sábado, 31 de maio de 2008

Misericórdia de Deus - Parte 4


Com a terceira parte das postagens sobre a misericórdia de Deus, falamos da manifestação plena do amor do Pai por toda a humanidade: Jesus Cristo, o Senhor. Vimos que o modo como o Pai escolheu manifestar seu amor por nós foi assim: "Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à lei para libertar aqueles que estão sujeitos à lei, para que nos seja concedido ser filhos adotivos" (Gl 4,4-5). Mas não só! O próprio apóstolo continua na carta endereçada aos gálatas, dizendo: "Vocês são filhos de verdade! Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho que clama: Abbá - Pai! Portanto, já não é mais escravo, mas filho; e como filho, também é herdeiro: isto é obra de Deus!" (Gl 4,6-7).

Numa linguagem mais "elevada", podemos dizer que nos tornamos filhos no Filho. Que isso significa? Significa que pela encarnação, morte e ressurreição de Cristo fomos resgatados da escravidão do pecado ("já não é mais escravo") para nos tornarmos filhos de Deus. Como filhos, somos chamados a manter uma relação de profunda intimidade com Ele! São Paulo procura, quando escreve aos gálatas, descrever com detalhes a intimidade que Deus quer estabelecer conosco. O apóstolo usa duas expressões muito fortes para tentar nos explicar isso.

A primeira é que "Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho". Veja que isso é uma verdade maravilhosa! Deus nos enviou o Espírito Santo! Já tivemos a oportunidade de refletir sobre a pessoa do Espírito nas postagens em preparação à Solenidade de Pentecostes. Mas a segunda expressão que encontramos no texto de São Paulo é, ainda mais enfática: "aos nossos corações". Na linguagem bíblica, o "coração" é o espaço a partir do qual tomamos as principais decisões. Pois bem! Foi nesse lugar sagrado do nosso ser que o Pai enviou seu Pleno Poder, o Espírito de Amor, para que nos decidíssimos por seu Amor!

Mas como se isso não bastasse para entendermos o quanto somos amados por Deus, o Apóstolo continua explicando que é justamente esse amor de Deus derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo, que nos faz dizer: Abbá! Essa pequenina palavra grega não quer dizer apenas "pai". Não! Ela traz consigo um significado muito mais afetivo. Abbá quer dizer papai, papaizinho... Louvado seja Deus por isso! Deus quer nós o tratemos como "papai", "paizinho"... Ele espera esse nosso extremo carinho, pois é a única forma que conseguiremos responder um pouco mais adequadamente à imensa ternura com a qual Ele nos ama!

Mas pode ser que, depois de tudo quanto dissemos aqui, você ainda esteja se sentindo indigno de tanto amor. Pode até pensar assim, quem sabe: "esse padre escreve essas coisas porque não sabe dos meus pecados, não sabe de minha história passada", como se o que você tivesse feito na vida (seja lá o que for!), pudesse ser tão significativo a ponto de não ser mais digno do amor de Deus... Pois bem, mas se você pensa realmente assim, eu também me sinto no dever de lhe dizer que não! Não, não e não! Nada, absolutamente nada pode fazer com que Deus deixe de nos amar.

Sabe, meu irmão (ou minha irmã), a vida inteira de Jesus, Ele a viveu para nos convencer disso! Tudo o que fez, tudo o que ensinou, tudo o que viveu foi numa única intenção de manifestar o imensurável amor de Deus por toda e cada pessoa humana. Quando dissemos que Jesus é a plena manifestação do amor de Deus por nós, não é apenas uma afirmação poética! Ele o é, de fato! Entregou a própria sua vida por nós para nos arrancar do poder do pecado e para nos assegurar que NADA nessa vida poderá nos separar do amor de Deus.

Dedicaremos nossas próximas quatro postagens nos fixando atentamente sobre o testemunho de Jesus. Analisaremos o capítulo 15 do Evangelho de Lucas que, é, por excelência, o Evangelho da Misericórdia. Para melhor adentrarmos as maravilhas de Deus contidas naquele capítulo, o dividiremos em três partes: Lucas 15, 3-7; Lucas 15, 8-10 e Lucas 15, 11-32. Se quiser lê-las, anteriormente, dia por dia, como forma de preparação, fique à vontade. Amanhã, trataremos de Lucas 15, 3-7.

Por hoje é só... Concluo deixando uma outro belíssimo trecho da carta que São Paulo endereçou aos habitantes de Roma. É, mais uma vez, um hino à misericórdia de Deus. Se me permite, sugiro-lhe que imprima essa pequena passagem e a leve consigo para meditá-la ao longo do seu dia. Ainda mais: fixe-a no mural de avisos de seu trabalho, na geladeira de sua casa, deixe-a ao alcance da pessoa que você tanto gosta (em meio a seus pertences), envie-a por e-mail etc. Sim... É isso mesmo que estou lhe sugerindo... Cada um de nós encontrará um modo criativo de fazer a Palavra de Deus chegar aos corações de outros! E por que? Porque há muita gente, a começar de nós mesmos, que precisa fazer a experiência de tamanho amor, que precisa permitir que esse amor cure as feridas que a vida, muitas vezes, tratou de lhe trazer... Com segurança, posso afirmar que Deus conta conosco nessa importante missão, a de sermos sinais e portadores de seu amor a todos!


Com afeto salesiano.
P. Mauricio Miranda.


"Depois de tudo isso, o que nos resta dizer? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Ele, que não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por nós todos, como junto com seu Filho não nos daria tudo o resto?

Quem acusará os eleitos de Deus? Deus justifica! Quem condenará? Jesus Cristo morreu - e não só - também ressuscitou! Ele que está à direita de Deus e intecerde por nós!

Quem poderá nos separar do amor de Cristo? Por acaso, a tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A miséria? O perigo? A espada? Em tudo isso somos mais que vencedores, graças Àquele que nos amou. Sim, eu tenho certeza: nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem as dominações, nem o presente, nem o futuro, nem o poder, nem as forças das alturas ou das profundezas, nem alguma outra criatura, nada poderá nos separar do amor de Deus que foi manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor."

(Romanos 8, 31-35.37-39)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Misericórdia de Deus - Parte 3


Nos passos que demos, ontem, em direção à misericórdia de Deus, vimos que foi como Deus misericordioso que o Senhor se manifestou à Israel e era justamente assim que Israel o concebia: "O Senhor, o Senhor, Deus misericordioso e benevolente, lento para a cólera, cheio de fidelidade e lealdade" (Ex 34,6).

A manifestação da misericórdia de Deus alcança seu auge no envio de seu Filho Jesus, o Cristo. De fato, já o reconhecem os primeiros cristãos: "Eis como se manifestou o amor de Deus entre nós: Deus enviou seu Filho único ao mundo, para que vivêssemos por meio dele" (1 João 4,9).

Ainda bem antes de 1 João ser escrita, o Apóstolo Paulo já falava explicava aos habitantes de Éfeso, de que maneira se manifestou a misericórdia de Deus, em Jesus Cristo. Vale a pena analisarmos com mais cuidado esse belíssimo trecho:


"Mas Deus é rico em misericórdia; por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, deu-nos a vida com Cristo.
É por graças vocês são salvos!"
(Efésios 2, 4-5).


O texto é claríssimo! São palavras que se explicam por si mesmas. Mas vamos percorrê-las passo a passo. O Apóstolo começa fazendo uma afirmação: "Deus é rico em misericórdia". E a partir de que ele afirma tal coisa? E a resposta é "por causa do grande amor com que nos amou". Mas se você se perguntar como foi que Ele, então, nos amou, encontrará a resposta no próprio texto: "deu-nos a vida com Cristo".

Quer continuar fazendo perguntas ao texto? Então vamos lá. Podemos, ainda, nos perguntar por que Ele quis nos comunicar vida. E a resposta estará bem a nossa frente: porque "estávamos mortos por causa das nossas faltas". Agora pense bem: Deus não nos comunicaria a vida se já a tivéssemos em nós... E aqui está o grande sinal da misericórdia de Deus, ou seja, de que o coração de Deus bate junto ao nosso e sabe exatamente como estamos! A verdade é uma só e Deus sabe disso: "estávamos mortos"! Sim, estávamos todos mortos, não havia mais vida alguma dentro de nós, nada que o pecado tivesse deixado sobreviver... É por misericórdia, por saber exatamente do que precisamos, que o Pai nos comunica a sua própria Vida, manifesta por meio de seu Filho (cf. Jo 14,6).

Jesus é, por isso, a máxima manifestação do amor de Deus. Em Jesus, o Pai ama a todos, sem nenhuma exceção. E por que? Bem, para responder a essa pergunta precisamos dar um passo mais avante.

Por que ninguém está fora do amor de Deus manifestado em Jesus? Porque a forma como o Pai escolheu para nos amar foi enviando seu Filho que, assumiu para si, a condição humana, à qual todos pertencemos, independente de raça, religião ou qualquer outra coisa que possa nos distinguir. Em palavras mais simples, implica dizer que porque Deus se fez ser humano, ele alcançou todos aqueles que foram criados "a imagem e semelhança de Deus" (cf. Gn. 1,26).

A misericórdia do Pai por todo o ser humano é manifestada de muitas maneiras na vida de Jesus de Nazaré. Amanhã, seremos convidados a analisar um delas. Por hoje, ficamos por aqui. Concluo essa postagem, no entanto, com um pequeno trecho bíblico que muito tem a ver com o que aqui tratamos. Deixo-lhes para a oração e reflexão pessoais.


Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.


"Cristo, que é de condição divina, não considerou como tesouro a agarrar, o fato de ser igual a Deus. Mas despojou-se, tomando a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens, e por seu aspecto, reconhecido como homem. Ele se rebaixou, tornando-se obediente até a morte, e morte numa cruz! Foi por isso que Deus o exaltou soberanamente e lhe conferiu o Nome que está acima de todo o nome. Para que diante do nome de Jesus se dobre todo o joelho, nos céus, na terra e nos infernos, e toda a língua proclame, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor!" (Filipenses 2,6-11)




quinta-feira, 29 de maio de 2008

Misericórdia de Deus - Parte 2


Encerramos a postagem anterior - onde tratamos sobre o significado da palavra misericórdia - dizendo que nada mais justo de que aplicar esse conceito, por excelência, a Deus. Sim, ninguém é, na acepção mais exata do termo, misericordioso como Ele o é.

E como podemos chegar a essa conclusão? Em primeiro lugar pela fé que nos leva a reconhecer que Deus é misericordioso por que foi assim que Ele se revelou a nós ao longo de toda a história da Salvação, sobretudo, quando por amor, enviou seu próprio Filho para nos salvar (cf. 1 João 4,9).

A partir da fé que professamos, também não cessamos de fazer a experiência da misericórdia de Deus no dia-a-dia de nossa vida, onde sentimos que Ele está muito próximo de nós e, por isso, bem sabe tudo quanto passa em nosso coração. Um terceiro motivo que nos leva a reconhecer que Deus é misericórdia é o testemunho que a própria história nos dá de tantas pessoas que fizeram a mesma experiência dele.

Quero, hoje, me fixar na experiência que o povo de Israel fazia da misericórdia de Deus, já que era assim que o "Deus dos deuses e Senhor dos Senhores" (cf. Salmo 136,1) se revelava a eles. Ontem, encerramos a postagem com a oração de um salmo. Agora, convido-lhe a iniciar a reflexão de hoje com a oração de outro. Vamos lá?


Salmo 136 (135)

1 Dai graças ao Senhor , porque ele é bom,
porque eterna é a sua misericórdia!

2 Dai graças ao Deus dos deuses,
porque eterno é a sua misericórdia!
3 Dai graças ao Senhor dos senhores,
porque eterna é a sua misericórdia!
4 Só ele fez grandes maravilhas,
porque eterna é a sua misericórdia!
5 Fez os céus com sabedoria,
porque eterna é a sua misericórdia!
6 Firmou a terra sobre as águas,
porque eterna é a sua misericórdia!
7 Fez os grandes luminares,
porque eterna é a sua misericórdia!
8 O sol, para presidir o dia,
porque eterna é a sua misericórdia!
9 A lua e as estrelas, para presidirem a noite,
porque eterna é a sua misericórdia!

10 Feriu os primogênitos do Egito,
porque eterna é a sua misericórdia!
11 Tirou Israel do meio deles,
porque eterna é a sua misericórdia!
12 Com mão forte e braço estendido,
porque eterna é a sua misericórdia!
13 Dividiu ao meio o mar Vermelho,
porque eterna é a sua misericórdia!
14 Por ele fez passar Israel,
porque eterna é a sua misericórdia!
15 Precipitou o Faraó e seu exército no mar Vermelho,
porque eterna é a sua misericórdia!
16 Conduziu seu povo pelo deserto,
porque eterna é a sua misericórdia!
17 Feriu grandes reis,
porque eterna é a sua misericórdia!
18 Abateu reis poderosos,
porque eterna é a sua misericórdia!
19 Seon, rei dos amorreus,
porque eterna é a sua misericórdia!
20 Og, rei de Basã,
porque eterna é a sua misericórdia!
21 Deu a terra deles em herança,
porque eterna é a sua misericórdia!
22 Em herança a Israel, seu povo,
porque eterna é a sua misericórdia!
23 Em nossa humilhação lembrou-se de nós,
porque eterna é a sua misericórdia!
24 Livrou-nos dos adversários,
porque eterna é a sua misericórdia!

25 Dá alimento a toda criatura,
porque eterna é a sua misericórdia!
26 Dai graças ao Deus do céu,
porque eterna é a sua misericórdia
!


O Salmo 136 é um hino à misericórdia de Deus. É um reconhecimento que Deus é, de fato, misericordioso. Era assim que Deus se manifestava à Israel, era assim que Israel o via. O Salmo 136 é denominado na tradição judaica como o Grande Hallel (o Grande Louvor). Era com ele que o povo louvava a Deus por ocasião da páscoa judaica. Enquanto este salmo era tido como o Grande Louvor, os salmos 113 a 118 constituíam o Pequeno Hallel.

De fato, a única intenção do autor dessa belíssima oração é a de proclamar que Deus é misericordioso, ou seja, que Ele se aproxima de tal forma do coração humano que compreende tudo que ali se passa e, que por isso mesmo, nunca deixa o ser humano só, está sempre ao seu lado, junto dele, em todas as circunstâncias da vida. O reconhecimento da misericórdia de Deus é tão intenso que é repetido 26 vezes ao longo do salmo, uma vez a cada versículo: "eterna é a sua misericórdia"! Como os salmos se tratavam de canções do povo de Deus, certamente essa proclamação era tomada como um refrão que era repetido por todo o povo, assim que o solista proclamasse cada estrofe. Podemos até imaginar o povo reunido em assembléia e a cada invocação do solista, todo o povo repetindo, em forma de canção: "porque eterna é a sua misericórdia!"

Outro fator interessante para ser observado é a estrutura geral do salmo. Muitas vezes, corremos o risco de achar que os salmos foram escritos "de qualquer maneira"... Não! São canções, são obras literárias! Um verdadeiro músico sabe o quão difícil e empenhativo é compor uma canção! Note que o Salmo 136 é dividido em duas grandes partes: a primeira contempla os versículos 2 a 9 e, a segunda, os versículos 10 a 24. Vamos refletir um pouco sobre cada uma delas?

Primeira parte: versículos 2 a 9

Note que essa parte, o salmista dedica para reconhecer que toda a criação é, em si, um sinal da misericórdia de Deus. Curiosos são seus dois primeiros versículos:

2 Dai graças ao Deus dos deuses,
porque eterna é a sua misericórdia!
3 Dai graças ao Senhor dos senhores,
porque eterna é a sua misericórdia
!

No fundo, o salmista parece estar querendo dizer que apesar da grandeza imensa de Deus (é o Deus de todos os deuses, é o Senhor de todos os Senhores!), Ele é misericordioso, ou seja, entende o que sente o coração humano porque está muito próximo dele... Aqui já está uma grande lição para nossa vida! Não podemos nos esquecer dessa verdade, pois há muitas pessoas que sentem Deus muito distante de sua vida, justamente porque possuem dele a imagem de alguém "inatingível"... De fato, Ele é grande! Mas na sua grandeza, se inclina para ficar bem junto de nós... Que maravilha! Não há como o nosso coração não se alegrar e respondermos juntos com o povo: "sim, eterna é a sua misericórdia!"

Nos versículos 4 a 9, o salmista recorda a maravilha da criação e, a cada recordação, a assembléia é chamada a reconhecer nisso a misericórdia do Senhor. E por que? Porque, de fato, Deus criou o mundo por amor a nós. É assim, aliás, que o autor de Gênesis se expressa quando narra a criação: "E Deus viu que tudo era bom..." (cf. Gn 1,31).

Mas ainda podemos nos perguntar porque, nessa primeira parte, o salmista não reconhece a misericórdia de Deus na criação do homem e da mulher. E por que será? Fácil! Em primeiro lugar porque se subentende que toda a criação foi colocada à disposição do ser humano, ou seja, é para o ser humano que Deus tudo criou (cf. Gn 2, 15.19-20). Em segundo lugar, porque à misericórdia de Deus pelo ser humano, o salmista dedicará toda a segunda parte do salmo.

Segunda parte (versículos 10 a 24)

Se a primeira parte foi dedicada a reconhecer a misericórdia de Deus manifesta na criação do mundo, a segunda é toda endereçada para a misericórdia que Deus revela quando salva toda a sua criação. Em outras palavras, esse salmo é uma grande catequese! O salmista ensina que aquilo que Deus criou, embora tenha sido alvo do pecado, foi salvo pelo próprio Deus! E tudo isso tão somente por misericórdia!

Apenas uma observação que se faz necessária nessa parte. Pode ser que alguém pergunte porque o salmista proclama a misericórdia de Deus em episódios de morte, como no extermínio dos primogênitos ou no afogamento de Faraó e seu exército nas águas do mar Vermelho, por exemplo? Deus não seria misericordioso com todo mundo? Bem, aqui não é essa a questão... A questão é que o povo de Deus manifesta crer que, de alguma forma, Deus teve compaixão deles e os acompanhou por todo o percurso da libertação do Egito. Esse evento era o que os judeus celebravam no dia de Pascoa! Portanto, no fundo, o salmista convida todos a reconhecerem que, em cada gesto da libertação do povo de Israel do Egito, Deus se mostrou misericordioso, ou seja, sentia junto com o povo suas dores e tristezas e, por isso, veio em socorro deles, libertando-nos da escravidão!

Se você acompanhou atentamente nossa reflexão, deve estar se perguntando sobre os versículos 1, 25 e 26. Pois bem. Aí está a beleza da composição do salmo. Eles servem como introdução (v. 1) e conclusão (v. 25-26) de toda esse hino à misericórdia. Basta colocá-los lado a lado para se ter a impressão que formam um único conjunto:

1 Dai graças ao Senhor , porque ele é bom,
porque eterna é a sua misericórdia!
25 Dá alimento a toda criatura,
porque eterna é a sua misericórdia!
26 Dai graças ao Deus do céu,
porque eterna é a sua misericórdia!

Somos, por tanto, motivados por esse trecho da Palavra de Deus, a procurarmos reconhecer a ação de Deus em nossa própria vida e na história de nossa família e do nosso povo. Sem dúvida alguma, ao tentarmos analisar nossa história, encontraremos "capítulos" um tanto difíceis... Com a história de Israel também não é diferente! Porém, a fé de Israel o levou a reconhecer, no final de tudo que, em verdade, o Senhor nunca os abandonou, que o Senhor conhece o coração de cada um!

Rezo para que agora seja a nossa vez, a minha e a tua, de nos convencermos disso!

Com afeto salesiano,
P. Mauricio Miranda.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Misericórdia de Deus - Parte 1


Hoje, iniciaremos, uma série de pequenas reflexões sobre a Misericórdia de Deus. Longe de ser algum estudo sistemático, essas postagens querem ser apenas um convite para que contemplemos com mais atenção uma das mais belas feições de Deus (cf. 1 João 4,8).

Antes de falarmos da misericórdia divina, é preciso nos perguntarmos o que queremos dizer com a palavra "misericórdia" para que a apliquemos a Deus. Que significa misericórdia? Não saberia dizer a real etimologia dessa palavra. O que sei é misericórdia acabou sendo uma junção de duas palavras que provêm do latim: miserere e cordis.

A primeira trata-se de um verbo que indica "ter compaixão de". Ora bolas... E o que significa ter compaixão? Ter compaixão implica sentir com o coração de alguém, ou seja, é a capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente, aproximar-me de tal forma do seu coração que seja compreender o que se passa ali... Quando, portanto, dizemos que sentimos compaixão de alguém, não significa que tenhamos dó (pena) dessa pessoa. Não! Compaixão é um sentimento bem mais nobre. Quer dizer que sabemos exatamente o que essa pessoa sente porque o nosso coração está em sintonia com o dela. Pois bem. O verbo miserere significa isso: ter compaixão de.

A segunda palavra que deu origem ao vocábulo "misericórdia" é o substantivo cordis que significa coração, não apenas no sentido físico ou fisiológico, mas também como espaço onde brotam as emoções e sentimentos.

Portanto misericórdia (miserere + cordis) significa literalmente "ter compaixão do coração", ou seja, aproximar meus sentimentos dos sentimentos de alguém, sentir "em sintonia". É, sem dúvida alguma, um ato belíssimo. Não se trata de sofrer com alguém, mas sobretudo, de compreender o sofrimento de alguém, de ser, nesse sentido, solidário com essa pessoa.

Não sei se a palavra misericórdia surgiu apenas com a intenção de designar essa nobre atitude entre os seres humanos. Mas ainda que tenha sido por isso, é quase inevitável dizer que a palavra misericórdia encontra em Deus a sua expressão mais alta e completa. De fato, ninguém conhece o coração humano melhor que Deus. Já o salmista o reconhece quando diz: 'Senhor, tu me sondas e me conheces' (Salmo 139).

Quero, inclusive, encerrar essa postagem de hoje com as palavras do salmo que acabo de mencionar. Faça dele sua oração nesse momento. Veja quanta verdade nasce dos lábios do salmista. São palavras que alcanção o coração... São palavras de misercórdia.


Com afeto salesiano.
P. Mauricio Miranda.

Salmo 139 (138)

Ao regente do coro. Salmo de Davi.
Senhor, tu me sondas e me conheces,
conheces o meu deitar e o meu levantar;
de longe discernes os meus projetos;
vigias minha caminhada e meu descanso,
e cuidas de todos os meus caminhos.

Não chegou a palavra à minha língua,
e tu, Senhor , já a conheces toda.
Tu me abraçaste por inteiro
e sobre mim repousas tua mão.
Tal conhecimento é tão misterioso que me ultrapassa,
tão sublime que não consigo atingi-lo!

Aonde irei para estar longe de teu espírito?
Aonde fugirei para estar longe de tua face?
Se eu subir aos céus, aí estás!
Se me deitar nos infernos, também aí estás.
Se eu tomar posse das asas da aurora
e for morar nos confins do mar,
também lá tua mão me conduz,
tua destra me segura.

Se eu disser: “Ao menos que as trevas me envolvam
e, à minha volta, a luz se transforme em noite”,
Nem mesmo as trevas são escuras para ti
e a noite é clara como o dia,
as trevas como a luz.

Foste tu que criaste os meus rins,
teceste-me no seio de minha mãe.
Confesso que sou uma verdadeira maravilha,
prodigiosas são tuas obras;
sim, eu bem o reconheço.

Meus ossos não te permaneceram ocultos,
quando fui feito no segredo
e tecido nas profundezas da terra.
Eu não passava de um embrião e os teus olhos já me viam;
foram registrados em teu livro
todos os dias prefixados,
antes que um só deles existisse.

Quão insondáveis, ó Deus, são para mim teus desígnios,
quão grande é sua soma deles!
Gostaria de contá-los, mas são mais numerosos que a areia.
Quando acordo, ainda estou contigo.

Oxalá que matasses o perverso, ó Deus,
e que os homens sanguinários se afastassem de mim,
homens que se rebelam contra ti,
e contra ti se levantam para o mal.

Porventura não devo odiar, Senhor , os que te odeiam,
abominar os que combatem contra ti?
Eu os odeio com um ódio total,
e eles se tornaram meus próprios inimigos.

Sonda-me, ó Deus, e conhecerás meu coração!
Examina-me, e conhecerás meus pensamentos!
Vê se estou no caminho perigoso
e conduze-me pelo caminho duradouro
!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Basílicas Papais - Conclusão

Hoje, conforme havia dito, concluo as postagens sobre as Basílicas Papais. Como não poderia deixar de ser, finalizo com a tão conhecida Basílica de São Pedro, no Vaticano. Estive, pela graça de Deus, várias vezes visitando esse belíssimo lugar, nesses quase cinco meses que estou por aqui. É para mim, antes de tudo, um lugar de oração! Ali, diante do túmulo de Pedro Apóstolo sempre renovo meu sentido de "ser Igreja", reafirmando meu amor a Deus e a seu povo.

Já na postagem de 16.01, narrei minha primeira experiência em Roma que foi justamente a visita à Basílica e suas dependências. Creio que deverei ainda muitas outras vezes relatar as experiências que terei nas celebrações nas quais pretendo participar ali. Além disso, há muita coisa ainda para ser relatada aqui: cada visita aos Museus do Vaticano, que fazem parte do conjunto arquitetônico, por exemplo, merece um comentário a parte... Hoje, porém, exponho algumas fotos do local, prometidas já naquela minha primeira postagem. Lembro que a maioria delas foi tirada ainda no início do ano; por isso o templo nublado e, claro, muito frio... rs

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.


Vista da Basílica de São Pedro quando se chega pela Via della Conciliazione.



A Praça e a Basílica de São Pedro. Na foto, ainda constava o presépio que todo o ano é montado bem ao centro da Praça.


A fachada principal da Basílica. Do janela principal do terraço, o novo Papa é apresentado à Igreja e ao mundo após o conclave (fotos acima e abaixo, em detalhe).


Praça de São Pedro


Um dos dois chafarizes da Praça. Ao fundo, se pode ver parte das mais de cem colunas que circundam a praça e acolhem os pereginos de todas as partes do mundo.

Da janela do último andar, a segunda da direita para a esquerda, o Papa fala todos os domingos aos fiéis reunidos na Praça. Ali também é o local onde faleceu o Papa João Paulo II enquanto milhares de jovens rezavam na Praça...


A Porta Santa da Basílica, aberta apenas nos anos jubilares.



Detalhe no chão de mármore, bem abaixo da Porta Santa. Para todos os lugares que se olha, se vê arte...

A Basílica vista por dentro. No centro, ao fundo da foto, está o altar-mor da Basílica, construído sobre o local do sepultamento de Pedro.

Logo à direita de quem entra, a primeira coisa que se pode avistar é a Pietà de Michelangelo. Simplesmente impressionante...

A Cúpula principal da Basílica, bem acima do altar-mor e do sepulcro do Apóstolo (a foto é da internet).

Parte da Basílica vista do alto da Cúpula que pode ser visitada pelos fiéis e peregrinos.




A foto não ficou nada boa, dada a distância... Estava na cúpula e tentei fotografar a imagem de Dom Bosco, bem acima da de Pedro, numa das colunas fundamentais do templo... Muito interessante... Nessa hora, o coração salesiano se dilata de alegria!

Abaixo da nave principal, estão enterrados vários Papas da história da Igreja, inclusive João Paulo II, cujo túmulo não pode ser fotografado. Todos os tumulos são dispostos em torno ao de Pedro, centro de toda a Basílica. Na foto, podemos ver o túmulo de Pio XI.

domingo, 25 de maio de 2008

8º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2008

Evangelho (Mateus 6, 24-34)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: "Ninguém pode servir a dois senhores; pois, ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso eu vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida, com o que havereis de comer ou beber; nem com o vosso corpo, com o que havereis de vestir. Afinal, a vida não vale mais do que o alimento, e o corpo, mais do que a roupa? Olhai os pássaros dos céus: eles não semeiam, não colhem nem ajuntam em armazéns. No entanto, vosso Pai que está nos céus os alimenta. Vós não valeis mais do que os pássaros? Quem de vós pode prolongar a duração da própria vida, só pelo fato de se preocupar com isso? E por que ficais preocupados com a roupa? Olhai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. Porém, eu vos digo: nem o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é queimada no forno, não fará ele muito mais por vós, gente de pouca fé? Portanto, não vos preocupeis, dizendo: 'O que vamos comer? O que vamos beber? Como vamos nos vestir?' Os pagãos é que procuram essas coisas. Vosso Pai, que está nos céus, sabe que precisais de tudo isso. Pelo contrário, buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações! Para cada dia bastam seus próprios problemas".



Caros amigos


Não há como ler esse trecho do Evangelho sem sentir no coração uma sincera vontade de louvar a Deus pelo seu imenso amor e predileção por nós! De fato, as palavras que acabamos de ler são, ao mesmo tempo, palavras de libertação e de cura! E por quê?

Porque, em primeiro lugar, por meio de tais palavras, o Senhor nos convida a refletirmos sobre o valor que temos dado às coisas de nossa vida, libertando-nos de todo o tipo de preocupação excessiva ou apego desordenado aos bens. Além disso, Ele vai nos curando à medida em que nos ajuda a devolver a Ele o lugar que lhe pertence em nossa vida: o centro! Não é verdade que muitas pessoas vivem machucadas pelas conseqüências de uma vida vivida em função do dinheiro? Devolver ao Senhor o lugar que lhe pertence implica, além de uma profunda libertação interior, permitir que Ele mesmo vá curando todas essas feridas...

"Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus" (Mt 6, 36)

Creio que nessa frase podemos resumir tudo aquilo que o Senhor deseja nos falar nesse 8º Domingo do Tempo Comum. Buscar "as coisas do Reino" em primeiro lugar, é dar a Deus a supremacia em nossas vidas. E aí está um passo decisivo!

Permitam-me falar um pouco mais sobre isso. Quanto mais tempo uma pessoa viveu fazendo sua vida consistir naquilo que possui, tanto mais será para ela, uma verdadeira libertação acolher esse pedido do Senhor. Essa atitude implica permitir que Deus faça uma verdadeira "reviravolta" em nossa vida, ocupando o centro de tudo. O que significa tê-lo como centro de tudo? Significa, por exemplo, que todas as nossas escolhas, a partir de então, serão realizadas a partir dele, a partir da ótica de seu Evangelho... Implica também dizer que todas as coisas de nossa vida passam a serem mensuradas à partir do mesmo Evangelho; daí que muda em muito nossa escala de valores... Dessa forma, muda também, por exemplo, o modo como nos relacionamos com as pessoas que passam a não ser mais vistas como objetos ou meios para a realização de nossos propósitos egoístas, mas passam a possuir incalculável valor pelo simples fato de serem pessoas. Enfim, é um novo modo de olhar a vida, o mundo, os seres humanos... Tudo passa a ser novo quando permitimos que nossa vida seja construída a partir do Senhor. Não é à toa que o Apóstolo afirma que "aquele que está em Cristo é uma nova criatura" (2 Coríntios 5,17).

Abandonar-se nas mãos de Deus

Você pode estar dizendo que não é fácil dar esse passo na própria vida. E de fato não o é mesmo!Veja que estamos falando de mudar radicalmente o sentido e a orientação de nosso viver por amor a Deus! Não é qualquer coisa! É nossa existência que está em jogo!

Por isso esse passo só pode ser dado por verdadeiro amor. E também por isso não é algo que podemos fazer de uma dia para o outro. A decisão pelo Senhor, capaz de ir mudando radicalmente a nossa forma de ser e existir, é uma opção que devemos renovar todos os dias. A cada manhã devemos ter a coragem, por amor, de dizer: "Sim, Senhor, hoje eu me decido por Vós!"

E quais as certezas que Ele nos dá de que esse caminho é realmente seguro? Bem, podemos dizer que segurança do ponto de vista humano, não há nenhuma. Isso mesmo que vocês acabaram de ler: ne-nhu-ma! Por isso é uma decisão de amor. Posso lhes dar mais um outro exemplo? Que segurança um pai e uma mãe têm que, amando seus filhos, terão esse amor reconhecido no futuro? Nenhuma! No entanto, continuam amando a cada um deles; é uma decisão livre, uma decisão de amor!

A única segurança que possuímos ao mudar todo o curso de nossa vida por amor a Deus é a fé. Em primeiro lugar, a certeza inabalável de que Deus nos ama e nos conhece ("Vosso Pai que está no céu sabe que precisais de tudo isso"). Além disso, a convicção profunda de que Ele é um Deus fiel! Vejam que profundo aquilo que a lemos na primeira leitura da missa desse Domingo: "Disse Sião: 'O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-se de mim!' Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti". (Isaías 49, 14-15).

Esse é o passo radical que todos precisamos dar a cada dia de nossa vida. Talvez exista alguém, dentre vocês que acompanham esse blog, que sinta que sua vida esteja muito distante disso que o Senhor lhe está propondo hoje. Mas eu preciso lhe dizer que não! Tudo o que Deus, na verdade, lhe propõe, hoje, é que você se decida definitivamente por Ele. E que essa decisão seja renovada dia após dia. Saiba, no entanto, que quando você tomar essa decisão, sua vida vai sendo modificada aos poucos, já que todas as suas ações e escolhas passarão necessariamente por esse crivo. O Senhor passará a ser a pedra fundamental a qual você construirá toda sua vida.

Hoje é dia de decisão!
"Sim, Senhor, hoje eu me decido por Vós!"

Deus te abençoe!
Com afeto salesiano
P. Mauricio.

Basílicas Papais - Parte 3

Devo, antes de começar essa postagem, pedir desculpas àqueles que, quase diariamente, visitam esse blog em busca de atualizações. Recentemente, não tenho escrito muito, já que se aproxima o período de meus exames semestrais. Prometo, contudo, não deixar de escrever, ao menos, as reflexões sobre o Evangelho de cada Domingo. Tentarei também, sempre que possível, atualizar mais vezes com outras postagens, como essa que faço agora.

Essa postagem é também a retomada de um "caminho" iniciado e, por força dos compromissos, parado... Se se recordarem, comecei a falar sobre as Basílicas Papais (24.02 e 02.03), mas acabei não tendo ocasião de concluir a apresentação delas. Falarei, nas postagens de hoje e amanhã, sobre as Basílicas de São Paulo e São Pedro.

Agora, vamos conhecer a Basílica de São Paulo. Estive faz alguns dias lá, pela primeira vez, acompanhando uma amiga brasileira que passava por aqui em férias. Hoje, domingo, retornei ao lugar com mais calma. Lá, pude rezar muito, me recordar de todos aqueles que se recomendam às minhas orações e, também, fotografar os ambientes para lhes apresentar.

Um pouco de história

Essa belíssima Basílica data do século IV da era cristã, sendo mais antiga que a Basílica de São Pedro, no Vaticano. Sabemos que os cristãos foram duramente perseguidos, também na cidade de Roma, até o século IV, quando no tempo do imperador Constantino, foram promulgados os editos de tolerância ao cristianismo.

No início do século IV, o imperador Constantino ordenou que fossem iniciadas escavações nos lugares da cella memoriae (local onde, por tradição, os cristãos veneravam a memória do apóstolo São Paulo, decapitado entre 65 e 67, sob o império de Nero). Foi sobre o túmulo onde repousava o corpo do Apóstolo, situado na via Ostiense, aproximadamente 2 km fora dos muros que cercam Roma (por isso a Basílica e conhecida como "São Paulo fora dos Muros"), que o imperador mandou erguer uma Basílica, consagrada pelo papa Silvestre em 324.

O templo foi sendo, ao longo do tempo, reformado e ampliado, atingindo seu auge em beleza no século XIII. Meta sagrada de peregrinações ao longo do período histórico conhecido como "cristandade", a Basílica de São Paulo Fora dos Muros é famosa por suas obras de arte.

Infelizmente, na noite de 15 de julho de 1823, um incêndio destruiu todo esse verdadeiro tesouro artístico e espiritual acumulado por mais de 1500 anos. A basílica, no entanto, foi reconstruída idêntica a que existia antes, com a reutilização dos elementos que o fogo não consumiu.

Hoje, São Paulo Fora dos Muros é, na verdade, mais que uma Basílica. Trata-se de um complexo extraterritorial do Vaticano. O conjunto compreende compreende uma abadia beneditina muito antiga. Os monges beneditinos da antiquíssima abadia, edificada junto ao túmulo do Apóstolo pelo papa Gregório II (715-731), trabalham incessantemente no ministério da Reconciliação aos fiéis peregrinos e na realização de eventos ecumênicos, muito tradicionais aliás, naquele templo (é nessa Basílica, por exemplo, que se conclui todos os anos, no dia da conversão de São Paulo, 25 de janeiro, a Semana pela Unidade dos Cristãos por aqui).

Ano Paulino (2008-2009)

Creio que você, caro amigo, já deve ter escutado alguma coisa a respeito do "Ano Paulino". Não? Bem, eu lhe digo alguma coisa a respeito agora. Em 28 de junho de 2007, o Papa Bento XVI esteve na Basílica para promulgar o “Ano Paulino”, ou seja, um ano dedicado à memória do Apóstolo, com a finalidade de celebrar seus dois mil anos de nascimento. As comemorações terão início em 28 de junho de 2008 e serão concluídas em 29 de junho de 2009.

No último dia 10 de maio, a Santa Sé lançou um decreto por meio do qual anuncia a concessão de especiais indulgências válidas para o período estabelecido para o Ano Paulino. Este documento pode ser visto na seguinte página da internet: http://www.vatican.va/roman_curia/tribunals/apost_penit/documents/rc_trib_appen_doc_20080510_san-paolo_po.html

Se você quiser mais informações a respeito de como será o Ano Paulino e de quais os eventos que marcaram as comemorações, poderá também acessar um site que foi especialmente criado para isso: http://www.annopaolino.org/ O site está disponível em inglês, espanhol, italiano e francês.

Por fim, concluo essa seção sobre o Ano Paulino, recordando que voltaremos outras vezes a falar sobre o assunto. Procurarei, aqui em Roma, acompanhar o máximo que puder, os eventos desse ano comemorativo. Posso adiantar àqueles que me acompanham pelo blog que farei uma viagem de estudos, nos próximos meses, aos lugares por onde o Apóstolo Paulo passou na fundação das primeiras comunidades cristãs (atuais Turquia e Grécia). Será, sem dúvida, uma experiência riquíssima que procurarei partilhá-la aqui, se Deus quiser.

O tumulo do Apóstolo

Sabe-se que Paulo chega a Roma, no ano de 61, para ser julgado. É decapitato entre os anos de 65 e 67 e seu corpo, depositado a pouco mais de três quilômetros do lugar de seu martírio. Ele é sepultado no sepulcro que uma cristã de nome Lucina possuía na via Ostiense. Esse sepulcro fazia parte de um cemitério que existia naquela região. na verdade, só foi possível sepultar o apóstolo Paulo num cemitério romano, mesmo sendo ele um cristão, porque era também um cidadão romano.

Seu túmulo, no entanto, logo se tornou objeto de veneração dos cristãos do primeiro século. Sobre ele se edificou um memorial (cella memoriae). Sabe-se que durante os séculos de perseguição aos cristãos, vários fiéis e peregrinos se dirigiam para lá em oração, haurindo forças para prosseguir a evangelização que Paulo havia iniciado.

De fato, estar diante do túmulo do Apóstolo é, ainda hoje, uma experiência indescritível. Hoje, pela manhã, quando visitava a Igreja (o túmulo fica bem no centro dela, sobre o qual está erguido o altar-mor da Basílica), pude rezar diante dele. Além de me recordar de muitos que se recomendam às minhas orações, pedi muito ao Senhor à Igreja de hoje, a graça de outros cristãos como Paulo. Precisamos de pessoas assim... Precisamos ser como ele! Pedi, ali, a graça de um coração que saiba amar a Deus acima de todas as coisas, de maneira incondicional, como Paulo amou; a graça de uma vida que possa ser vivida para evangelizar e tornar o nome do Senhor conhecido, exatamente como ele o fez!

É certo que o convite a evangelizar é feito a todos os batizados, sem exceção, não importanto o estado de vida (solteiros ou casados). Mas estou plenamente convencido de que o Senhor, sobretudo hoje em dia, continua chamando especificamente os jovens a entregarem suas vidas pela causa do Evangelho, de maneira mais radical. Tais jovens, rapazes e moças, precisam apenas de pessoas que os ajudem a compreender esse chamado, que os estimulem e os encoragem a se entregarem a Deus, sem medida. Esses jovens precisam saber que vale realmente a pena viver dessa forma! O mundo precisa de gente assim...

Convido você, que me acompanha por esse blog, a rezar por eles. Quem sabe não seja você um desses jovens dos quais falo? Quem sabe Deus não esteja se manifestando, mais uma vez, ao seu coração, agora...? De toda forma, colaboremos com o bom Deus que continua falando aos homens e mulheres de nosso tempo, e convocando alguns a, não somente orientarem, mas a consagrarem radicalmente a sua vida pela causa do Evangelho.

São Paulo Apóstolo, rogai por nós.

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

A entrada da Basílica, vista da Praça de São Paulo





O jardim interno, ladeado por centenas de belíssimas colunas, tendo a imagem do Apóstolo ao centro.





A imagem do Apóstolo em destaque e o mosaico de Pietro Cavallini, na fachada da Igreja.



A Basílica vista por dentro. Aos fundos (da foto), está o presbitério e o altar-mor, edificado sobre o túmulo do Apóstolo. Ao redor do espaço central, contam-se quase cem belíssimas colunas.



A entrada do sepulcro do Apóstolo. Como dito anteriormente, sobre o sepulcro foi edificado o altar-mor da Basílica. Na foto, pode-se ver que está em obras de restauração para a abertura do Ano Paulino com a presença do Papa Bento XVI.



O espaço do sepulcro visto de cima.




Nessa foto, pode-se ver o sepulcro protegido pela gade. O que está sob a redoma de vidro são as escavações da pedra fundamental da primeira basílica construída pelo Imperador Constantino, no início do século IV, como diz a história, bem em cima do sepulcro do Apóstolo.



Detalhe na cúpula da Basílica. Devo confessar que a foto não ficou nada boa. A pintura é de uma beleza indescritível...

O antiquíssimo claustro, aberto à visitação (fotos acima e abaixo). Também ele é ladeado por diversas colunas.

domingo, 18 de maio de 2008

Solenidade da Santíssima Trindade - Ano A - 2008

Evangelho (João 3,16-18)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós!
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo João.
— Glória a vós, Senhor!

Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito.

— Palavra da Salvação!
— Glória a Vós, Senhor!


Ícone da Santissima Trindade por Rublev (séc. XV): à primeira vista indistinguiveis, mas o Pai é o da esquerda (sobre a cabeça ereta está a casa de Abraão e seu manto tem cor indefinida, resultante da mistura das vestes do Filho e do Espirito Santo; a veste interior, azul, representa a divindade). O anjo do meio representa o Filho cuja túnica é purpura, simbolizando a humanidade. Acima dele está o carvalho de Mambré, simbolizando o tronco de Jessé, pelo qual Cristo veio ao mundo. O anjo da direita é o Espírito Santo, cujo manto verde representa a eternidade. A doçura e leveza das suas linhas oferece a idéia de consolo, é o Espirito de Amor.



Na segunda leitura da Solenidade da Santíssima Trindade, lemos um trecho da segunda carta que Paulo endereça aos Coríntios, muito provavelmente, escrita em 56 d.C. Ali, Paulo diz: "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós." De fato, a Igreja confessa, desde sua origem, a fé em Deus Uno e Trino: Pai e Filho e Espírito Santo.

Deus Uno e Trino

Que significam essas duas palavras: Uno e Trino? 'Uno' significa dizer que Deus é um só, indivisível numa unica essência, substância ou natureza e, portanto, inseparável. 'Trino' implica dizer que nessa Unidade, subsistem três pessoas: Pai e Filho e Espirito Santo.

Mas como pode ser 'uno' e 'trino' ao mesmo tempo? Ao longo de sua história, a Igreja sempre procurou formular de modo mais explícito a fé em Deus Uno e Trino, tanto para melhor aprofundar a compreensão de tão grande mistério como para defendê-lo de tantos erros que foram surgindo. Por mais que, hoje, tenhamos, o quanto possível, uma maneira muito clara de expor o mistério central da fé e da vida cristã, não podemos nunca nos esquecer que estamos falando do Mistério de Deus, diante do qual a primeira atitude mais justa é a de profunda contemplação e adoração!

Na primeira leitura da Solenidade da Santíssima Trindade, Moisés invoca o Senhor como sendo "Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel" (Exodo 34,6). De fato, a mais expressiva e sintética forma de falarmos de Deus, é aquela encontrada em 1 João 4,8: "Deus é Amor". E é justamente, a partir desse reconhecimento que fixaremos nossa atenção na tentativa de explicitar ainda mais o mistério de Deus Uno e Trino.

Deus é Amor

Quando professamos que Deus é um só, não estamos afirmando que Ele seja um ser solitário. De fato, o Amor não é solitário, implica relação, onde exista aquele que ama e aquele que é amado. A expressão Deus é Amor nos revela que, em Deus, existe uma verdadeira comunhão de pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo. Por sua vez, onde existe comunhão, existe unidade. Dizer que Deus é Amor, implica necessariamente afirmar que essas três Pessoas Divinas estabelecem entre si uma comunhão tão perfeita que se pode falar de perfeita e absoluta unidade.

Permitamos que o Espírito Santo nos faça mergulhar nesse Mistério de Amor, pois "o Espírito tudo sonda, até mesmo as profundezas de Deus" (1 Coríntios 2,10). É o Espírito que nos faz conhecer Jesus, já que em Jesus "se manifestou o amor de Deus por nós: Deus enviou seu Filho único ao mundo para que vivêssemos por meio dele" (1 João 4,9).

Há algumas semanas atrás, "inaugurei" mais uma seção nesse blog que procurei chamar de "Um amigo de Deus". Trata-se de uma tentativa de comunicar como várias pessoas, a partir de diferentes maneiras, viveram a amizade com Deus na própria vida. Hoje, encerro essa postagem sobre a Solenidade da Santíssima Trindade, recordando as palavras de mais um desses amigos.

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.




Um amigo de Deus


"Ó meu Deus, Trindade que adoro, me ajudai a me esquecer inteiramente para me fixar em Vós, imóvel e pacífica, como se a minha alma já estivesse na eternidade: que nada consiga perturbar a minha paz nem me fazer sair de Vós, ó meu Imutável, mas que a cada minuto me leve mais longe na profundidade do vosso Mistério! Pacificai a minha alma! Fazei dela o vosso céu, vossa amada morada e o lugar do vosso repouso. Que nela eu nunca vos deixe só, mas que eu esteja aí, toda inteira, completamente vigilante na minha fé, toda adorante, toda entregue à vossa ação criadora."


Bem-aventurada Elisabete da Trindade
(*1880 + 1906)



terça-feira, 13 de maio de 2008

Um amigo de Deus (13.05.2008)



"Coragem! Imitemos o nosso querido Jesus em tudo, mas especialmente na humildade e no amor. Sim, tenham coragem: Jesus quer bem a vocês! É verdade que vocês passam por alguns sofrimentos, mas o Senhor quer que levemos um pouco de cruz nesse mundo. Ele foi o primeiro a nos dar o exemplo. Portanto, com coragem, vamos segui-lo, sofrendo com paciência. Estejam certos que Jesus está mais perto daqueles que mais sofrem.

É preciso, no entanto, que tudo façamos com reta intenção, por amor a Ele somente. Coragem, portanto! Lembremos que tudo passa, por isso nada nos perturbe, porque tudo nos serve para conquistarmos a verdadeira felicidade. Permaneçam alegres!"

Santa Maria Mazzarello
(*1837 +1881)

sábado, 10 de maio de 2008

Solenidade de Pentecostes - Ano A - 2008


Evangelho (João 20, 19-23)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós!
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor!


Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”.

— Palavra da Salvação
— Glória a vós, Senhor!


Chegamos à Solenidade de Pentecostes e, com ela, ao término do Tempo Pascal. A partir de segunda-feira, a Igreja retoma o Tempo Comum, indicando que é a partir do "comum" de nossas vidas que somos convidados a mergulhar no insondável mistério de Deus. Com o derramamento do Espírito Santo, a revelação do Mistério de Deus se completa plenamente. É caminhando no Espírito Santo e, pelo Espírito, que somos inseridos no Mistério da Trindade. Por isso, no próximo domingo, já em pleno Tempo Comum, celebraremos o Domingo da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.

Importa saber que o caminho que devemos fazer em direção a Deus, nós o fazemos pelo Espírito Santo. É Ele quem vai iluminando nossa vida com seus dons, fazendo-nos conhecer o Jesus, o Filho de Deus e, este, por sua vez, nos revelando o rosto de seu Pai. Em suma, podemos dizer que o Espírito Santo é a "porta de entrada" no mistério de Deus!

Se olharmos com atenção para as leituras desse Domingo de Pentecostes, poderemos ampliar ainda mais nossa compreensão sobre o modo como age o Espírito Santo. Vamos, de um modo muito simples, comparar a Primeira Leitura (Atos 2, 1-11) e o Evangelho (João 20, 19-23).

Vemos que são duas maneiras bem diversas de relatar a ação do Espírito na Igreja de Cristo. No primeiro texto, o Espírito é relatado como "vento impetuoso" que enche o local onde a Igreja está reunida e que, por causa de sua ação, uma multidão de homens vindos de todas as partes consegue alcançar a unidade. A imagem do "vento impetuoso" é utilizada pelo autor dos Atos dos Apóstolos justamente para realçar a força de Deus que chega a toda a humanidade dispersa (representada ali pelos homens que vinham de todas as partes), transformando-a em um único corpo, a Igreja. E, de fato, o Espírito Santo é essa força mesmo! É Ele que vivifica a Igreja de Cristo presente no mundo, a mantendo unida e que a impulsiona a evangelizar com audácia e ousadia todos os povos, línguas e nações.

Mas, quando pousamos o olhar sobre o trecho do Evangelho de João, vemos um outro cenário descrito pelo autor. Ali, Jesus entra no lugar onde estavam os discípulos estavam fechados e sopra sobre eles o Espírito Santo. Já não é mais um vento impetuoso que invade toda a casa, mas um sopro de vida que penetra o interior de cada um... A intenção do autor parece ser outra, é a de manifestar uma outra feição do mesmo Espírito, é a de falar da intimidade que o Espírito estabelece, não com os povos em geral, mas agora, com cada uma das pessoas...

Vejam! É o mesmo Espírito agindo, porém de diferentes formas. Compreender isso é maravilhoso! Passamos a entender que o mesmo Espírito que vivifica, mantém unido e impulsiona todo Povo de Deus a evangelizar, é aquele que entra no íntimo de cada coração, suavemente, como um sopro de vida que tudo vai regenerando... Compreendemos que Deus é força potente, mas também ternura e doçura...

Sim, queremos sentir a ternura e doçura do Espírito que age dentro de nós! Queremos também, como células vidas do único Corpo de Cristo que é a Igreja, sentir a força potente de Deus que nos impulsiona a sermos sal e luz para o mundo. Oremos:


"Vinde, Espírito Santo e enchei os corações dos vossos fiéis,
acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai, Senhor o vosso Espírito e tudo será Criado e renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruistes os vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas e gozemos sempre da sua consolação, por Cristo, Senhor nosso. Amém."

Itália - Região delle Marche

Depois de um bom tempo, volto a mostrar um pouco desse belo país que vai me conquistando aos poucos. Na verdade, faz quase um mês que conheci os lugares que vou lhes apresentar agora, mas em virtude da correria com os estudos, só pude postar agora. Eu os conheci no Dia da Comunidade do mês de abril.

Antes, creio ser interessante explicar o que é o Dia da Comunidade, não é mesmo? Preciso, no entanto, dizer antes, que nós, Salesianos de Dom Bosco, moramos sempre em comunidade, onde procuramos tudo partilhar com os irmãos que Deus nos apresenta para viver junto a nós; cada uma dessas comunidades é formada por certo número de salesianos (padres e leigos consagrados). Procuramos, na comunidade, viver uma verdadeira vida de família! Por isso, como toda família que quer permanecer unida, também nós procuramos, em meio aos compromissos do dia-a-dia, reservar alguns momentos para estarmos realmente juntos. Um desses momentos recebe o nome de Dia da Comunidade. Trata-se de um dia em que cada um de nós deixa os compromissos pessoais de lado para estar junto com os irmãos de comunidade, seguindo uma programação especialmente preparada para favorecer essa convivência fraterna.

Pois bem, em nosso último Dia da Comunidade, resolvemos conhecer alguns lugares próximos a Roma. Passamos um sábado juntos! Agora, apresentarei um pouco de tudo quanto pude conhecer, junto aos meus irmãos de comunidade.

Regione delle Marche (Região das Marcas, em português)

Recordo que a Itália é formada por vinte regiões, criadas pela Constituição de 1948. Hoje, quero lhes falar de mais uma delas: a Região de Marche. Localizada na parte central da Itália, conta com pouco mais de 1.500.000 de habitantes e faz divisa com famosas regiões italinas, tais como Toscana, Umbria e Abruzzo, além de estabelecer fronteira com a República de San Marino. Com 9.964 km2, Marche é banhada, ao leste, pelo Mar Adriático. Portanto, para que você se localize bem no mapa, nos encontramos "do outro lado" da Itália (coloquei a expressão entre aspas porque esse "do outro lado" fica distante cerca de 3 horas de Roma...).

A Região de Marche é formada por cinco províncias (que correspondem ao que chamamos de estados) e 246 comunes (são como os nossos municípios), do quais os maiores são: Ancona (capital da região), Pesaro e Fano.

A província de Ancona

A província de Ancona possui pouco mais de 460.000 habitantes. Formada por 49 municípios, sua capital leva o mesmo nome e é, como dissemos, a capital de toda a Região também. Dessa província, tivemos a oportunidade de conhecer três municípios: Genga, Corinaldo e Loreto.

A cidade de Genga

Genga é uma cidadezinha de pouco mais de 2000 habitantes com uma pequena área de cerca de 73 km2. De Genga, creio, se pode dizer pouca coisa... Soube que o Papa Leão XII, que governou a Igreja de 1823 a 1829, nasceu nessa pequena cidade. Dois lugares que merecem ser visitados é a Abadia de São Vítor (século XI) e as grutas de Frasassi. Nós passamos, praticamente, a manhã de sábado, visitando as grutas de Frasassi, local belíssimo que quero lhes apresentar agora.

Grutas de Frasassi

O lugar é de uma beleza extraordinária! Vale a pena o tempo que se gasta por lá! É fantástico ver a maravilha que a natureza levou milhares de anos para fazer, absolutamente preservada!

As grutas de Frasassi foram descobertas no dia 28 de junho de 1948 quando alguns componentes de um grupo espeleológico de Ancona ("espeleologia" é a ciência que estuda as cavidades naturais e fenômenos cársticos) encontraram uma primeira gruta chamada Grotta del Fiume (Gruta do Rio). Outras inúmeras descobertas foram sendo feitas ao longo dos anos por diversos grupos de exploradores profissionais. Hoje, o complexo de grutas conta com mais de 13 km de extensão. No interior das grutas, encontram-se centenas de estalagmites e estalactites, formadas ao longo de 190 milhões de anos, graças à ação da água e das rochas. O site oficial do local, para quem deseja conhecer melhor é http://www.frasassi.com/.


Monte que se pode avistar antes de ingressar nas grutas de Frasassi (detalhe). A foto assinala bem o aspecto da região.

Estalagmites e Estalactites, no interior da gruta (fotos abaixo e acima) É possível, no entanto, encontrá-las com cerca de 5 m de comprimento ou mais.





A cidade de Corinaldo

Com cerca de 49 km2, Corinaldo é uma belíssima cidade que possui pouco mais de 5.000 habitantes. Mas você pode se perguntar sobre o que é que pode existir de interessante num local como esse, além de sua beleza natural. Pois bem. Terei o prazer em responder, já que as verdadeiras pérolas preciosas, nós as encontramos dentro das mais pequeninas conchas no fundo do mar... Foi em Corinaldo que Deus começou a preparar, de maneira extraordinária, o coração de uma pequena menina chamada Maria Goretti. Vale a pena conhecer a história dela...

Maria Goretti

Maria Goretti nasceu na cidade de Corinaldo, aos 16 de outubro de 1890. Filha de Luigi Goretti e Assunta Carlini, era a terceira de sete filhos de uma família camponesa muito pobre, mas de vivência religiosa muito profunda. Luigi Goretti, depois do nascimento de seu quarto filho, pela dura crise econômica que enfrentava, decidiu emigrar com sua família às grandes planícies dos campos próximos à cidade de Roma. Instalou-se em Ferriere di Conca, colocando-se a serviço do conde Mazzoleni.

Com a morte do pai, Assunta Carlini não tinha como retornar com os filhos a Corinaldo e por isso, passa a morar na casa de uma família que prestava os mesmos serviços ao conde e era composta por um pai viúvo e dois filhos, sendo um deles Alessandro, com dezenove anos de idade.

Maria Goretti, desde muito pequena, foi sempre um exemplo de amor a Deus. Os testemunhos a respeito de sua pessoa apontam uma maturidade humana e espiritual muito precoces que a faziam se destacar diante de todos. Por várias vezes, Alessandro tentou seduzir Maria Goretti, que ficava em casa para cuidar dos irmãos menores, enquanto a mãe e os demais irmãos trabalhavam na roça para ganhar o sustento da família. A resposta foi sempre negativa por parte da jovem que sempre lhe dizia: "Não, Deus não quer. É pecado!"

No dia 5 de julho de 1902, quando Maria Goretti contava com apenas doze anos de idade, à tarde, no momento em que ela se encontrava sozinha em casa, Alessandro se aproximou e a convidou para acompanhá-lo. Como ele não disse para onde, Maria Goretti se negou a atendê-lo. Foi quando Alessandro a puxou para dentro da cozinha da casa dela e, ali, a amordaçou com a intensão de abusar sexualmente da menina. Quando Alessandro tentou, à força, lhe arrancar a roupa, Maria Goretti consegue desatar a mordaça da boca e gritou com força: "Não faças isso que é pecado! Irás para o inferno!" Diante da insistência da garota, Alessandro a golpeou com quatorze facadas.

Maria Goretti morreu no hospital da região, no dia seguinte, aos 06 de julho de 1902. Momentos antes de sua morte, foi atendida pelo sacerdote que lhe ouviu a confissão dos pecados e lhe conferiu a unção dos enfermos. Quando indagada pelo padre se perdoava seu agressor, a menina respondeu com prontidão: "Sim, eu o perdôo por amor a Jesus e quero que ele também venha comigo ao paraíso. Quero que esteja a meu lado! Que Deus o perdoe, porque eu já o perdoei..."

Alessandro foi preso e condenado a trinta anos de trabalhos forçados, enquanto a mãe e os irmãos de Goretti retornaram a Corinaldo. Depois de vinte e cinco anos de prisão, ao receber a visita pastoral do bispo da cidade, Alessandro se converteu, mostrando-se profundamente arrependido. Mais tarde, depois de ter tido um sonho onde Maria Goretti lhe apareceu, vestida de branco no paraíso, Alessandro, muito questionado, escreveu ao bispo, dizendo: "Lamento pelo crime que cometi porque sou consciente de ter tirado a vida de uma pobre menina inocente que, até o último momento, quis salvar sua honra, sacrificando-se antes de ceder a minha vontade criminosa. Peço perdão a Deus publicamente, e à pobre família, pelo enorme crime que cometi. Confio obter também eu o perdão, como tantos outros na terra". Seu sincero arrependimento e sua boa conduta na prisão lhe devolvem a liberdade quatro anos antes da expiração da pena. Depois, trabalhou o resto de seus dias em um convento dos frades capuchinhos, mostrando uma conduta exemplar, sendo também admitido na Ordem Terceira de São Francisco de Assis.

Graças à sua boa disposição, Alessandro foi chamado como testemunha no processo de beatificação de Maria Goretti. Diante de uma situação muito delicada e penosa para ele, confessou: "Devo reparação e devo fazer tudo o que esteja a meu alcance para sua glorificação. Toda a culpa é minha. Deixei-me levar por uma paixão brutal. Ela é uma santa, uma verdadeira mártir. É uma das primeiras no paraíso, depois do que teve que sofrer por minha causa".

No Natal de 1937, Alessandro dirigiu-se a Corinaldo para fazer reparação e pedir perdão à mãe de sua vítima. Quando se encontra com Assunta, pergunta-lhe chorando: "Assunta, pode me perdoar?", ao que lhe responde a mãe: "Se Maria te perdoou, como eu não vou te perdoar?" No mesmo dia de Natal, os habitantes de Corinaldo ficaram surpresos e emocionados ao ver aproximar-se à mesa da Eucaristia, um ao lado do outro, Alessandro e Assunta.

Anos depois, aos 24 de junho de 1950, o Papa Pio XII canonizou Maria Goretti diante de 400 mil pessoas reunidas na Praça de São Pedro, no Vaticano. Fato ainda mais impressionante foi que, durante toda a cerimônia, estiveram lado a lado, acompanhando tudo, sua mãe Assunta, e seu assassino, Alessandro.

Hoje, em Corinaldo, ainda se conserva a pequena casa onde Santa Maria Goretti nasceu e viveu os primeiros de sua vida, antes de se mudar com sua família para o lugar onde deveria viver o martírio em sinal de amor e fidelidade a Deus. Abaixo, seguem algumas fotos de sua casa natal.


A região de Corinaldo (detalhe).

Vista da frente da casa onde nasceu Santa Maria Goretti. Abaixo, alguns ambientes onde vivia com sua família.






A cidade de Loreto

A última cidade que visitamos foi a famosa Loreto. Distante 300 km de Roma, a cidade conta com mais de 12.000 habitantes e fica sobre uma belíssima colina nas costas do Mar Adriático. Desenvolveu-se em torno da Basílica que abriga a casa que, segundo a tradição, a Virgem Maria nasceu e cresceu e onde recebeu o anúncio do Anjo de que seria a Mãe do Salvador.

Santuário de Nossa Senhora de Loreto

A explicação para o fato da casa onde nasceu e cresceu a Virgem Maria estar em Loreto é baseada num documento de setembro de 1294. Segundo tal documento, as pedras da casa de Nossa Senhora foram trazidas da Palestina quando de lá se retiraram os cruzados, forçados a abandonar a Terra Santa por ocasião da invasão muçulmana. Acredita-se que tais pedras teriam sido trazidas de navio para Loreto como um presente para o Papa Celestino V. Naquele tempo, a cidade de Recanati, que se acha a poucos quilômetros de Loreto, fazia parte dos Estados Pontifícios e, por isso, as pedras vindas da região da ex-Iugoslávia, foram desembarcadas no porto de Loreto. O bispo da região achou por bem utilizá-las para a construção de uma capela dedicada à Nossa Senhora sobre a mais bela colina de sua diocese.

Nas imediações da capela havia um bosque de louros. Por isso o povo passou a chamar a Virgem de Nossa Senhora de Loreto, nome pelo qual também foi sendo designado o povoado que se desenvolveu ao redor da capela, aos pés da colina.

A capela tem 4,5 m de largura e 9,5 de comprimento, tamanho que dizem corresponder exatamente aos dos alicerces da casa que existia em Nazaré. As pedras originais da Palestina são as que se vêem nas paredes até os três metros de altura, aproximadamente. O restante utilizado para o término da construção são tijolos da própria região. A capela tem apenas três paredes, pois a quarta, atualmente erguida com mármore, não havia na casa de Nossa Senhora, que terminava numa gruta escavada na pedra (essa gruta, atualmente, é venerada na Basílica da Anunciação, na cidade de Nazaré).

Toda a capela é revestida de mármore, num monumento de arte feito por ordem do Papa Júlio II, pelo melhores artistas italianos da época. O monumento narra os principais fatos da vida de Nossa Senhora.

A construção da Basílica que abriga a Capela de Nossa Senhora de Loreto foi iniciada em 1468. Hoje, conta com oito altares laterais. Ao redor da Capela que ocupa o centro de toda a Basílica, há mais nove capelas conhecidas pelo nome das nações que patrocinaram a pintura das mesmas.



A colina vista da Igreja. Ao fundo, o Mar Adriático.

A entrada para o pátio da Basílica.



A Basílica vista de frente. No momento da foto, a luz do sol iluminava apenas a fachada da Basílica. São detalhes de Deus...



Torre da Basílica.



Vista do interior (uma das cúpulas da Basílica).


A antiga capela ocupa a nave central da Basílica e é revestida, como dito anteriormente, por um monumento de mármore, do qual vemos a frente.

O interior da antiga capela. As pedras da casa de Nazaré podem ser vistas na parede, sobre as quais foi feita a belíssima pintura.



O altar e a imagem de Nossa Senhora de Loreto.


Nossa Senhora de Loreto, rogai por nós!