domingo, 1 de junho de 2008

Deus de toda Misericórdia - Parte 5


Uma diferença

Começamos esse quarto passo com uma mudança necessária. Até a parte 3, nossas postagens eram intituladas como "Misericórdia de Deus", já que até então, a misericórdia estava sendo entendida como um atributo de Deus, ou seja, uma qualidade dele. Mas esta não nos parece ser a forma mais própria para tratarmos do assunto. Isso porque se a misericórdia é uma qualidade, podemos aplicá-la a qualquer pessoa da mesma forma que a aplicamos a Deus. Assim então, como podemos dizer que Deus é misericordioso, também podemos afirmar que Maria e João, por exemplo, também o são do mesmo jeito. E isso não é bem verdade...

Em outras palavras, ao invés de dizermos que Deus age com misericórdia, o melhor é afirmarmos que Ele é a própria misericórdia em ação. Só aprendemos o que é agir com misericórdia, quando fazemos a experiência dela, quando fazemos a experiência de Deus. O mais certo, então, nos parece dizer que não estamos falando da "misericórdia de Deus", e sim, do Deus de toda a misericórdia.

No entanto, gostaria que você respondesse essa questão: no fundo, essa diferença faz diferença? Eu penso que muita. E você?

A Parábola da ovelha reencontrada

Como havíamos dito, estamos procurando fixar nossos olhos em Jesus (cf. Hb 12,2). Ele é a plena manifestação da Misericórdia. Combinamos que dedicaremos essas próximas quatro postagens para a leitura do capítulo 15 do Evangelho de Lucas. Hoje, portanto, vamos analisar a parábola da ovelha reencontrada (Lc 15, 3-8).

Todo o Evangelho de Lucas pode ser chamado de o Evangelho da Misericórdia, pois procura mostrar Jesus como o Filho de Deus, Salvador de todos os homens, particularmente atento aos pequenos, aos pecadores e aos pagãos. O evangelista apresenta Jesus como Mestre de vida, com todas as suas exigências, mas também com o seu acolhimento e a sua graça. De modo especial, o capítulo 15 desse Evangelho é uma concreta obra de misericórdia. Nele, Jesus conta três parábolas que procuram deixar do modo mais claro possível a grande verdade da qual Ele quer nos convencer: Deus é Misericórdia!


1 Os coletores de impostos e os pecadores se aproximavam dele para o ouvir. 2 E os fariseus e os escribas murmuravam dizendo: 'Este homem acolhe os pecadores e come com eles!' 3 Então, ele lhes disse esta parábola: 4 'Quem dentre vós, se tiver cem ovelhas e perder uma, não deixa as outras noventa e nove no deserto para ir à procura da que se perdeu, até encontrá-la? 5 E quando a reencontrou, ele a acomoda cheio de alegria sobre os ombros, 6 e, de volta à casa, reúne os amigos e vizinhos e lhes diz: 'Alegrai-vos comigo, pois eu reencontrei a minha ovelha que estava perdida!' 7 Eu vos digo que é assim que haverá alegria no céu por um só pecador que se converta, mais do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão'.


Nesse pequeno trecho, os versículos 2 e 3 parecem servir como uma importante introdução para que o leitor compreenda para quem e em que situação Jesus está falando. A informação que temos é que os "coletores de impostos e os pecadores se aproximavam dele para o ouvir" e que os fariseus não gostavam nada disso. De fato, tanto os coletores de impostos como os pecadores públicos eram condenados pelo grupo religioso dos fariseus. Para eles, era inconcebível que Jesus, que se apresenta como o alguém que vinha da parte de Deus, pudesse se encontrar e se relacionar com aquele "tipo de gente"... Eis aqui um primeiro dado que deverá nos acompanhar por toda nossa reflexão ao longo de Lc 15: Jesus conversa com os fariseus, aquele grupo que não conseguia entender como alguém que dizia vir da parte de Deus pudesse se reunir com grandes pecadores. Na verdade, por trás desse questionamento, estava a concepção de que Deus não pode querer bem um pecador...

Jesus inicia a conversa contando uma pequena parábola, uma história de um provável pastor com suas cem ovelhas. E por que Jesus conta essa história? Porque esse cenário fazia parte da vida de todos os seus ouvintes. Jesus tomava exemplos do cotidiano para lhes falar das coisas de Deus; isso porque desejava convencê-los de que Deus não estava distante da vida deles, pelo contrário, estava muito próximo, interagia com eles! Jesus falava das coisas do cotidiano também para que sua mensagem fosse captada com a maior exatidão possível: é Deus que quer se fazer compreender pelos homens. Acredite, meu irmão, Deus continua agindo assim até os dias de hoje... É assim que ele continua fazendo comigo e com você...

Na história, o pastor perde uma das cem ovelhas e sai depressa a procura dela, deixando as demais no deserto. Ora, o deserto era o lugar de pastagem comum dos rebanhos na Palestina. Não é que aquele homem deixa as ovelhas em qualquer lugar. Não! Ele as deixa onde elas deveriam estar para, então, sair a procura daquela que se desgarrou do rebanho. E Jesus pergunta aos ouvintes quem deles não faria o mesmo. A resposta era uma só (e todos eles sabiam disso): todos fariam o mesmo! Nenhum pastor de rebanho deseja perder suas ovelhas, mesmo que seja apenas uma.

Isso me faz recordar um jovem que conheci. Ele tinha um casal de gatos em casa, dos quais ele gostava muito. Um dia, a gata deu cria à quatro filhotes. Eram uma beleza! Lindos mesmo! Esse meu conhecido tinha a intenção de distribuir os filhotes com amigos, mas queria cuidar deles até que estivessem um pouco menos indefesos. Criava essa "grande família" num amplo quintal. Um dia, porém, qual não foi o susto que levou quando percebeu que um dos pequenos gatos havia sumido! Não deixou ele os três filhotes com à mãe e saiu a procura do que tinha se perdido? E como foi difícil achar aquele filhote que tinha entrado no "quartinho das bagunças" que ficava no fundo do quintal e se enfiado em meio às caixas cheias retalhos de roupa! (rs) Recordo-me que esse meu amigo não sossegou enquanto não o encontrou! E quando, enfim, o avistou em meio às caixas, gritou de alegria: achei, está vivo! E saiu logo contando a novidade a todos os da casa!

Em Lucas 15,7, Jesus nos explica que "é assim que haverá alegria do céu por um só pecador que se converta..." Em outras palavras, Jesus estava querendo dizer aos fariseus que era natural que Deus também procurasse aqueles que estavam perdidos. Por isso ele, Jesus, se reunia com os coletores de impostos e pecadores. Isso continua valendo hoje em nossa vida!

Por esse mesmo motivo é que, na postagem anterior, eu lhe disse que não importa qual seja o estado atual de sua vida, muito menos aquilo que realizou no passado. O que realmente importa agora é saber que Deus está te procurando para te tirar "das garras do lobo que devora as ovelhas", para te livrar de "ficar sufocado em meio as retalhos de pano velho no fundo do quintal". E devo lhe dizer ainda mais: Deus não vai parar de tentar enquanto ele não conseguir!

Você pode ainda dizer que "se Deus fosse Deus mesmo, ele conseguiria..." Aí está o bonito da história... É que Jesus só vai explicar porque Deus não "força a barra" quando contar a última das parábolas desse capítulo. Vamos aguardar "as cenas do próximo capítulo"? Enquanto aguardarmos, permita que Deus vá te convencendo apenas do pouco que hoje você pôde aprender: Deus não mede esforços para te alcançar, nunca desiste de você! E faz verdadeira festa quando você volta pra casa...

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

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