecida com Deus.

Quando o pecado prejudica ou rompe a união de uma pessoa com Deus, na verdade, não é apenas sua comunhão com Deus que é abalada, mas a comunhão de todo o gênero humano. Difícil de entender? Tomemos dois exemplos simples. Em primeiro lugar, imagine que você está sentado a beira de uma lagoa de águas cristalinas e muito tranquilas. Ao lançar uma pedra sobre qualquer ponto, você fará com que todo a lagoa sinta as conseqüências desse ato. Você até pode dizer que sua intenção não era perturbar a harmonia de toda a lagoa, mas bastou a pedra quebrar com a harmonia de parte dela que aquele efeito foi sendo propagado por toda sua extensão. Pois bem. É isso que o pecado faz com a Igreja...

Não fui feliz com o exemplo? (rs). Bem, temos um segundo exemplo muito melhor que esse. São Paulo compara o povo de Deus a um corpo humano, quando diz que "sendo muitos, nós somos um só corpo em Cristo" (Romanos 12, 5). Belíssima comparação! Veja que quando causamos algum tipo de mal a algum membro de nosso corpo, por mais pequenino que seja, todo o corpo sofre com isso... Que o digam os que sabem muito bem o que é a sensação de mal estar gerada a partir de uma unha encravada, de uma simples dor de cabeça ou de uma inflamação numa minúscula parte do corpo conhecida como apêndice! Minha nossa! A dor pode ser sentida em apenas uma das partes, mas o corpo inteiro é atingido de certa forma por ela! Pois bem! A Igreja, afirma o Apóstolo, é o corpo cuja cabeça é Cristo. Quando um de seus membros tenta romper a comunhão com a cabeça, todos os demais membros são atingidos direta ou indiretamente. Seríamos ingênuos se achássemos que cortando os pulsos, apenas eles sofreriam com tão grande ruptura! Creio que agora tenha ficado muito mais claro, não é mesmo?

Tudo isso para dizer que o pecado que cometemos pessoalmente, além de causar mal a nós mesmos, sempre atinge, direta ou indiretamente à Igreja Corpo de Cristo. Todo o pecado é uma falta de amor para com Deus e para com o próximo. Reflita bem e você verá: nenhum pecado que tenha cometido parou apenas em você, mas certamente atingiu alguém, direta ou indiretamente... Eis mais um motivo para rompermos com ele!

Bem, poderíamos falar de mais e mais conseqüências do pecado, mas creio que a partir dessas duas que abordamos hoje, seja possível levar a reflexão além. Recordo-lhe, no entanto, que não é apenas uma 'reflexão' que somos convidados a fazer... É preciso que a partir dela, retornemos àquela nossa conversa com o Senhor. Hoje, Ele nos convida a dizer: "Senhor, hoje eu me decido por Vós. Por isso eu vos digo: eu não quero mais pecar! Ajudai-me com a vossa graça!"

Deus te abençoe nessa decisão!

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

terça-feira, 17 de junho de 2008

O pecado - Parte 4


A partir daquela nossa regra de ouro (ser fiel à resposta de amor ao amor de Deus em todas as suas manifestações), podemos fazer mais uma pergunta muito interessante para avançarmos na compreensão do pecado e de suas conseqüências. E que pergunta é essa?

A gravidade do pecado

Certa vez ouvi uma pessoa dizendo que "pecado é sempre pecado, é tudo igual". Desconfiei disso assim que escutei. Na verdade, fui descobrindo que naquela frase havia erros e acertos. É certo dizer que "pecado é sempre pecado", já que o pecado é sempre uma negação do amor de Deus. Parece-me errado, no entanto, dizer que pecado "é tudo igual".

Em 1 João 5,17, lemos que "toda a iniquidade é pecado, mas nem todo o pecado conduz à morte." Note que nessa passagem, o autor sagrado estabelece uma diferença entre os pecados quanto à gravidade que possuem: uns conduzem diretamente à morte enquanto outros não (ao menos não de modo direto!)

Por isso a tradição da Igreja procurou expressar essa distinção quanto à gravidade classificando os pecados em "mortais" ou "veniais". Você deve se recordar de ter ouvido esses termos, ao menos alguma vez, não é mesmo? Vamos tentar entender a diferença e você verá que a experiência humana acaba confirmando essa distinção.

Que é o pecado venial?

Às vezes, nossas ações acabam ferindo o preceito do amor, sem porém atacá-lo em seus fundamentos. Quer um exemplo disso? Procure imaginar as vezes que ironizamos o que disse uma pessoa simplesmente porque não simpatizamos com ela. Se você pensar bem, existe aí uma falta contra o preceito do amor, já que não temos o direito de faltar com o respeito para com alguém só pelo fato de que não simpatizamos com seu modo de ser. Apesar de ser uma falta contra o amor ao próximo, ela não é capaz de exterminar o amor em suas raízes.

Por outro lado, o pecado venial, embora não fira gravemente o amor, vai enfraquecendo-o pouco a pouco. Por isso, é importante darmos atenção a ele já que, muitas vezes praticado, sem o devido arrependimento, pode nos dispor a cometer o pecado mortal.

E o pecado mortal?

Para que um pecado seja mortal, são necessárias três condições inseparáveis: a liberdade e consciência (como vimos na postagem passada), além de ter como objeto de sua ação uma matéria considerada grave. A matéria considerada grave, em geral, prescrita nos Dez Mandamentos da Lei de Deus.

O pecado mortal destrói o amor no coração do homem, desviando-o radicalmente de Deus. Ele, por sua natureza, é capaz de romper a aliança com Deus, não por querer de Deus, mas por conseqüência de sua própria gravidade. E justamente por isso, tal situação exige uma profunda conversão do coração e uma nova iniciativa da misericórdia de Deus que, normalmente se realiza no Sacramento da Reconciliação.

Bem, o que importa afirmar aqui é que, mesmo podendo julgar que um ato é, em si, uma falta grave, não devemos nos esquecer jamais que o julgamento sobre as pessoas deve ser confiado à justiça e à misericórdia de Deus.

Bem, ficamos por aqui.

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

O pecado - Parte 3


À medida em que avançamos na compreensão do que é o pecado e de suas conseqüências, vamos sendo fortalecidos na luta que devemos travar contra ele se quisermos responder ao imenso amor de Deus que experimentamos a todo o momento.

Procuramos responder ao que é o pecado e ao por quê pecamos. Peço licença para retomarmos a idéia final da última postagem para recordar que, embora o pecado original tenha sido apagado em nós quando fomos batizados em Cristo, permanecem as conseqüências dele que se traduzem na inclinação que trazemos para o mal. Essa inclinação ao mal é chamada de concupiscência. É uma palavrinha meio difícil, não é mesmo? Mas, ao mesmo tempo, deve ser por nós muito bem conhecida, já que a usaremos daqui em diante todas as vezes em que nos recordarmos do assunto. Também relembro que a concupiscência em si mesma não é pecado, já que é apenas uma inclinação e que, sozinha, não pode nos levar a pecar. Pecamos porque, no fundo, atendendo a essa inclinação interior, optamos voluntariamente pelo pecado. Vamos dar mais um passo a frente?

Quando pecamos?

Várias pessoas nos perguntam como saber se o que fizeram pode ser considerado pecado. Existe uma regrinha de ouro que poderá nos ajudar de modo muito prático, a começarmos a responder a essa e a outras perguntas: de um modo geral, todas as vezes que ferimos o preceito do amor, poderemos considerar que pecamos.

No entanto, para que algo seja considerado pecado são necessárias duas condições fundamentais e inseparáveis: a liberdade e a consciência. Se uma dessas condições faltarem na situação analisada, podemos afirmar que não ali não existe o pecado ou sua gravidade foi em muito diminuída... Vamos, rapidamente, analisar estas duas condições?

A liberdade

Definir o que é liberdade não é muito fácil. Costuma ser um desafio para os grandes filósofos e pensadores. Porém, para que tenhamos uma idéia mínima sobre o assunto, podemos dizer que ela seja um dom precioso de Deus pelo qual somos aptos a praticar atos deliberados, ou seja, a decidir e escolher por conta própria.

Todo o pecado possui em sua raiz o uso da liberdade. Por isso dizemos que nada pode levar o homem a pecar se ele realmente não o quiser. Existem coisas que podem influenciá-lo, mas jamais obrigá-lo a pecar. E por que podemos dizer que sem liberdade não há pecado? Porque ninguém que tenha feito algo à força pode ser considerado culpado.

A consciência

Eis outro termo muito difícil de definir. Aqui, nós estamos utilizando-o apenas no sentido de ter conhecimento da gravidade do fato. Que quer dizer isso? Significa afirmar que um fato só pode ser considerado pecado quando aquele que o cometeu tem consciência (ou seja, conhece) a gravidade do erro cometido. E por que podemos dizer que sem conhecimento da gravidade não há pecado? Porque ninguém que tenha feito algo sem saber que era errado pode ser considerado culpado.

Mas atenção aqui! Existem algumas normas que, por sua natureza, tem o dever de ser conhecidas, cuja violação não admite a desculpa da falta de conhecimento delas. Vamos dar exemplos? O primeiro que lhe apresento é um tanto forte, mas creio que explique bem o que queremos dizer: ninguém pode alegar que não é culpado por ter matado alguém simplesmente pelo fato de que não sabia ou nunca lhe disseram que isso fosse um grave erro! Outro exemplo mais corriqueiro: não posso dizer que não tenho culpa por infringir alguma lei civil que não tinha conhecimento (note bem: todo cidadão tem o dever de conhecer as leis que regem a sociedade!).

Bem, encerramos a postagem de hoje, alertando que não se trata de ficarmos durante todo o dia tentando, em cada mínima coisa que fazemos, descobrir se agimos livremente e com real conhecimento da gravidade dos fatos. Aquilo que procuramos aprender aqui quer apenas nos ajudar a compreender como agimos e quando acabamos pecando. No dia-a-dia, continua valendo aquela regrinha de ouro: jamais ferir o preceito do amor! A pergunta que devemos nos fazer todos os dias é: estou sendo fiel à minha resposta de amor ao amor de Deus em todas as suas manifestações?

Ficamos por aqui. A gente se vê amanhã!

Deus abençoe sua vida!

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

domingo, 15 de junho de 2008

11º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2008

Evangelho (Mateus 9,36 –10,8)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, 36vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse a seus discípulos: 37”A Messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38Pedi pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” 10,1 Jesus chamou os doze discípulos e deu-lhes poder para expulsarem os espíritos maus e para curarem todo tipo de doença e enfermidade. 2 Estes são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e seu Irmão João; 3 Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; 4 Simão, o Zelota, e Judas Iscariotes, que foi o traidor de Jesus. 5 Jesus enviou estes Doze, com as seguintes recomendações: "Não deveis ir aonde moram os pagãos, nem entrar nas cidades dos samaritanos! 6 Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! Em vosso caminho, anunciai: 'O Reino dos Céus está próximo'. 8 Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar!"

— Palavra da Salvação.
— Glória a Vós, Senhor.


É muito bom observarmos qual o caminho que o Senhor tem feito conosco, pela liturgia dominical, desde que, depois do Tempo Pascal, entramos novamente no Tempo Comum. Se formos atentos, veremos que Ele vem formando em nós um coração de discípulos. Estamos numa verdadeira escola de discipulado! No 8º Domingo do Tempo Comum, primeiro depois dessa retomada após a Páscoa, ele nos exortou a buscarmos em primeiro lugar o Reino de Deus que o demais nos será dado por conseqüência. Quando celebramos o 9º Domingo, ouvimos do Senhor que era preciso construir nossa vida de discípulos a partir dele, ouvindo sua palavra e a colocando em prática. No domingo passado, Ele nos advertiu que de nada adianta observarmos seus mandamentos se não o fizermos por amor, já que o Senhor quer de nós misericórdia e não sacrifício.

Acompanhar o caminho que Ele tem nos levado a percorrer, nos leva a compreender o sentido de nossa caminhada dentro da Igreja: estamos sendo formados por Ele. Posso dizer sem medo de errar: o Senhor está investindo em nós, está investindo em você, meu amigo! E por que, para que? São essas pergunta que Ele deseja responder nesse 11º Domingo do Tempo Comum.

Cansados e abatidos como ovelhas que não tem pastor

Eis o por quê o Senhor esta investindo em nós, formando dentro de nós um coração de discípulos. Naquele tempo, Jesus olhava para o povo e percebia que estavam cansados e abatidos como ovelhas sem pastor, sem alguém que cuide delas. Observe que a situação dos nossos dias não é diferente... Quanta gente cansada e abatida pelas lutas da vida, pensando em desistir porque já não encontra força ou sentido para continuar? Quantos afastados de Deus e de sua Igreja que já desistiram de procurá-lo porque não encontram quem o anuncie? Quantos os que ainda se encontram dentro de sua Igreja, mas não conseguem abrir os olhos e o coração porque aquilo que escutam não tem sido capaz de transformar-lhes o coração que já se endureceu?

É olhando para tudo isso que o Senhor nos convida a pedir que o Pai envie mais pastores para cuidar de um povo abatido e cansado. Mas também para isso, o Senhor está investindo em você! Sim, em você mesmo! Existem lugares onde o padre ou o religioso consagrado não pode chegar, mas você sim! Existem pessoas que há muito tempo já não têm contato algum com padres ou religiosos consagrados, mas se encontram todos os dias com você! Já pensou nisso? Já procurou compreender que em muitas ocasiões o Senhor conta apenas com você, com sua palavra e seu testemunho? É por causa disso tudo que Ele está formando um coração de discípulo dentro de seu peito... E mais! Um verdadeiro discípulo faz novos discípulos! Há muita gente com grande potencial para anunciar o Senhor, mas que sequer o conhecem ainda... O despertar de muita gente depende do nosso anúncio, do nosso testemunho, do nosso discipulado. Não podemos ficar parados! Precisamos ser criativos no lugar onde o Senhor nos coloca (empresas, escolas, faculdades, igrejas, entre os amigos do bairro, dentro do ônibus ou no metrô entre os desconhecidos...) para saber fazer chegar sua boa notícia a todos!

Depois de compreendermos o por quê o Senhor nos está formando discípulos seus, resta-nos perguntar para que. Então: para que é mesmo?

Jesus chamou os doze e deu-lhes poder

Isso mesmo... A resposta ao para que é para nos dar poder. Mas calma aí! Esse poder não tem o significado que geralmente atribuímos a essa palavra. Qual é seu significado então? Bem, quem recebe poder da parte de alguém, recebe a autorização de falar e agir em nome dele. Eis o poder que Deus confere a seus discípulos. Ele forma em nós um coração de discípulos para nos enviar em seu nome aos cansados e abatidos!

Importante frisarmos a expressão "em seu nome"! Nós não vamos em nosso nome, levando nossas idéias ou mesmo "nosso jeito" de compreender. Não! Nós vamos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, levando uma boa notícia que não é nossa, mas de Deus, do jeito que Ele deseja que seja comunicada! Somos discípulos dele! É claro que, nos mantendo fiéis ao conteúdo da boa notícia, podemos ser criativos na forma. Eu me explico: eu, por exemplo, não sei se saberia falar dessas coisas para um grupo de skatistas. Primeiro que eu não pratico esse esporte e acabo não me encontrando com eles, depois porque entre eles existe um tipo de linguagem que só entende quem está com eles. Pois bem! O Senhor quer skatistas entre os seus discípulos. Você que é skatista já sabe qual sua missão como cristão em meio aos seus amigos! E assim por diante...

A liturgia desse domingo nos apresenta o grupo de apóstolos como modelo de fé e ação. De fato, nossa Igreja se diz apostólica por causa disso: está embasada no ensinamento dos apóstolos e possui em seus pastores (os bispos) seus legítimos sucessores. Portanto, todo o nosso serviço de evangelização (mesmo o menor deles) nós o fazemos em comunhão com os nossos pastores. É a Igreja inteira, em comunhão com seus pastores, em missão pelos "quatro cantos" do mundo!

Bem... Você já viu que eu gosto de escrever, não é mesmo? (rs) Haja visto o tamanho das postagens! Por isso não poderia terminar essa reflexão sem fazer mais uma pergunta (hehe). Já vimos o por quê, o para que o Senhor forma em nós um coração de discípulos. Se entendemos isso, temos que nos perguntar o 'como' faremos isso. Vamos lá?

Anunciai: O Reino dos Céus está próximo

Eis a mensagem central daquilo que devemos testemunhar com nossa vida. A palavra ´'próximo' nesse contexto significa que o Reino está no meio de nós, está ao nosso alcance! Quanta gente precisa descobrir essa verdade...! E somos nós, que fazemos a experiência do Reino, que temos que anunciá-la!

De fato, há muita gente que não consegue mais perceber a novidade de Deus presente no dia-a-dia de sua vida. Não sentem mais sua presença amiga e, por isso, perderam o sentido da vida. Daqui que posso compreender porque tanta gente quando questionada como vai a vida, responde com um "empurrando com a barriga"... Meu Deus! Não há maneira mais sem graça de viver que essa: "empurrando com a barriga". Não! Somos chamados a experimentar Deus presente junto de nós, devolvendo-nos o sentido da vida e o gosto de viver! Por isso esse é o ponto central de nossa mensagem: o Senhor está no meio de nós, está ao nosso alcance!

É interessante esse "está ao nosso alcance"... Se está ao nosso alcance, por que então Ele não nos alcança? Porque falta uma parte fundamental nessa relação: a nossa. Precisamos nos decidir por ele, buscá-lo, dar nosso passo em direção a Ele! É para isso que precisamos fazer com que muitos corações despertem: "Buscar-me-eis e me encontrareis; procurar-me-eis do fundo do coração e eu me deixarei encontrar por vós - diz o Senhor" (Jeremias 29, 13-14a).

E os sinais que acompanharão esse nosso anúncio de vida eterna são estes: expulsaremos espíritos maus, curaremos todo tipo de doença e enfermidade, ressuscitaremos os mortos, purificaremos os leprosos etc. Tudo isso para dizer que seremos portadores de vida, vida plena, vida de Deus ao coração de muitos!

Meu caro amigo, esse convite é irrecusável!
Olhe a seu redor nesse instante... Certamente você já poderá ver por onde começar!
Tá esperando o que?! Eu aceito o convite e topo o desafio! E você?

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

sábado, 14 de junho de 2008

O pecado - Parte 2



Depois de uma semana, retomamos nosso caminho de reflexão sobre o pecado. Recordo-me que terminamos nossa primeira postagem sobre o assunto colocando-nos em diálogo com o Senhor. Nós lhe pedimos a graça de nos libertar de todo e qualquer medo de Deus, de acolher e experimentar seu imenso amor e de reconhecer que pecamos, ou seja, o desprezamos, faltando com a nossa necessária resposta ao amor de Deus por nós. Podemos agora, creio, dar um passo avante em nossa reflexão.

Afinal, por que pecamos?

À medida em que procuramos responder ao amor de Deus, vamos sentindo a necessidade de dizer não ao pecado. Porém, experimentamos que isso não é tão fácil assim. Talvez você já tenha percebido que não basta dizer não ao pecado para que não sinta mais vontade de cometê-lo. A primeira percepção daquele que se decide por lutar contra o pecado na própria vida é de que isso exige um esforço contínuo de vigilância sobre si mesmo. E por que? Porque todo ser humano traz consigo uma inclinação natural ao pecado com a qual terá que travar uma luta constante.

Interessante que essa experiência que fazemos coincide com aquilo que Deus nos revelou sobre o pecado. O relato da história de Adão e Eva no paraíso (cf. Gn 3) procura, de modo figurado, nos explicar uma verdade de fé fundamental: Deus fez o ser humano bom, mas ele se deixou seduzir pelo Mal e, por isso, perdeu a graça da santidade original. A Escritura também descreve as conseqüências dramáticas deste primeiro pecado (cf. Gn 4). A esse primeiro pecado, nós o denominamos como "pecado original". Se por iniciativa de Deus, o ser humano vivia na graça da santidade original, pelo uso de sua própria liberdade, o mesmo ser humano cometeu o pecado original que, outra coisa não é, senão a recusa da graça de Deus.

As figuras de Adão e Eva representam, na verdade, todo o gênero humano. O pecado por eles cometido diz respeito a toda a natureza humana. Isso significa dizer que pelo fato de sermos humanos, somos atingidos profundamente por esse pecado. O pecado original, portanto, é o único que não o cometemos por livre e espontânea vontade, mas o herdamos por natureza, nascemos atingidos por ele.

Porém, quando somos batizados, pela graça de Cristo nos tornamos uma nova criatura. A graça que experimentamos no batismo apaga o pecado original e nos faz voltar à comunhão com Deus. No entanto, as conseqüências de tal pecado permanecem em nós. Mas como assim? É como quando cometemos qualquer outro pecado e somos perdoados; o perdão apaga a culpa que tínhamos, mas as conseqüências dela permanecem. Assim, se você, por exemplo, ofendeu gravemente alguém e se arrependeu, Deus absolve a sua culpa, mas a ofensa a tal pessoa está feita, deverá ser reparada por você... Da mesma forma acontece com o pecado original: ele é apagado pela graça de Cristo recebida no batismo, mas suas conseqüências permanecem em nós. Tais conseqüências se refletem na inclinação para o mal que experimentamos dentro de nós.

Ah, agora as coisas vão ficando mais claras! Essa inclinação para o pecado que todos nós trazemos dentro de nós é a conseqüência do pecado original? Exatamente! É por isso que nos sentimos muitas vezes divididos entre o bem e o mal, queremos o bem, nos sentimos inclinados ao mal: é a força dessa inclinação agindo em nós. E é justamente contra ela que nós devemos lutar se quisermos vencer a batalha contra o pecado. Lutar contra essa inclinação é atacar o pecado em sua raíz...

Mas, para concluir, precisamos responder à pergunta inicial: "por que pecamos?" Pois então. Só essa inclinação não é capaz de nos fazer pecar, ela é apenas uma tendência, uma propensão. Nós pecamos porque não resistimos a ela e acabamos, livre e conscientemente, optando pelo mal. O pecado, resumindo, é sempre uma ação livre e consciente, ou seja, pecamos por opção mesmo...

Bem, imagino que você esteja se fazendo outras perguntas. Mas por hoje é só, já temos bastante coisa para refletir... A gente se vê na segunda-feira, por aqui.

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

domingo, 8 de junho de 2008

10º Domingo Tempo Comum - Ano A - 2008

Evangelho (Mateus 9, 9-13)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, 9 partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: "Segue-me!" Ele se levantou e seguiu a Jesus. 10 Enquanto Jesus estava à mesa, em casa de Mateus, vieram muitos cobradores de impostos e pecadores e sentaram-se à mesa com Jesus e seus discípulos. 11 Alguns fariseus viram isso e perguntaram aos discípulos: "Por que vosso Mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?" 12 Jesus ouviu a pergunta e respondeu: "Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. 13 Aprendei, pois, o que significa: 'Quero misericórdia e não sacrifício'. De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores".

—Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor!



Nós que temos a grande graça de participar, senão diariamente, ao menos todos os domingos da Santa Missa, corremos ao mesmo tempo, um grande perigo, se não compreendemos qual o sentido dessa nossa participação. Muitas pessoas, por exemplo, acabam caindo num ritualismo estéril, ou seja, acreditam que agradam a Deus simplesmente pelo fato de "cumprirem um dever". E não só... Algumas se julgam melhores que as outras justamente por isso, considerando como "perdidos" àqueles que não vivem a mesma observância...

Talvez você esteja achando estranho o modo como comecei a reflexão desse 10º Domingo do Tempo Comum. Não estou dizendo que não é importante e necessário cumprir nossos "deveres" religiosos. Estou afirmando que se não compreendermos o real sentido do que fazemos, corremos um sério risco de "trocar os pés pelas mãos". Estou explicando que o cumprimento de preceitos não garante a salvação a ninguém, nem nos faz ser melhores que os outros, já que o próprio Senhor nos adverte quando diz que "nem todo o que me diz 'Senhor, Senhor' entrará no Reino dos Céus"

Para compreender melhor a força das palavras do Evangelho que acabamos de ler, é necessário recordar que a figura dos coletores de impostos era muito ligada a dos ladrões, pessoas sem nenhum escrúpulo que, em nome dos romanos, roubavam e enganavam a muitos. Essa categoria de pessoas e a dos pecadores públicos eram objetos de grande desprezo da parte de todos, justamente porque eram considerados impuros.

Jesus parece chocar os "observantes dos preceitos da lei" quando convida o conhecido cobrador de impostos para segui-lo... Mas não só, pois choca também quando se coloca à mesa com toda a sorte de pecadores! Aqui é necessária uma outra explicação: no mundo oriental, sobretudo na Palestina, a refeição era um momento de alta intimidade entre as pessoas; ao aceitar o convite de um pecador, ou seja, de alguém absolutamente impuro, Jesus infringia diretamente os preceitos das leis rabínicas. Por esse motivo os fariseus se colocam contra ele de modo tão incisivo.

Se você tem acompanhado as outras postagens do blog, sobretudo as últimas sobre a misericórdia e o perdão, sabe bem que os fariseus eram estritos observantes da lei e, pensavam alcançar dessa forma, a salvação. Para eles, salvos eram os puros, ou seja, aqueles que guardavam a pureza dos ritos prescritos. Para manterem-se puros, portanto, era necessário afastar-se daqueles que não o eram. Não havia outra saída a não ser a segregação...

É nesse contexto que Jesus lhes diz: "quero misericórdia e não sacrifício", citando Oséias 6,6. Por isso, hoje, nós também precisamos estar atentos sobre quantas vezes colocamos o "preceito" acima da prática do amor e do perdão. Volto a afirmar que Jesus em momento algum está dizendo que os preceitos não são importantes e não devam ser cumpridos, porém ensina que eles são estéreis se não estão a serviço do amor.

Isso vale tanto para o julgamento que infelizmente fazemos dos outros, mas também para o auto-julgamento. Não são poucas as pessoas que buscam cumprir todos os preceitos por medo ou movidas por outra motivação que não o amor como resposta ao amor de Deus que nos ama primeiro. A essas pessoas, não posso concluir essa postagem sem lhes dizer que Deus sabe que não seremos perfeitos da noite para o dia e, exatamente por isso, tem paciência conosco. Que coisa Deus, então, pede de nós? Que sejamos constantes em nossa resposta de amor. Aí sim... Quando entendermos nossa prática religiosa como resposta de amor, poderemos ser fiéis a ela, atentos observantes do preceito do amor. E só assim aprenderemos a não julgar aqueles que ainda não conseguiram compreender isso... Seremos pacientes com eles assim como Deus o é com a gente...

Peçamos a Deus a graça a Deus redescobrirmos o sentido de toda a nossa vivência religiosa: resposta de amor ao amor que de Deus experimentamos. Dessa forma, nossas orações pessoais, nossos rosários, nossas meditações bíblicas, nossas confissões, nossas missas, mesmo nossos atos de caridade para com o próximo, enfim, toda a nossa prática religiosa, terá um novo sabor, terá um gosto de amor a Deus vivido de verdade!

Boa semana a todos!

Com afeto salesiano

P. Mauricio Miranda.

sábado, 7 de junho de 2008

O pecado - Parte 1




Dedicar várias postagens ao tema do pecado é, sem dúvida alguma, um ato de coragem. Sabe por que? Porque não creio que exista uma palavra mais fora de moda do que esta, hoje em dia... Imagine você alguém entrando pela primeira vez nesse blog e avistando, logo de cara, a primeira postagem com o título "O pecado". É bem provável que não tenha nem vontade de ler pensando que se trata de uma lista de proibições e condenações do tipo "não faça isso que Deus castiga..." No caso de um blog assinado por um padre, pode ser que a coisa só complica mais... rs

O fato é que as pessoas, em geral, perderam a real noção do pecado e de seu alcance, preferindo viver como se ele não existisse ou distorcendo completamente o seu sentido. Assim, encontramos, de um lado, aqueles que pregam a filosofia do "libera geral" que, de livre - digamos a verdade - não tem nada. E, do outro lado, estão aqueles que distorcem o significado da palavra, acreditando ser possível provar "o doce sabor do pecado"; a julgar pelo modo como acabam vivendo, parece que estão sempre com indigestão...

Tentaremos resgatar, aqui, o sentido dessa palavra. Não lhe peço que acredite imediatamente nas coisas que verá escritas aqui, mas procure lê-las com atenção, refletir com o coração e tirar suas próprias conclusões. Bem, mais uma coisa não posso esconder de você... Você não está sozinho diante do computador. Tem um grande Amigo (cf. João 15,15) que lhe acompanha nessa leitura. Se ao longo dela, você perceber que Ele lhe sopra algumas palavras "ao pé do ouvido", pare imediatamente e procure escutá-lo, está bem? Então, vamos lá!

Por que depois de tantas postagens sobre a Misericórdia, começamos a falar do pecado? É que ambos os assuntos estão intimamente ligados um ao outro. Falar de um é necessariamente tratar de outro. Espero que com essas postagens de agora, você consiga compreender o por quê!

Mas o que é o pecado?

Não é possível responder a essa pergunta sem que antes tenhamos feito uma real experiência do amor de Deus. Por isso muitas pregações que fazemos não alcançam o resultado desejado. Começamos pelo lado errado! Queremos que as pessoas entendam o que é o pecado sem antes levá-las a descobrir a maior e mais bela verdade de nossas vidas: todos somos amados por Deus!

Evangelho significa "boa notícia de Deus". Não podemos nos esquecer que somos portadores de uma grande e alegre novidade da parte de Deus à vida das pessoas. A primeira coisa da qual Deus deseja nos convencer não é que somos pecadores, mas sim, que somos seus filhos amados. Fazer a experiência desse amor é fundamental! Permitir que esse amor nos devolva o sentido da nossa vida é o único e grande querer de Deus!

E sabe por que? Porque quanto mais experimentamos o amor de Deus, mais vamos sentindo a necessidade de amá-lo também. Não há outra forma de corresponder a tanto amor senão amando-o também! É, então, quando descobrimos que "amor com amor se paga" e, enfim, procuramos transformar tudo o que somos e vivemos numa grande resposta de amor!

A partir disso, podemos definir o pecado como sendo o ato pelo qual nos negamos a responder ao amor de Deus por nós. Como vimos, "Deus é Amor" (I Jo 4,8) e, portanto, toda a falta de amor é, em si, um desprezo à pessoa de Deus.

Isso, além de triste, é extremamente grave! Quando digo extremamente grave, minha intenção não é lhe deixar com medo porque Deus não quer que tenhamos medo dele, mas a gravidade está no fato de que estamos sendo profundamente mal-agradecidos a um amor totalmente gratuito... Como podemos continuar querendo agir assim?!

De fato, quando deseja nos convencer do pecado, Deus introduz o medo em nosso coração, pois quem ama não pode sentir medo. Compreender o pecado como uma imensa falta de amor a Deus significa reconhecer que temos sido extremamente ingratos, com uma ingratidão que fere o coração de Deus e também o nosso...

Por isso lhe convido a dar um primeiro passo de libertação! Isso mesmo! Convido-lhe a libertar-se do medo de Deus, do medo de ir para o inferno, do medo de ser castigado, enfim, de todo e qualquer medo que tenhamos de Deus ou das coisas que se referem a Ele. Definitivamente, Deus não quer que tenhamos medo! O que nos leva a nos decidir por não mais pecar não é o medo que sintamos, mas a convicção de que o pecado é uma ofensa grave ao amor de Deus por nós.
"No amor não há temor,
pois o amor perfeito joga fora o temor porque o temor implica castigo
e quem teme não é perfeito no amor.
Nós, porém,
amamos porque Ele nos amou primeiro."
(I Jo 4,18-19).

Quero concluir essa postagem de hoje, sugerindo que você reflita um pouco sobre sua falta de amor. Todos nós pecamos. "Se dissermos: 'Não temos pecado', enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. Mas ao contrário, se confessamos os nossos pecados, Ele que é fiel e justo, perdoará os nossos pecados e nos purificará de toda a injustiça" (I Jo 1,8-9).

Termine essa postagem fazendo uma breve oração com suas próprias palavras. Comece pedindo desculpas a Deus por não responder como deveria ao grande carinho que Ele tem por você. Se ainda sente medo dele, peça que o liberte disso e que dê a seu coração um renovado amor, um amor capaz de sacrificar-se, se preciso for, para nunca desprezá-lo, para nunca esquecer o grande e verdadeiro amor de sua vida: Deus.

Boa conversa com Ele...

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Deus de toda a misericórdia - Conclusão 2


Conforme prometido, concluímos essa série de postagens sobre a Misericórdia. Com essa "segunda" conclusão, foram ao todo, nove textos dedicados ao tema. Mesmo tendo ainda muito o que falar sobre o assunto, creio ter dito o mínimo suficiente para que tivéssemos alguns poucos elementos para refletir e orar. Hoje, por fim, analisaremos a segunda parte de toda a parábola do Pai Misericordioso, ou seja, os versículos 25 a 32 que, agora, exponho abaixo:

25 O Filho mais velho estava nos campos. Quando, ao voltar, se aproximou da casa, ouviu músicas e danças. 26 Chamando um dos servos, perguntou-lhe o que era aquilo. 27 Este lhe disse: 'É teu irmão que chegou e teu pai matou o bezerro gordo por tê-lo visto voltar bem de saúde'. 28 Então ele se encheu de cólera e não quis entrar. O pai saiu para pedir-lhe que entrasse; 29 mas ele disse ao seu pai: 'já faz tantos anos que eu te sirvo sem ter jamais desobedecido às tuas ordens; e, a mim, nunca deste um cabrito sequer para festejar com meus amigos. 30 Mas quando chegou esse teu filho que devorou teus bens com prostitutas, mataste o bezerro gordo para ele!' 31 Então o pai lhe disse: 'Meu filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. 32 Mas era preciso festejar e alegrar-se porque este teu irmão tinha morrido e está vivo; estava perdido e foi reencontrado'.

A cena, em si, nos parece clara: o irmão mais velho volta do trabalho no campo e, ao saber que o pai fazia festa ao irmão que havia retornado, se enche de cólera. Devo confessar uma coisa a vocês: sempre que leio esse trecho do evangelho, fico um pouco triste comigo mesmo porque minha primeira reação é a de dar plena razão ao irmão mais velho. É isso mesmo... A princípio, ela sempre me pareceu justa. Mas toda vez que leio, sempre acabo pedindo que Deus modifique meu coração que ainda não aprendeu o que realmente significa misericórdia...

A observação feita pelo irmão mais velho tem, a princípio, certa coerência. Ele, de fato, sempre trabalhou para seu pai e nunca havia recebido uma festa como aquela que agora via ser realizada para seu irmão que tinha - digamos a verdade - abandonado a casa e a família. Porém, a resposta que o pai lhe dá, nos ajuda a abrir também os nossos olhos... Vamos analisá-la melhor?

"Meu filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu, mas..."

Nessa resposta, em primeiro lugar o pai o reconhece como filho! E isso é muito importante! Reconhece também que ele sempre esteve ao seu lado e, exatamente por isso, declara que tudo o que é seu é dele também. Em nenhum momento, portanto, desmerece o próprio filho e a herança que, por direito, é dele. Em outras palavras, o pai proclama a justiça contida nos atos do próprio filho. Porém, assinala ao filho que lhe faltava o principal: a misericórdia! Era isso que tornava o coração daquele pai diferente do coração de todos!

É muito importante compreender as palavras de Jesus no contexto em que elas foram pronunciadas para que entendamos o sentido de toda a parábola. Recordem-se que Ele procurava responder à murmuração que partia dos fariseus, expressa em Lc 15, 2: "este homem dá boa acolhida aos pecadores e come com eles!" É por causa desse comentário que as três parábolas são incluídas ao longo desse capítulo do evangelho de Lucas. E o que de tão grave assim existe nesse tipo de comentário? Minimamente, podemos falar de intolerância e profunda crueldade...

Para entender melhor, precisamos nos perguntar sobre quem eram os fariseus. Fariseu (em hebraico, פרושים) era o nome dado a um grupo de judeus muito observantes da Torá, surgido no século II a.C. Com a destruição de Jerusalém (aproximadamente, 70 d.C.) e com a perda do poder por parte dos saduceus - de quem eram principais opositores - passaram a exercer grande influência no judaísmo de então. Tudo indica que fossem extremamente legalistas. A figura do irmão mais velho nessa parábola, tem por intenção, retratá-los. Notem que, na fala desse personagem, existe a seguinte expressão: "já faz tanto tempo que eu te sirvo sem ter jamais desobedecido às tuas ordens" (Lc 15, 29). Essa afirmação revela a confiança que os fariseus tinham de serem salvos pela estrita obediência à Lei. E, acreditem, isso não é um mal em si... Porém, a fala que condena o personagem e, que portanto, denuncia o público para o qual essa parábola se destinava, é essa: "mas quando chegou este teu filho..." Observem que com a expressão "este teu filho", o irmão mais velho se recusa a reconhecê-lo como irmão pelo simples fato de não ter sido fiel até o fim, como ele. Pois bem... Era exatamente assim que os fariseus agiam: não reconheciam os pecadores como filhos de Deus e, portanto, irmãos, simplesmente pelo fato de não conseguirem ser fiéis como eles imaginavam ser.

Meus amigos, precisamos admitir que em nossas comunidades e grupos, hoje em dia, costumamos agir muitas vezes assim... Quantas vezes nos julgamos melhores e mais dignos de reconhecimento que as outras pessoas! Por detrás de ações dessa natureza existem - verdade seja dita - intolerância e a mais cruel falta de misericórdia...

Com isso, Jesus não está dizendo que não vale a pena ser fiel até o fim. Pelo contrário, a fidelidade é tudo o que temos de buscar até o último minuto de nossa vida! Mas de nada adianta vivê-la se não formos movidos por amor... E por que? Porque Deus é amor e "amor com amor se paga". Uma fidelidade cega não leva a lugar nenhum...

Na verdade, meus amigos, se não há amor, não se pode falar de verdadeira fidelidade. Uma pessoa pode guardar todos os mandamentos e preceitos da Escritura, mas pode fazer por medo de Deus, por conveniência, por necessidade de ser reconhecida pelos outros, enfim, por tantos motivos internos. Essa atitude, no entanto, só será fidelidade quando for, em si, uma resposta de amor ao amor que de Deus recebemos!

É... Não sei como se sente o seu coração. O meu se sente pequenino... Sinto que preciso aprender, a cada dia, a amar de verdade. Ainda não sei o que é isso... Sinto que preciso ser fiel por amor e, com misericórdia, ajudar os meus irmãos a o serem também! É essa graça que tenho pedido a Deus.

Por falar nisso, sabem que quanto mais crescemos no amor, mais vamos aprendendo o que significa, de verdade, a palavra pecado? É, é isso mesmo! E aí está uma outra palavra, assim como misericórdia, tão distorcida ou, até mesmo, esquecida em nossos dias.

Acho que vale a pena dedicar algumas postagens a ela também (hehe). Querem me acompanhar mais um pouco? Se toparem o desafio, a partir de manhã tentaremos entender, com novos olhos, o que é o pecado e o que ele tem a ver com tudo o que descobrimos até agora. Humildemente, tenho a certeza de que o Deus de toda a misericórdia continuará "navegando" conosco por essa simples página da web...

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Deus de toda a misericórdia - Conclusão


Com essa postagem, a oitava, concluímos nosso caminho inicial em direção ao Deus de toda a misericórdia. Espero que, se não atrapalhado, os textos tenham ajudado os leitores a meditarem um pouco mais sobre aquilo que considero como o mais importante a ser entendido a respeito de Deus: "Deus é Amor" (1 Jo 4, 8).

Hoje, continuando nossa pequena reflexão sobre a Parábola do Filho Reencontrado, ou como prefiro chamá-la, do Pai Misericordioso, vamos nos deter em Lc 15, 20-32. Vamos, dessa vez, analisar trecho a trecho:

20 E voltou ao seu Pai. Ainda estava longe, quando o pai o avistou e foi tomado de compaixão: correu, lhe abraçou e o cobriu de beijos."

Creio que o versículo 20 seja, senão o mais importante, certamente o mais bonito de toda a parábola porque procura descrever a intensidade do amor do Pai. Descreve antes de tudo, a atitude fundamental do filho: ele voltou para a casa do Pai! Essa é a atitude que temos que tomar sempre: voltar para o Pai a cada vez que, infelizmente, nos afastarmos dele.

Mas o mais impressionante, como disse, é o modo como Jesus apresenta a reação do pai dessa história. Notem que o filho "ainda estava longe, quando o pai o avistou e foi tomado de compaixão". Permitam-me ser um pouco detalhista na minha reflexão porque, nesse trecho, cada palavra traz consigo um profundo significado.

Ainda estava longe quando o pai o avistou

Nesse trecho existe uma sutileza literária que, se lido apressadamente, pode ser que nos passe despercebida. Se o filho foi avistado pelo pai, mesmo estando ainda longe, é porque na verdade, o pai jamais deixou de olhar em sua direção. A cena procura descrever aquele pai que não retira os olhos da estrada pela qual o filho saiu, porque tem a profunda esperança de que ele a qualquer momento poderá voltar. É como quando esperamos ansiosamente por alguém e levantamos a cabeça para olhar ao longe para ver se a avistamos o quantos antes! Eis aqui uma primeira verdade da qual Jesus deseja nos convencer: Deus jamais se afasta de nós! Ainda que respeite as decisões que tomamos e que nos afastam dele, Ele jamais se afasta de nós! Como peço a Deus que me convença a cada dia mais disso! Precisamos estar profundamente convencidos dessa verdade: Deus nos ama, anseia por nos ter sempre ao seu lado, respeita nossas decisões que nos afastam dele, mas deseja ardentemente que retornemos!

Foi tomado por compaixão

Como é forte essa expressão! O pai sentiu compaixão pelo filho que, mesmo estando longe, estava retornando. Como vimos nas primeiras postagens, compaixão não é a mesma coisa que "ter dó", mas é muito mais; significa aproximar o coração de tal forma do da outra pessoa que se consegue "sentir com os mesmos sentimentos" dela. É, de fato, uma aproximação tão grande de corações que aquele que sente compaixão, sabe exatamente o que se passa no coração do outro e, exatamente por isso, não o incrimina, mas o acolhe sem restrição. É isso que Deus sente por nós: verdadeira compaixão! É incapaz de nos incriminar... Entende as nossas motivações mais profundas. Sabe que erramos, porém compreende o por quê...

Mas a expressão é mais forte ainda... Ele não só sentiu compaixão, mas foi verdadeiramente "tomado" por ela. Ser "tomado" por algum sentimento, implica estar inteiramente entregue a ele... Em outras palavras, Jesus quer dizer que o pai não sentia apenas compaixão, mas era a própria compaixão! Louvado seja Deus por isso! É por isso mesmo que disse nas postagens anteriores que Deus não era apenas misericordioso, mas que era a própria misericórdia!

Correu-lhe, o abraçou e o cobriu de beijos

Quanta delicadeza da parte de Jesus! Quanto detalhe para falar do Pai! É interessante compreendermos que para o público que escutava Jesus no momento em que contava essa parábola, essa pressa era uma atitude estranha! Jesus parece querer chocar mesmo... Era tomado de compaixão de uma tal forma que não se continha, saiu correndo ao encontro do filho... Era o filho que deveria correr ao encontro do pai, mas ele é surpreendido quando vê o pai correndo ao seu encontro! Meu Deus do céu! Como precisamos entender isso...

Mas Jesus ainda continua: "o abraçou e o cobriu de beijos". O abraço do pai é sinal de total acolhida. Imagine aqui aquele abraço que é capaz de envolver a pessoa, que chega a retirá-la do chão como um pai faz com seu filho pequenino... É assim que aquele pai abraçou seu filho! É assim que Deus nos abraça!

E os beijos? Os beijos são sinais do perdão concedido! Mas vejam! O filho não pediu perdão ainda! Sim, pois é... O pai não lhe deixou falar, já foi logo lhe acolhendo e lhe perdoando! E por que? Ah... Veja como a Palavra de Deus vai se explicando por si mesma: porque ele estava tomado de compaixão; não era preciso dizer nada porque o pai já sabia de tudo o que se passava em seu coração... Meus amigos, é assim que Deus nos perdoa! Observem que se os beijos são sinais de perdão, nessa cena havia um perdão sem limites: o pai o cobriu de beijos! Não eram apenas alguns beijos, não! Ele estava sendo coberto de carinhos e beijos! Jesus exagerou na descrição?! Não, claro que não... É exatamente assim que Deus nos perdoa...

21 O filho lhe disse: 'Pai, pequei contra o céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho...' 22 Mas o pai disse aos seus servos: 'Depressa, trazei a mais bela roupa e vesti-o; ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. 23 Trazei o bezerro cevado, matai-o, comamos e festejamos, pois este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reecontrado' E eles se puseram a festejar.

Muito interessante o versículo 21! Várias traduções ajuntam a esse versículo o trecho "trata-me como a um dos teus empregados", já que era assim que o filho havia prometido dizer ao pai (cf. Lc 15, 19). Mas o texto breve, mais provavelmente correto, ressalta a pressa do pai e o fato de que a sua acolhida impede o filho de chegar ao fim de sua humilhação...

E, imediatamente, o pai lhe reveste de roupa nova, anel no dedo e sandália aos pés. Cada um desses componentes traz consigo um profundo significado. Colocar uma roupa nova significa revestir-se de uma nova vida, recomeçar; o anel é o símbolo da autoridade que lhe é devolvida; as sandálias faziam parte do traje do homem livre em oposição ao modo como andavam os escravos (implica pois, libertação!) Em suma, meus amigos, o pai devolve ao filho a dignidade que ele havia perdido! É preciso dizer mais alguma coisa?!...

Mas não só isso! De fato, Deus não se deixa vencer em generosidade... O pai da parábola ainda dá como que um veredicto, proclama "oficialmente" a razão de toda a festa: "este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado".

Bem, creio que eu deva parar por aqui... Essa postagem já ficou grande demais! Nem sei se vocês terão a paciência de ler tudo isso... Desculpem-me, mas falar da misericórdia de Deus realmente me empolga e acabo não encontrando as palavras justas para tentar dizer tudo o que vai dentro do coração...

Dividimos todo esse trecho da parábola em dois para facilitar nossa reflexão, mas na verdade, analisando conjuntamente, tudo o que refletimos compõe a primeira parte dela. A segunda parte começa no versículo 25 e se estende ao 32. Precisaremos de mais uma postagem para falar desses versículos (uma espécie de conclusão - Parte 2... rs). Posso escrever mais amanhã? (hehe). É que seria uma pena se não fôssemos até o fim, já que é com essa parte da história que Jesus realmente responde à pergunta dos fariseus, formulada em Lc 15, 1-2.

Se não se importarem, nos encontramos amanhã...

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Deus de toda a misericórdia - Parte 7


Começo essa postagem pedindo desculpas por não ter atualizado o blog no dia de ontem. Não consegui sair do meio dos livros em preparação para os exames desse semestre. Mas hoje, retomo o caminho simples que temos feito em direção ao Deus de toda a misericórdia.

Dedicaremos dois dias para fixarmos nossa atenção na, talvez, mais bela das parábolas de Jesus. Antes de entrar no blog, li com atenção versículo por versículo dela. Confesso que me senti muito pequeno e incapaz de transmitir a riqueza de seu conteúdo. No entanto, sei que Deus possui seus próprios caminhos; tudo o que procuro fazer aqui é dar um primeiro passo, a Graça fará todo o percurso. Esse meio tecnológico da internet me dá a esperança de que, em algum lugar do mundo, alguém que entenda o português estará fazendo a experiência da misericórdia de Deus por meio dessas poucas palavras.

Aliás, recentemente, conversava com uma amiga minha que me contava um história verídica que muito me impressionou. Ela tem uma amiga brasileira que mora nos Estados Unidos e é casada com um soldado norte-americano que participou de uma dessas atividades de guerra no Oriente Médio. Um dia, essa sua amiga, se dirigindo ao banheiro para tomar um banho, deixou aberta uma página da internet com vários vídeos de músicas católicas brasileiras. Quando voltou ao quarto, encontrou seu esposo em frente ao computador, chorando. Ao lhe questionar sobre o que havia acontecido, ele lhe perguntou que coisa cantava aquela pessoa naquele vídeo em português, pois mesmo sem compreender nenhuma palavra, aquela canção o havia feito sentir uma sensação de conforto tão grande que não resistiu e chorou. Pois bem, a música era uma invocação ao Espírito Santo. Bem, não é preciso comentar nada. Deus realmente tem seus próprios caminhos...

A Parábola do Filho Reencontrado

O texto de que trata Lc 15, 11-32 é mais conhecido como a parábola do filho pródigo. Aqui no blog, nós o chamamos de a parábola do filho reencontrado, pois é esse o termo que temos usado para nossas reflexões (ovelha reencontrada e moedas reencontradas...). De fato, entre pródigo e reencontrado há uma diferença: o segundo possui um significado mais otimista, procurando valorizar o fato de que, nós, filhos de Deus, fomos reencontrados por Ele! Porém, creio que o nome mais fiel à mensagem central dessa parábola seja o de a "Parábola do Pai Misericordioso". De fato, o centro de toda a parábola não é o que faz o filho, e sim, como reage o pai ao longo de toda a história.

Para melhor compreender esse texto, vamos nos ater, hoje, somente a uma primeira parte dele. Abaixo, eu o reescrevo para que você o tenha bem presente na memória e no coração:

11 Ele disse ainda: Um homem tinha dois filhos. 12 O mais jovem disse ao seu pai: 'Pai, dá-me a parte de bens que me cabe'. E o pai fez para eles a partilha dos seus bens. 13 Poucos dias depois, o filho mais jovem, tendo juntado o dinheiro, partiu para uma região longínqua e aí gastou todos os seus pertences numa vida desregrada. 14 E quando acabou de gastar tudo, uma grande fome sobreveio naquela região e ele começou a passar necessidade. 15 Foi pôr-se a serviço de um dos cidadãos desse país que o enviou para os seus campos para cuidar de porcos. 16 Ele bem que gostaria de saciar-se com o que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada. 17 Então, caindo em si, disse a si mesmo: 'Quantos empregados de meu pai têm pão de sobra, enquanto eu, aqui, morro de fome! 18 Vou voltar ao meu pai e lhe direi: 'Pai, pequei contra o céu e contra ti. 19 Já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados'. (Lucas 15, 11-19)

O Pai deve ocupar o centro de nossas vidas!

Note que a narração começa dizendo que "um homem tinha dois filhos". Como dissemos, o personagem central da parábola é a figura do pai. Comumente, a figura do filho mais jovem é sempre colocada em destaque até porque a mensagem desse texto é tão forte e marcante que rapidamente nos identificamos com esse jovem. Porém, parece que Jesus quis que a atenção de seu público ouvinte estivesse fixada na figura do pai, dadas aquelas circunstâncias do ambiente e das pessoas para quem ele falava, que tratamos na parte 5 dessas postagens.

Quem é o filho mais jovem?

Quem pede ao pai a parte dos bens que lhe cabe é o filho mais jovem. A idade do filho, nesse caso, não possui nenhuma dimensão cronológica, ao contrário, quer relatar muito mais um modo de comportar-se diante da vida. O jovem da parábola demonstra que possui predisposição de viver a vida (e isso não é mal!), porém pensa haver sabedoria suficiente para enfrentar sozinho tudo o que ela lhe reserva. Qunatas vezes nós não achamos que podemos tomar nossas decisões sozinhos e de que não precisamos do Pai (de Deus) para nos dizer o que é certo ou errado fazer. E esse tipo de comportamento independe da idade que temos; a independência, confundida com soberba e auto-suficiência pode se manifestar, infelizmente, mesmo nas pessoas já bem adultas...

O que é que o filho pede? O que é que a vida lhe retira?

Veja que o filho também não pede nada de absurdo ao pai. Ele pede simplesmente a parte que lhe cabe da herança. Pede, portanto, aquilo que é, por direito, seu! No entanto, o gesto de pedir a parte da herança significa o ato de retirar das mãos do pai o controle sobre sua vida. É aquele ato de um sentido de independência irresponsável que nos leva a nos afastarmos de Deus. Entenda, meu irmão e minha irmã, que em momento algum Jesus nos diz que o pai se afastou do filho. O ato de se afastar e de ir para uma "região longínqua" é sempre do filho. Em outras palavras, significa dizer que nós é quem, por nossas atitudes, escolhemos nos afastar de Deus. Deus, por sua vez, respeita sempre nossa decisão ("e o pai fez para eles a partilha dos seus bens"), mas jamais se afasta de nós um momento sequer!

A narração continua e lemos que nessa "região longínqua", o filho "gastou todos os seus pertences numa vida desregrada". Muito interessante essa descrição. Veja que é o tipo de vida que ele levava que lhe retirou toda a herança que trazia consigo. E que herança é essa? Bem, é a parte dos bens do Pai que lhe cabia. É a Graça, meus irmãos! Trata-se da graça de Deus derramada em nossos corações. Infelizmente, muitas vezes é o estilo de vida que escolhemos viver que nos impede viver em estado de graça. As escolhas que fazemos ao longo da vida, se feitas numa atitude absolutamente independente de Deus, retiram-nos a Graça que conosco carregamos. Somos filhos de Deus, porém muitas vezes, vivemos como se não o fôssemos... E é assim que o jovem da parábola se percebe: "quantos empregados de meu pai têm pão de sobra, enquanto eu, aqui, morro de fome".

Até onde o filho realmente chegou?

A figura que Jesus utiliza para descrever o estado em que se encontrava o filho depois de ter perdido a graça de Deus é, para os judeus que o escutavam, a mais forte que ele poderia escolher. Jesus fala que o filho foi trabalhar com os porcos. Para os judeus, isso significa o cúmulo da degradação de uma pessoa, pois o porco era considerado um animal impuro (cf. Dt 14,8) e, totalmente impuro era aquele que mantinha algum contato com eles. Porém, Jesus vai mais longe na descrição, pois diz que não somente trabalhava com os porcos, mas procurava comer o que lhes era dado como alimento! E, por fim, o máximo grau de degradação que uma pessoa poderia atingir. Há, ainda, mais um detalhe que não podemos deixar despercebido. Nós traduzimos a passagem por "Ele bem que gostaria de saciar-se com o que os porcos comiam". Na verdade, a palavra dos textos originais sugere que devamos traduzi-la não por "saciar-se", mas algo próximo a "encher a barriga". De qualque forma, o modo como o filho deseja comer não era humano, era tão "animal" quando a situação que ele vivia...

Só nessa imagem já encontramos uma bela razão para aqueles que se consideram indignos do amor de Deus, de reaverem no coração a certeza de que o Pai os ama profundamente. Ninguém de nós, por pior que seja, poderia chegar à semelhante situação descrita nessa parábola. Pessoa alguma chegou onde o jovem da parábola chegou, por mais "longe" que tenha ido...

Porém, o acento que Jesus quer dar, como veremos, não é na situação em que o jovem se encontra. Com muito maior riqueza de detalhes, ele descreverá a maneira como o Pai acolherá esse filho... Para nós, hoje, no entanto, basta saber que esse filho toma a decisão mais sensata que poderia tomar: retornar á casa do Pai. É bom compreender que a decisão de retornar é tão livre quanto a de ter saído de casa... Por isso temos insistido que a verdadeira mudança de vida parte de uma decisão do coração. Ninguém poderá fazer isso por nós! Nós temos que nos decidir a voltar para o Pai, todos os dias de nossa vida!

A decisão que o filho mais jovem toma é tão madura, tão concreta que ele mesmo admite não merecer mais ser chamado de "filho", ou seja, ele havia perdido essa dignidade, não se sentia mais filho. Era assim que ele pretendia se apresentar ao Pai! Pretendia, com toda a razão do mundo, pedir para ser tratado como um dos empregados da casa.

Hoje, paramos por aqui... Mas lhes convido a retomarem o texto mais uma vez e rezarem a partir dele. Não tenho dúvidas de que Deus deseja lhes falar, ao coração, aquilo que minha incapacidade não me permitiu dizer aqui.

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Deus de toda a misericórdia - Parte 6


Continuamos nosso exercício de fixar os olhos, a atenção e o coração no modo como Jesus procurava manifestar a misericórdia divina por toda a pessoa humana. É bom não perdemos de vista porque estamos trilhando esse caminho! É justamente para compreender o que Jesus continua querendo nos dizer hoje, já que ele "é o mesmo ontem hoje e sempre!" (Hb 13,8).

Na última postagem, refletimos sobre a parábola da ovelha reencontrada. Confesso que, eu mesmo, relendo a postagem, admiti que faltam tantos outros detalhes importantes para se compreender a grandeza daquele trecho. Porém, é assim mesmo... Jamais conseguiremos falar tudo a respeito da misericórdia de Deus: ela é infinita!

Prossigamos nosso caminho. Hoje, analisaremos a parábola seguinte (Lc 15, 8-10). Lembro-lhes que o fazemos em clima de profunda oração. Esse blog não quer ser apenas um canal de comunicação de idéias, ele quer levar vocês a falarem com Deus, a transformarem tudo que lêem em diálogo com o Senhor.

A parábola da moeda reencontrada

Essa pequeno trecho é posto pelo evangelista, logo depois da párobola da ovelha reencontrada. Ambas devem ser lidas num conjunto, já que querem tratar sobre o mesmo assunto. Mas se é o mesmo assunto, por que então duas parábolas? Pois bem... Deus não se deixa vencer em amor, não mede esforços para nos convencer disso. Está, nesse capítulo de Lucas, lançando mão de várias comparações para nos explicar com que intensidade nos ama, com que desejo nos quer junto dele, independente da nossa história e condição atual.

Por isso, para entendermos bem a parábola de hoje, devemos lê-la "em sintonia" com a de ontem. Vamos começar?

8 Ou ainda, qual a mulher que, tendo dez moedas de prata e vindo a perder uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura com cuidado até encontrá-la? 9 E quando a encontrou, ela reúne as suas amigas e vizinhas e lhes diz: 'Alegrai-vos comigo, pois reencontrei a moeda que tinha perdido!' 10 É assim, eu vos digo, que há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converta.
(Lc 15, 8-10)


Um aceno

Antes de entrarmos diretamente no texto, vale a pena fazermos um aceno ao tema do pecado que está sendo abordado tanto na parábola de ontem como na de hoje. Se notarmos bem, procurei abordar a misericórdia de Deus, ao menos até a parte 4, sem tocar no assunto do pecado, mas pecado e misericórdia estão intimamente ligados. Jesus, a plena manifestação da misericórdia do Pai, é "aquele que tira o pecado mundo" (João 1,29).

Infelizmente nós andamos perdendo a exata noção do pecado e de suas graves conseqüências na nossa vida e na de todos. A verdade é tão somente essa! Achamos que pecar não é tão grave assim. Em nossas conversas, nas músicas que escutamos, nos apelos das publicidades espalhadas por aí, muitas vezes ouvimos dizer no "gosto bom" que o pecado tem...

Embora seja um erro grave ignorar o pecado, podemos explicar o fato das pessoas, hoje em dia, chegarem a tal ponto de vista. No mundo e tempo em que vivemos, aquilo que não se pode ver, é como se não existisse. Não é assim que muitas pessoas dizem: "o que os olhos não vêem, o coração não sente"? Pois é. Mas isso é uma grande mentira... Isso é a perda do sentido espiritual da vida e, na verdade, perda do sentido de Deus...

Mas nós teremos a oportunidade, mais a frente, de refletirmos sobre o pecado. Quis, no entanto, fazer esse aceno aqui para que compreendêssemos qual a grandeza do apelo que Jesus nos faz por meio dessas duas parábolas.

Deus não quer que nenhum de nós se perca!

Na parábola anterior, era uma ovelha que tinha sido reencontrada. E qual não foi a alegria do pastor ao vê-la retornar ao rebanho! Na parábola de hoje é uma moeda de prata. A moeda corrente, no Império Romano de então, era o denário. Um denário equivalia, em média, ao salário de um dia de trabalho de um trabalhador. Isso significa dizer que um denário era tudo o que um trabalhador precisava para sobreviver ao longo de um dia. Para uma dona de casa que tinha apenas dez denários, a perda mesmo que seja de um só, é muito significativa!

Isso explica porque Jesus utiliza esse tipo de comparação para falar da relação que Deus estabelece conosco. Para o Senhor, nós temos um valor incomensurável. Ele não nos quer perder por nada, mesmo que seja apenas um de nós. Não é isso que lemos em Gen 18, 23-33 quando Deus garante a Abraão que, enquanto houvesse qualquer justo em Sodoma, a cidade não seria destruída? Não é com estas palavras que Jesus se dirige ao Pai, momentos antes de ser entregue aos judeus: "quando eu estava com eles, eu os guardava em teu nome que tu me deste; eu os protegi e nenhum deles se perdeu..." (Jo 17,12)? Caro amigo, se convença disso: Deus não quer perder você! Ele sabe de você! Para Deus, você não é mais um número em meio a tantos... Você é único, amado de modo particular por ele!

Compreender isso é fundamental! É justamente a respeito desse amor incondicional de Deus por você que Jesus deseja lhe convencer no dia de hoje! Não me canso de repetir porque Deus não cansa de se expressar assim: você é amado por Deus!

Quero aqui, fazer uma breve pausa, lhe convidando a rezar a partir dessa linda passagem do livro do Profeta Isaías. É mais uma vez, Deus manifestando seu amor a nós, de maneira que não reste qualquer dúvida de que somos realmente amados por Ele!

1 Mas agora, assim fala o Senhor que te criou, Jacó, que te formou, Israel: não tenhas medo, pois eu te resgatei, te chamei pelo nome, tu és meu. 2 Se passares pelo meio das águas, estarei contigo; se fores através dos rios, eles não te afogarão. Se caminhares pelo fogo, não serás queimado e a chama não te consumirá, 3 pois eu, o Senhor, eu sou o teu Deus, o Santo de Israel, teu Salvador. Eu dei o Egito em resgate por ti, Kush e Sebá em troca de ti, 4 porque és precioso aos meus olhos e eu te amo; dou, pois, homens em troca de ti, populações inteiras em troca da tua pessoa. (Isaías 43, 1-4)


A alegria do reencontro

O pastor de ovelhas se alegrou quando reencontrou aquela que que se tinha desgarrado. A dona de casa se alegrou, após procurar "com cuidado", por achar a moeda que se havia perdido. Observemos que só nessas duas parábolas, ao longo de sete versículos (Lc 15, 3-10), a palavra alegria aparece cinco vezes! De fato, Jesus quer dizer que há verdadeira alegria no coração de Deus quando nós nos decidimos por Ele, quando dia após dia, procuramos dizer não ao pecado por entendermos que o amor de Deus pode nos preencher de modo pleno!

Essa alegria que brota do reencontro com o Senhor terá a sua "explosão", ou seja, sua mais explícita manifestação com a próxima parábola, com a qual se encerra Lucas 15. A essa tão importante parábola, nós dedicaremos as nossas duas próximas postagens.

A gente se encontra amanhã!

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.