terça-feira, 29 de abril de 2008

Um amigo de Deus (29.04.2008)


Ò Trindade eterna, tu és como um mar profundo que quanto mais procuro, mais encontro e quanto mais encontro, mais cresce a vontade de te procurar. Tu és infinito e minha alma, saciando-se em teu mistério, não se sacia porque permanece com fome de ti, sempre te deseja mais, querendo te ver com a luz que tu me dás, ó Trindade eterna.

Com minha inteligência, na tua luz, ó Trindade eterna, eu provei o teu mistério e a beleza da tua criatura. Por isso, me vendo em ti, vi que sou criada à tua imagem. De fato, tu és o Criador e eu a criatura. Eu compreendi que tu és apaixonado pela beleza da tua criatura.

E que mais poderia me dar além de ti mesmo? Tu és um fogo que arde sempre e não se consome. Tu és aquele que consome com teu calor todo tipo de amor próprio. Tu és o fogo que queima toda frieza e ilumina as mentes com a tua luz, com aquela luz com a qual me fez conhecer a tua verdade.

Espelhando-me nessa luz, eu te reconheço como bem supremo, bem sobre todo o bem, bem incompreensível, bem inestimável. Beleza sobre toda beleza! Sabedoria sobre toda sabedoria. Na verdade, tu és a própria sabedoria. Tu és o alimento dos anjos que, por amor, se deu aos homens.

Tu és a roupa que cobre a minha nudez. Tu és o alimento que sacia os famintos com a tua doçura. Tu és plenamente doce. Ó Trindade eterna!


Santa Catarina de Sena
(*1347 +1380)

sábado, 26 de abril de 2008

"Ele permanece junto de Vós e estará dentro de Vós!" (João 14, 17)

6º Domingo da Páscoa - Ano A - 2008

Evangelho (João 14, 15-21)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós!
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo João.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Se me amais, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque ele permanece junto de vós e estará dentro de vós. Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. Pouco tempo ainda, e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis, porque eu vivo e vós vivereis. Naquele dia sabereis que eu estou no meu Pai e vós em mim e eu em vós. Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele.

— Palavra da Salvação!
— Glória a Vós, Senhor!


Imagem do Espírito Santo fixada na Basílica de São Pedro, em Roma


Damos mais um passo importante, nesse 6º Domingo do Tempo da Páscoa, rumo à Solenidade de Pentecostes, momento em que a revelação de Deus Uno e Trino alcança, como dissemos, sua completude. De fato, é o Espírito Santo que nos introduz no mistério de Deus. É isso que Jesus explicava aos discípulos quando lhes dizia: “O Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, Ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,23-29).

Você, meu amigo, que tem acolhido em sua vida esse convite que o Senhor lhe faz de crescer a cada dia no conhecimento Dele, saiba que é pela ação do Espírito Santo que você avança. É o Espírito Santo que, agindo em sua vida, ao mesmo tempo que vai abrindo seu coração e entendimento às coisas do Senhor, vai também lhe apresentando Jesus, o Filho de Deus e este, por sua vez, como ouvimos no Evangelho do domingo passado, é quem lhe revela o rosto do Pai. É, assim, somente no Espírito Santo que penetramos o mistério de Deus.

Importante, por isso, é pedirmos o dom do Espírito sobre nós, todos os dias de nossa vida. Se queremos crescer cada vez mais no Senhor, se queremos conhecê-lo mais profundamente, se queremos, por fim, nos tornarmos cada dia mais íntimos de Deus, uma só é a súplica que deve brotar, continuamente, de nossos lábios. Precisamos aprender a pedir: "Vem, Espírito Santo!"


"... Ele vos dará outro Defensor, para que permaneça convosco para sempre. " (João 14, 16)


Eis um versículo simples e profundo que traz consigo uma verdade que é capaz de mudar nossa vida inteira: o Espírito permanece conosco para sempre! Isso significa dizer que nunca estamos sós, que o Senhor nunca nos abandona, pois permanece e age em nós por meio de seu Espírito.

Quantas pessoas precisam "acordar" para essa novidade! Quantos precisam acolher essa verdade que transforma: "...Ele permanece junto de vós e estará dentro de vós" (João 14, 17). Somos templos do Espírito Santo! Deus habita dentro de nós por meio de seu Espírito! Tomar posse dessa certeza é o início da mudança de vida tão necessária, é permitir que Deus opere livremente em nosso coração, é entregar a condução de nossa vida em suas santas mãos, é sermos, enfim, inteiramente Dele. É sermos, de verdade, amigos de Deus...!

Ao longo de semana, convido você a pedir junto comigo o dom do Espírito Santo sobre nossa vida! Você pode se perguntar: "Mas se Ele está dentro de mim, por que é preciso que eu o peça?" Na verdade, pedir o dom do Espírito significa lhe dar a "permissão" de agir em nós. Deus não age em nós sem nossa permissão... Ele respeita até o último instante nossa liberdade... Por isso, é importante pedir com fervor: "Vem, Espírito Santo!"; em outras palavras, dizer-lhe: "Sim, Senhor, age em mim, eu lhe permito... E nós poderemos fazer essa pequena oração, repetindo-a ao longo de todo o dia: ao levantar, no caminho para o trabalho ou à escola, durante nossas atividades, no banho, enfim, em todas as grandes e pequenas atividades que realizamos, basta dizer do fundo do coração: "Vem, Espírito Santo!" É assim que vamos permitindo que Ele vá ampliando seu raio de ação dentro de nós...

Tenho a certeza de que, pouco a pouco, seremos pessoas transformadas pelo poder do Espírito de Deus! Eu acredito nisso! E você?


Com afeto salesiano

P. Mauricio Miranda.

domingo, 20 de abril de 2008

"Eu estou no Pai e o Pai está em mim!" (Jo 14,11)

5º Domingo da Páscoa - Ano A - 2008

Evangelho (João 14, 1-12)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós!
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo João.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: "Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós e, quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais também vós. E, para onde eu vou, vós conheceis o caminho". Tomé disse a Jesus: "Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?" Jesus respondeu: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes". Disse Felipe: "Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!" Jesus respondeu: "Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces, Felipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: 'Mostra-nos o Pai?' Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai, que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditai, ao menos, por causa destas mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo, quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai".

— Palavra da Salvação!
— Glória a Vós, Senhor!



Temos comentado nas últimas postagens que o Senhor, pouco a pouco, tem se revelando a nós e nós, à medida em que o acolhemos, vamos penetrando, cada vez mais, o mistério de sua Pessoa. O mesmo Senhor, nesse próximos domingos do Tempo da Páscoa, dará passos decisivos na plena manifestação de seu Mistério. É justamente com o envio do Espírito Santo que a revelação do Mistério de Deus, Uno e Trino, alcança sua completude.

A Igreja, nas próximas semanas, caminhará pelo 6º Domingo do Tempo da Páscoa, Domingo da Ascensão do Senhor, Domingo de Pentecostes, Festa da Santissima Trindade para, então, reentrar no Tempo Comum. Isso significa que seremos levados a aprender a viver no "comum" de nossas vidas, a partir da celebração do Mistério de Deus Uno e Trino. De fato, nós celebramos o mistério sublime de nossa fé, em cada celebração litúrgica (mas sobretudo na Eucaristia), “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” e somente com “a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo” podemos caminhar na fé, vencendo os obstáculos da vida, em direção à comunhão definitiva com Deus.

Por isso, se percebemos, no Evangelho desse 5º Domingo da Páscoa, o Senhor nos convida a darmos um passo decisivo para adentrarmos no Mistério de Deus. Jesus fala do Pai!

"Senhor, mostra-nos o Pai"

Nesse pedido de Felipe está sintetizado o desejo do coração de toda a pessoa humana. Nós, em verdade, não buscamos outra coisa senão a comunhão com Deus. Os homens e as mulheres de todos os tempos, podem dar vários nomes a essa busca, mas a verdade é uma só: todos buscamos a comunhão com o Mistério de Deus, porque temos absoluta necessidade Dele. A todo instante, é isso que pedimos: "Senhor, mostra-nos o Pai".

"Eu estou no Pai e o Pai está em mim"

Todavia, ainda mais interessante é a resposta que Felipe recebe de Jesus. "Quem me viu, viu o Pai" (João 14,9) e "... eu estou no Pai e o Pai está em mim " (João 14,10) são palavras pelas quais Jesus se apresenta como o Filho de Deus que, porque Filho, é uma coisa só com o Pai, o mesmo Deus.

Por isso também Ele diz que todo aquele que deseja conhecer o Pai, "tocar" o Mistério de Deus, terá que passar por Ele, reflexo explícito de tal Mistério. É, portanto, nesse contexto que podemos ler o versículo "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim". (João 14, 6)

Você pode se perguntar pelo Espírito Santo. Nós veremos Jesus falar sobre Ele a partir do versículo 16 desse mesmo capítulo, no próximo Domingo do Tempo Pascal. É, como dissemos, uma revelação gradual, respeitosa dos passos que somos capazes de dar em direção a Deus. E que maravilha perceber que Deus tem paciência conosco! Que beleza compreender que Ele se revela por amor a nós! Que coisa boa compreendermos que, antes que nós queiramos, é Ele que deseja estabelecer comunhão conosco.

À medida em que vamos compreendendo essas coisas, palavras como aquelas com as quais o próprio Jesus inicia o Evangelho de hoje ("Não se perturbe o vosso coração"), se revestem de um sentido cada vez maior, de uma força que é capaz de envolver toda a nossa vida e de nos fazer caminhar com convicção de que, de fato, por toda a vida, "Ele está no meio de nós!"

Uma boa semana a você!

Deus te abençoe!
Com afeto salesiano

P. Mauricio Miranda.


domingo, 13 de abril de 2008

"Eu sou a Porta!" (João 10,9)

4º Domingo da Páscoa - Ano A - 2008

Evangelho (João 10, 1-10)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo João.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, disse Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora. E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas não seguem um estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos". Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que ele queria dizer. Então Jesus continuou: “Em verdade, em verdade vos digo, eu sou a porta das ovelhas. Todos aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.


- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.

Caros amigos

Nesse 4º Domingo da Páscoa, Jesus toma um exemplo muito comum aos homens e mulheres de sua época para falar sobre o modo como Deus se relaciona conosco. Certamente, falando a nós homens e mulheres de hoje - ao menos a nós que habitamos em grandes cidades -, ele não utilizaria a figura do pastor de ovelhas. Jesus utilizava linguagem e imagens muito próximas do cotidiano das pessoas para as quais ele falava, de modo que sua mensagem fosse muito bem compreendida. Aí está o belo: reconhecer esse desejo que parte do coração do Senhor de tornar sua mensagem cada vez mais clara e acessível e, que por isso, chegue ao coração de todos, sem exceção. De fato, na época de Jesus, a figura do pastor de ovelhas era bem conhecida, desde os doutores da Lei até as pessoas mais simples do povo.

É importante lançarmos um olhar sobre esse "mundo" do pastoreio. Hoje, vamos observá-lo sobre dois aspectos: o ambiente em si e a relação pastor-rebanho.

Em relação ao ambiente em si, podemos dizer que o pastor, mesmo nos nossos dias, é aquele que cuida do local no qual as ovelhas se encontram, desde da verificação das pastagens onde comem para se certificar que sejam boas e próprias até os cuidados com a segurança e limpeza de onde dormem. E, tanto carinho e dedicação para que possam viver bem e permanecerem livres dos perigos que mais assolam esse tipo de ambiente: doenças e animais predadores, por exemplo.

Justamente pelo contato que mantém com suas ovelhas, o pastor cria com elas um relacionamento de confiança. E aqui está o segundo ponto de nossa reflexão. Pelo convívio diário, ele acaba conhecendo suas ovelhas, de modo que, é capaz de distinguir muito bem uma da outra e saber quando esta ou aquela não está muito bem. E o rebanho também é capaz de conhecer quando é o pastor que se aproxima, capaz de distingui-lo dentre outras pessoas que se aproximam! É verdade, sim, que as ovelhas conhecem a voz do Pastor e que lhe são muito mais dóceis que à voz de pessoas estranhas.

Pois bem. No Evangelho de hoje, em relação ao ambiente do pastoreio, o Senhor nos faz fixar a atenção à função da porta do redil. Ele mesmo nos diz: "Eu sou a porta". A porta do redil tem uma função importantíssima: é por ela que o rebanho é conduzido para as pastagens mais seguras e também é por ela que o rebanho tem o retorno assegurado para um repouso tranquilo. Ela é, portanto, uma via de acesso necessária a todo o rebanho. Por isso, Jesus também afirma a seu respeito: "Quem entrar por mim será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem." É também a partir daí que podemos afirmar que a porta garante a vida do rebanho e, por isso também, ele afirma: "Eu vim para que tenham vida e a tenha em abundância."

Em relação ao relacionamento pastor-rebanho, Jesus também diz que "as ovelhas escutam a sua voz", que o pastor "chama as ovelhas pelo nome e as conduz, caminhando a sua frente" e que "as ovelhas o seguem porque conhecem a sua voz". Todas expressões para descrever a intimidade que se estabelece entre o pastor e seu rebanho. É por isso também que no versículo 11, o Senhor acabará dizendo: "Eu sou o bom pastor!".

Por fim, um outro item interessante a se observar no Evangelho desse 4º Domingo, é aquele por meio do qual o Senhor começa a narração: "Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas." Aqui, em outras palavras, está sendo dito que por essa porta só passa aquele que é verdadeiro pastor, ou seja, o pastor autêntico deve ter os mesmos sentimentos e atitudes em relação às ovelhas, deve amá-las e estar disposto a dar sua própria vida para que elas tenha vida, assim como o Senhor o fez. Por isso o Evangelho de hoje é também critério para todos aqueles que recebem a missão de serem pastores do povo de Deus. E é também por isso que a Igreja, nesse domingo, reza pelas vocações. Toda a pessoa que exerce para com o povo de Deus uma função, grande ou pequena, de "pastoreio" deve realizá-la por, com e em Jesus, a única porta pela qual se tem verdadeiro acesso ao rebanho.

Convido você, ao longo dessa semana, a rezar pelos nossos pastores para que sejam sinais vivos do Senhor da Vida para todo o rebanho que Deus lhes confia. Rezemos também para que todos cresçamos na intimidade com o Supremo Pastor, que conheçamos cada dia mais sua suave voz e que jamais nos separemos do rebanho que o tem como verdadeiro e único Pastor.

Boa semana todos!

Com afeto salesiano,

P. Mauricio Miranda.

Exercícios Espirituais na Polônia - Parte Final

6º e 7º dias: Wieliczka e retorno à Itália

No sexto dia do Retiro Espiritual, nós tivemos oração, pregação e tempo de silêncio e de oração pessoal pela manhã. Após o almoço, como era o nosso último dia de permanência na Polônia, fomos convidados a visitar a cidade de Wieliczka, onde se encontra uma das mais antigas minas de sal de toda a Polônia, inscrita pela UNESCO como "patrimônio cultural e natural da humanidade".

Wieliczka e as minas de sal

Wieliczka, fundada em 1290, é uma cidade do sul da Polônia, na área metropolitana de Cracóvia, situada na região da Pequena Polônia. As minas da cidade foram ocupadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e utilizadas como armazém para fábricas de produtos militares.

O local, além de belo pela beleza natural, abriga ao longo de suas galerias, diversas esculturas. Entre elas, as mais famosas são as de Nicolau Copérnico e de João Paulo II. A muitos metros de profundidade, pode ser vista uma belíssima capela toda talhada em sal (é uma maravilha!), onde todos os domingos se celebram missas ainda hoje. Descendo ainda um pouco mais, a mina oferece vários espaços para festas e eventos sociais: tudo a cerca de cento e cinquenta metros abaixo da superfície! Outras curiosidades são a realização de provas desportivas no local, além da existência de uma espécie de "sanatório", onde pessoas com problemas alérgicos ou respiratórios podem desfrutar dos benefícios de uma temporada subterrânea.




As minas de Sal em Wieliczka (entrada)

A cerca de 100 metros abaixo da superfície, uma capela toda esculpida em sal. De fato, tudo é feito de sal, o presbitério, as imagens, os detalhes dos lustres, as escadas e, inclusive, o chão.

O Crucifixo do Senhor, em sal.


Jesus entre os doutores da Lei. Obra talhada no sal.

Detalhes: piso do presbitério, altar central e cadeira do presidente. Tudo de sal!


No sétimo dia de retiro, tivemos a Missa de Conclusão dos Exercícios Espirituais e, logo em seguida, retornamos à Roma. As aulas começavam, logo no dia seguinte e, com elas, todas as exigências próprias do Mestrado que, inclusive, me impediram de escrever tudo isso antes.

Espero poder ter partilhado todas as riquezas que Deus me concedeu com você que me acompanha por este blog. Procuro fazê-lo, sobretudo, porque tenho recebido vários testemunhos de pessoas que se beneficiam com aquilo que por aqui lêem. Abaixo segue um trecho da homilia que João Paulo II fez no início de seu pontificado e que continua sendo plenamente atual. Creio também que ler essas palavras com os olhos de hoje, nos leva a reconhecer todo o pontificado desse grande homem em tão poucas, mas densas linhas: levar o Senhor aos homens, trazendo-os para o Senhor!

Deus abençoe sua vida!

Com afeto salesiano

P. Mauricio Miranda.




"Irmãos e Irmãs: não tenhais medo de acolher Cristo e de aceitar o Seu poder! E ajudai o Papa e todos aqueles que querem servir a Cristo e, com o poder de Cristo, servir o homem e a humanidade inteira! Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! Ao Seu poder salvador abri os confins dos Estados, os sistemas econômicos assim como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem "o que é que está dentro do homem". Somente Ele o sabe!


Hoje em dia, muito frequentemente o homem não sabe o que traz no interior de si mesmo, no profundo do seu ânimo e do seu coração, muito freqüentemente se encontra incerto a cerca do sentido da sua vida sobre esta terra. E sucede que é invadido pela dúvida que se transforma em desespero. Permiti, pois — peço-vos e vo-lo imploro com humildade e com confiança — permiti a Cristo falar ao homem. Somente Ele tem palavras de vida; sim, de vida eterna."

(João Paulo II ao mundo, aos 22 de Outubro de 1978)

Exercícios Espirituais na Polônia - Parte 5

5º dia: Santuário da Divina Misericórdia - Cracóvia

Esse, sem dúvida, foi um dos mais belos dias de todo o Retiro. Era sexta-feira. Dedicamos o dia inteiro à refletir e fazer experiência da Misericórdia do Senhor. Logo pela manhã, depois da oração e do café da manhã, tivemos uma pregação onde o pregador do Retiro nos falou como João Paulo II viveu, pessoalmente, a experiência da Misericórdia de Deus na própria vida e como tal experiência marcou o seu Pontificado.

Depois de um momento de silêncio e oração pessoal, tivemos a Celebração Penitencial e, logo após, todos nós, cerca de 50 padres, pudemos nos confessar. Como é bom poder fazer, agora como penitente, a experiência da misericórdia de Deus por nós. Em minha postagem sobre o dia de Páscoa, em Cassino (Itália), relatei como foi bom ser, como padre, sinal da Misericórdia de Deus às pessoas, mas muito melhor que isso, é ser objeto, alvo de tal Misericórdia.

Continuando nosso Retiro, à tarde, após o almoço, fomos visitar o Santuário da Divina Misericórdia: outra graça especial em minha vida! Sempre ouvi falar e observei a devoção a Jesus Misericordioso, mas nunca pensei que poderia estar no lugar onde tudo começou. Antes de contar minha experiência pessoal, é preciso dizer algo sobre a história do local e da devoção que ali nasceu.

Quem foi Madre Faustina Kowalska?

Helena Kowalska nasceu em 25 de Agosto de 1905 em Glogowice, na Polonia. De família muito pobre teve de trabalhar desde cedo para ajudar seus pais e, por isso, não conseguiu ingressar na vida religiosa, como o queria desde os 16 anos de idade. Após longo tempo de tentativa e de muito sofrimento em busca da realização de sua vocação, ingressa na Congregação da Mãe de Deus da Divina Misericórdia. Levou uma vida muito simples, mas muito piedosa. Agraciada com dons como o de locução interior e de visões, costumava ver e falar com o próprio Senhor por diversas vezes que, por sua vez, a revelava sempre sua face misericordiosa. A vida espiritual de madre Faustina Kowalska pode ser conhecida pelo Diário Espiritual que escreveu por ordem de seus superiores. Foi verdadeira apóstola da Misericórdia Divina durante toda sua vida. Por ordem do próprio Jesus que teria lhe falado ao coração e por sua indicação, o artista Edmundo Kazimierowski pintou a imagem "Jesus, eu confio em vós" que passou a ser venerada na capela da casa onde Madre Fastina morava. Morre aos 05 de outubro de 1938 e a devoção a Jesus Misericordioso se espalha rapidamente por todo o mundo.

A devoção, no entanto, a princípio, durante anos, sofreu uma proibição da Santa Sé. Mas depois, por especial ajuda de João Paulo II, foi resgatada. Quando da canonização de Santa Faustina, João Paulo II declarou o segundo domingo de Páscoa como o Domingo da Misericórdia Divina. Sobre esse especial influxo, a devoção passou a crescer, cada dia mais, nas mais diversas partes do mundo.

Minha experiência

Independente das coisas que relatei acima, minha experiência com a Misericórdia do Senhor sempre foi muito marcante em minha vida. Eis uma das feições do Senhor que mais me chamam a atenção: sua misericórdia.

Estar no Santuário da Divina Misericórdia para mim, foi um presente muito grande de Deus. Era uma sexta-feira e estavam todos num dos últimos dias da Novena da Divina Misericórdia, já que o próximo domingo seria o segundo domingo de Páscoa, portanto, o dedicado à Divina Misericórdia. Foi uma graça visitar aquele local e visitá-lo no final de semana da grande festa, graça maior ainda.

Mas os carinhos de Deus não param por aí... Para lhes contar outra graça, preciso retornar ao café da manhã desse dia. Geralmente, todas as missas que celebrávamos tinham o presidente e os dois principais concelebrantes, escolhidos previamente. Isso porque além desses três padres que ladeavam o altar, havia os outros quase cinquenta que concelebravam também. Por ser novo na comunidade, meu nome não estava escalado para nenhuma das missas que celebraríamos durante o Retiro; isso significa dizer que concelebraria junto aos outros padres, normalmente. No entanto, um dos padres que estavam escalados para acompanhar o presidente da celebração desse dia, não pôde de última hora comparecer ao Retiro e, o responsável pelas celebrações do retiro se sentou ao meu lado, à mesa do café da manhã. Naquele momento, ele me convidou a concelebrar a missa ao lado do presidente. Foi uma graça a Deus porque pude também nesse dia, proclamar o Evangelho!

Mas os carinhos de Deus ainda não tinham sido manifestos por completo. No ano da canonização de Santa Faustina, ao lado do convento das irmãs e da pequena capela da Divina Misericórdia, o Papa João Paulo II dedicou ("inaugurou") o belíssimo atual Santuário da Divina Misericórdia. Pois bem. Quando chegamos lá, ficamos sabendo que havia recebido liberação para presidirmos a missa no próprio Santuário. Resultado: concelebrei a missa no novo Santuário, no mesmo presbitério onde celebraram João Paulo II e Bento XVI em sua recente visita à Polônia. Bem, não preciso dizer mais nada... Em meu coração, só brotavam duas palavras: Muito obrigado! Abaixo seguem algumas fotos do local.







O Santuário da Divina Misericórdia (ele, na foto, é visto por trás, já que está voltado para uma imensa planície que não se pode ver pela foto).





A torre bem à entrada do Santuário. No detalhe (acima e abaixo), se vê a imagem de João Paulo que acolhe e abençoa os peregrinos que ali chegam sedentos da Misericórdia de Deus.





O interior do Santuário. É belíssimo! Todos os dias, às três da tarde (hora da misericórdia), os fiéis rezam o Terço da Misericórdia, todos de joelhos. Nesse momento, se pode vê, sobretudo, inúmeros jovens que, de joelhos, rezam fervorosamente. É um espetáculo a parte..., mas, na verdade, o mais belo que se pode contemplar nesse bonito lugar...



Cópia do Quadro de Jesus Misericordioso fixado no altar do Santuário.



Essa é a pequenina capela onde, segundo o Diário Espiritual de Santa Faustina, Jesus pediu que o quadro de sua Divina Misericórdia fosse colocado para veneração pública. Segundo ela, Jesus quis que a Divina Misericórdia fosse venerada pelas irmãs do convento, em primeiro lugar, mas depois pelo mundo inteiro!



Eis o famoso quadro original. Impressionante o silêncio que se pode sentir nesse local... Ali, rezei por todos que se recomendam às minhas orações ou foram a elas recomendados. Rezei, especialmente, por você que me acompanha por esse blog. Abaixo o quadro, pode se ver o local onde está posto o corpo de Santa Faustina.



Para finalizar essa postagem, quero lhe convidar a parar, por um momento, o que você está fazendo agora e colocar-se, por uns instantes sob a Misericórdia de Deus. Nesse poucos minutos de silêncio e encontro consigo e com o Senhor, sinta-se verdadeiramente amado (a) e acolhido(a) por Ele. Confie-se como é e como está agora... Confie seus pecados... Permita que Ele manifeste-se em sua vida como o "cheio de Misericórdia"! Procure, depois, ao longo do dia, repetir várias vezes a pequena frase que está inscrita no quadro: "Jesus, eu confio em vós".




Exercícios Espirituais na Polônia - Parte 4

4º dia: Debniki, Castelo Real de Wawel e arredores de Cracóvia

O quarto dia do Retiro foi dedicado ao estudo dos anos de juventude de Karol Woytilla, transcorridos em Cracóvia. Cracóvia, na verdade, foi a grande cidade de sua vida. Ali ele viveu, junto de seu povo, inúmeras dificuldades no tempo da invasão nazista, seja como jovem universitário, seja como seminarista clandestino. Na época do seminário, trabalhava ao longo de todo o dia e arrumava tempo para estudar sem que ninguém soubesse. Ele mesmo contava que, no trabalho, alguns amigos que sabiam de sua situação, permitiam que ele se ausentasse por algum tempo do trabalho para dar conta da leitura dos enormes livros que tinha para ler.

Fato curioso é que nesse tempo de sua juventude, os Salesianos de Dom Bosco tiveram um papel importante em sua formação religiosa e no surgimento de sua vocação. Ele, quando jovem, frequentava a paróquia salesiana de Debniki, um bairro da cidade de Cracóvia. Ele próprio, em seu livro "Dom e Mistério", lançado por ocasião de seus 50 anos de sacerdócio, relata a importância que as pessoas e aquele ambiente tiveram em sua vida (a tradução é minha e não observa nenhum rigor lingüístico):


"Devo ainda falar do período antecedente a minha entrada no seminário. Não posso, de fato, deixar de recordar um ambiente, e nesse lugar, um personagem de quem recebi muito, de verdade. O ambiente foi aquele de minha paróquia intitulada Santo Estanislau Kostka, em Debniki, em Cracóvia. A paróquia era cuidada pelos Padres Salesianos que um dia foram deportados pelos nazistas para o campo de concentração. Ficou apenas um velho pároco e o inspetor da província; todos os outros foram presos em Dachau. Creio que no processo de formação da minha vocação o ambiente salesiano tenha tido um papel importante."


De fato, depois de se tornar Papa João Paulo II, karol Woytilla confessou, certa vez, que foi diante do quadro de Nossa Senhora Auxiliadora, naquela paróquia que, em oração, ele recebeu a graça da vocação sacerdotal. Por isso, em sua última viagem a Polônia, ele fez questão de visitar nossa paróquia. Ainda que não tenha entrado (devido aos problemas de locomoção que já apresentava em idade muito avançada), parou à entrada da Igreja e rezou diante do quadro...

Durante o quarto dia do retiro, pela manhã tivemos oração, pregação e longo tempo para oração pessoal. À tarde, visitamos a paróquia salesiana. As fotos abaixo falam um pouco do local.


Paróquia salesiana de Debniki, Cracóvia (acima e abaixo)




Capela, onde hoje, se encontra o quadro de Nossa Senhora Auxiliadora, diante do qual o jovem Woytilla rezava sempre. À esquerda, está uma perfeita escultura feita por dois seminaristas salesianos da Polônia, em homenagem ao "ilustre paroquiano"...

A imagem de João Paulo II: a riqueza de detalhes é impressionante, parece vivo!

Eis o quadro diante do qual o jovem Woytilla rezava sempre. Depois de se tornar João Paulo II, ele confessou que foi diante dessa imagem que ele, recebeu de Nossa Senhora Auxiliadora, a graça da vocação sacerdotal...

Assim que saímos da paróquia salesiana de Debniki, fomos visitar o Castelo Real de Wawel. E por que visitamos esse local em dia de Retiro? Em primeiro lugar, porque, bem no meio do Castelo encontra-se a Catedral de Cracóvia, local de onde por longos anos, o simpático Cardeal Arcebispo karol Woytilla, governou e animou a Igreja de Cracóvia, até que o Senhor o chamou para ser Pastor da Igreja Universal. Na cripta da Catedral está o altar onde o recém-ordenado Padre Woytilla celebrou sua primeira missa. Outro fator que nos levou a realizar a visita ao Castelo Real é porque, de fato, a visita ao local é obrigatória para quem deseja conhecer a história de Cracóvia e de toda a Polônia.

Não pudemos retirar fotos das dependências do Castelo, mas apenas do saguão de entrada. Posso contar, no entanto, que o interior é belíssimo, bem conservado até os dias de hoje. A visita é uma verdadeira aula de história, já que retrata bem a sociedade polaca da Idade Média. Abaixo segue algumas das fotos que pudemos tirar do local.

Vista do Castelo Real de Wawel

Vista do Castelo Real de Wawel

Vista do Castelo Real de Wawel

Catedral de Cracóvia (o interior também não pode ser fotografado; é belíssimo!...)

Cripta da Catedral: esse foi o altar onde o jovem padre Karol Woytilla celebrou sua primeira missa. Disse certa volta que escolheu esse local para sua primeira missa, pois, de fato, nessa cripta está sepultada toda a história da Polônia. Na foto não é possível ver, mas nos arredores da cripta estão os túmulos de vários personagens importantíssimos para a história polonesa, grandes e homens e mulheres de Deus.

Por fim, depois da visita ao Castelo Real e à Catedral de Cracóvia, visitamos os lugares históricos de Cracóvia relacionados à vida de João Paulo II. Seguem algumas fotos de alguns dos lugares mais interessantes.

A rua mais antiga da Polônia. Ela existe desde o século VIII!

Curia Metropolitana de Cracóvia. Aí trabalha o atual Cardeal arcebispo de Cracóvia e, por muitos anos, sob o regime comunista polônes, trabalhou o Cardeal Karol Woytilla. Todas as vezes que ele visitou, como Papa, sua querida Polônia, se hospedou nesse local. Aparecia e falava ao povo daquela pequena janela, onde, pela foto, se pode ver uma pequena foto sua. Pude assistir à gravação de um filme de uma dessas aparições. Para além de ser um papa polonês (o que sem dúvida alguma causava comoção em todos os presentes na praça diante da Cúria), João Paulo II emocionava pela simples presença e jeito de ser. Eu também me emocionei ao assistir ao filme...

Praça do Mercado, em Cracóvia. Aí está o coração de Cracóvia. A praça é também um dos pontos mais antigos da cidade (séc. VIII) e foi palco de muitos episódios da história desse povo. Na foto, parte de nosso grupo. Só por essa foto se pode imaginar a experiência interessante que se faz por aqui da presença salesiana no mundo. De fato, Dom Bosco e seu carisma penetraram os mais diversos locais do planeta. Para citar alguns, na foto, todos salesianos (tirando a guia! rs), provenientes de Moçambique, Espanha, Índia, Vietnã, Congo, Ruanda, Tailândia, México e Brasil (hehe.. dá pra ver?!)

Praça do Mercado (Detalhe)

Primeira paróquia de Cracóvia; um dos mais belos e maiores símbolos da Praça do Mercado (abaixo, uma foto do interior da Igreja: belíssima!)

A mais antiga universidade de Cracóvia. Aqui, o jovem Karol Woytilla era estudante quando os nazistas invadiram o prédio e o ocuparam. Outro célebre aluno dessa Universidade é Nicolau Copérnico (*1473 +1543)

Placa indicativa da casa da família de Karol Woytilla na Polônia. Ele morava aí quando jovem. Foi aí também, escondido no porão da casa, que ele escapou de ser preso pelos nazistas que invadiram a casa (abaixo, a casa vista de frente).

Ao entrar na cidade de Cracóvia, se pode ver, à esquerda da estrada, no alto do monte, o casarão que, durante a ocupação nazista, serviu como Sede do Partido Nazista.

domingo, 6 de abril de 2008

O Senhor esteja convosco! Ele está no meio de nós!

3º Domingo da Páscoa - Ano A - 2008

Evangelho (Lucas 24, 13-35)
— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele mesmo dia, o primeiro da semana, dois dos discípulos de Jesus iam para um povoado, chamado Emaús, distante onze quilômetros de Jerusalém. Conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido. Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles. Os discípulos, porém, estavam como que cegos, e não o reconheceram. Então Jesus perguntou: "O que ides conversando pelo caminho?" Eles pararam, com o rosto triste, e um deles, chamado Cléofas, lhe disse: "Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes últimos dias?" Ele perguntou: "O que foi?" Os discípulos responderam: "O que aconteceu com Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante de todo o povo. Nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias que todas essas coisas aconteceram! É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deram um susto. Elas foram de madrugada ao túmulo e não encontraram o corpo dele. Então voltaram, dizendo que tinham visto anjos e que estes afirmaram que Jesus está vivo. Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas como as mulheres tinham dito. A ele, porém, ninguém o viu". Então Jesus lhes disse: "Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?" E, começando por Moisés e passando pelos Profetas, explicava aos discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele. Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez de conta que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram com Jesus, dizendo: "Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!" Jesus entrou para ficar com eles. Quando se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía. Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles. Então um disse ao outro: "Não estava ardendo o nosso coração, quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?" Naquela mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém onde encontraram os Onze reunidos com os outros. E estes confirmaram: "Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!" Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão."

- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.


Devo começar essa postagem, desculpando-me pela minha ausência nos últimos dois domingos. Como puderam observar nas postagens anteriores, estive impossibilitado de acessar a internet naquelas ocasiões. Nesse 3º Domingo do Tempo Comum retomamos nossa caminhada de reflexão semanal sobre o Evangelho de cada Domingo.

No Domingo de Páscoa, lemos que aqueles que foram ao túmulo na manhã do primeiro dia da semana, o encontraram vazio, com os panos de linho dobrados pelo chão (João 20, 1-9). No 2º Domingo da Páscoa, acompanhamos o relato da aparição de Jesus aos seus díscípulos por duas vezes e da incredulidade de Tomé (João 20,19-31).

Se observarmos bem, veremos que também nesse 3º Domingo de Páscoa o Senhor continua se manifestando aos seus discípulos (Lucas 34, 13-35). E por que? Porque a experiência pascal implica realmente isso: o encontro decisivo que a comunidade cristã reunida faz com o Senhor Ressuscitado. Por isso, hoje, Ele continua querendo se manifestar a nós, no cotidiano de nossas vidas; também nós somos convidados, como comunidade de fiéis reunidos no Nome dele, a nos encontrarmos cotidianamente com Ele. Não é à toa que na Celebração Eucaristica, minimamente por três vezes, o sacerdote diz: "O Senhor esteja convosco" e a assembléia é convidada a responder: "Ele está no meio de nós!" Essa é a certeza que devemos levar no coração: Ele está no meio de nós, não nos abandona, caminha ao nosso lado! É assim que podemos dizer que celebramos a força da Ressurreição do Senhor, quando permitirmos que Ele se manifeste com todo seu amor e poder na vida de nossa comunidade!

1. "... e começou a caminhar com eles." (Lucas 24, 15)

No início do Evangelho desse Domingo, vemos a Igreja ser retratada como de fato ela é: povo de Deus que caminha pelas estradas do mundo. Os discípulos de Emaús caminhavam juntos e eis que, "enquanto caminhavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles." (Lucas 24,15)

O mesmo acontece conosco, hoje. Jesus continua a caminhar conosco. O próprio Papa Bento XVI, na oração do meio-dia (Ângelus) de hoje, disse aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro: "Emaús é o lugar por onde caminha cada cristão".

2. "...estavam como que cegos e não o reconheceram." (Lucas 24, 16)

Interessante observar que os discípulos de Emaús não eram pessoas que nunca haviam ouvido falar do Senhor. Não! Eles eram verdadeiros discípulos. Tanto é verdade que, quando Jesus (que eles não reconheciam naquele momento) lhes pergunta sobre o que iam falando, eles não exitam em lhe responder que falavam de Jesus, "um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante de todo o povo." (Lucas 24, 19). No entanto, ainda não tinham dado o passo mais decisivo na fé, o de participarem efetivamente da Ressurreição de seu Senhor; por isso não o reconheciam naquela situação de suas vidas.

Tenho a nítida impressão de que inúmeras pessoas ainda hojem vivem assim... Há aquelas que não vão à Igreja, mas que dizem crer em Deus, ainda que essa "fé" não faça realmente diferença na vida de nenhuma delas. Há também aquelas que freqüentam a Igreja e que são capazes de falar a respeito daquilo que sabem sobre Jesus, mas, no entanto, é apenas um conhecimento de "ouvir falar" que não atinge as áreas mais profundas de suas vidas. Como não nos recordar daquelas que estão decepcionadas com o Senhor, justamente por não compreenderem que Ele caminha ao lado delas, independente da situação pela qual atravessam; essas últimas, como os discípulos de Emaús, repetem todos os dias "nós esperávamos que Ele fizesse algo, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias que todas essas coisas aconteceram e ninguém ouviu falar Dele..." (cf. Lucas 24, 21). A todas essas pessoas, no entanto, falta ainda reconhecer que o Deus vivo nunca as abandona! A ausência da real experiência do Ressuscitado é o grande mal que assola o coração de muita gente de nosso tempo. Eis a primeira certeza de que precisamos, verdadeiramente, tomar posse: Ele está no meio de nós! E isso não é "faz-de-conta", nem força de expressão! É a mais pura e bela realidade, capaz de transformar uma vida inteira!

3. "Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus." (Lucas 24, 31)

Você pode se perguntar, depois dessa nossa breve reflexão: "Mas onde e como posso realizar essa real experiência com o Senhor Vivo?" Essa parece ter sido a mesma pergunta levantada pela comunidade para a qual foi escrito o Evangelho de Lucas, pois a intenção do autor do Evangelho, sobretudo, nesse trecho que agora analisamos, é claramente uma só: ensinar onde é possível reconhecer a presença do Senhor Ressuscitado e entrar em encontro permanente com Ele.

Note que os discípulos reconhecem o Senhor quando Ele parte o pão (cf. Lucas 24, 31), mas imediatamente se recordam também que seus corações ardiam quando quando Ele lhes falava pelo caminho e lhes explicava as Escrituras. (cf. Lucas 24, 32). Se formos bem atentos, veremos que o relato do caminho de Emaús traz consigo dois momentos fundamentais: o primeiro é quando Jesus, "começando por Moisés e passando pelos Profetas, explicava aos discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele." (Lucas 24, 27) e, um segundo momento, "quando se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía." (Lucas 24, 30).

Que isso significa? Implica dizer que os discípulos reconhecem o Senhor a partir de duas ações fundamentais: a escuta da Palavra e a fração do Pão. Ora, não são justamente as partes fundamentais que constituem a Celebração Eucarística: Liturgia da Palavra (quando a Palavra de Deus é proclamada e acolhida) e a Liturgia Eucarística (quando o sacerdote, repetindo os gestos de Jesus, toma o pão, abençoa-o e o distribui)?

Essa é a grande mensagem do Evangelho de hoje e também a grande resposta a sua pergunta: é na Celebração Eucarística, de modo privilegiado, que fazemos a experiência do Senhor Ressuscitado! Ainda que, como os discípulos de Emaús, não o vejamos com os olhos físicos, já que Ele "desapareceu da frente deles" (Lucas 24, 31), nós o podemos senti-Lo e acolhê-Lo na fé! Por isso, na Missa, mediante as palavras do sacerdote quando diz: "Eis o mistério da fé!", respondemos com convicção: "Anunciamos a vossa morte, Senhor, e proclamamos a sua Ressurreição! Vinde, Senhor Jesus!"

É justamente quando passamos a compreender essas coisas, que nossa vida passa a ter novo valor e sentido, já que ela passa a ser enxergada à luz de cada Eucaristia. E nesse sentido, as missas passam a ser para nós, não mero dever a cumprir, mas real necessidade para nossa vida!

Querido(a) amigo(a), talvez você esteja distante da Missa há um bom tempo ou não tem encontrado muito sentido em participar dela. Que tal começar fazer valer a pena essas simples palavras que repetimos continuamente: "Sim! É verdade! Ele está no meio de nós!" ? Espero e rezo para que você descubra a força dessas palavras em sua vida!

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.


Exercícios Espirituais na Polônia - Parte 3

3º dia: Wadowice e Oswiecim (Auschwitz)

Dia 26/03 foi o dia mais frio de toda semana. Os termômetros chegaram a registrar índices negativos em várias partes do país. Ao amanhecer e abrir a janela do quarto, pela primeira vez na vida, pude ver a neve que cobria tudo! Uma visão fantástica! Um pequeno presente de Deus...


O terceiro e o quarto dias do Retiro foram dedicados à reflexão sobre os anos da juventude e da idade adulta de João Paulo II até o momento de sua nomeação como Papa. Agora, vamos falar das coisas que vivemos no terceiro dia, talvez um dos mais "impactantes" de toda essa caminhada espiritual.

Logo depois das orações da manhã, ouvimos uma pregação sobre a vida de Karol Woytilla, enquanto cidadão polaco. De fato, na Polônia, ele nasceu, cresceu e passou a maior parte de sua vida, antes de ser chamado a servir a Igreja como Sucessor de Pedro. Para entender sua história, personalidade e espiritualidade, é necessário compreender minimamente o contexto social e político de seu tempo. Por isso também nesse dia, à tarde, ao longo do trajeto que percorremos de ônibus, assistimos a dois documentários sobre sua vida durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Polônia estava sob domínio nazista e, depois, os anos passados sob o governo comunista. O primeiro lugar que conhecemos foi Wadowice, cidade natal de João Paulo II e, depois, visitamos os campos de concentração nazistas de Auschwitz.

Impossível relatar aqui a riqueza que significou esse dia para mim e para todos os que realizaram esse Retiro Espiritual. Tentarei, em breves palavras, relatar um pouco como as coisas aconteceram.

Wadowice

Famosa sobretudo por ser a cidade natal de João Paulo II, Wadowice fica cerca de 48 km de Cracóvia e conta com pouco mais de 35.000 habitantes. Situada na região da Pequena Polônia, é, hoje, o centro administrativo do Distrito de Wadowice. A cidade é muito acolhedora, mas não apresenta nada de diferenciado, a não ser a casa natal de João Paulo II que, hoje, é museu que abriga objetos de seu uso pessoal. Além da casa onde nasceu, visitamos à Igreja Paroquial não muito distante dali, onde Karol Woytilla recebeu o Sacramento do Batismo. A pia batismal conserva-se intacta e, diante dela, já como João Paulo II, em uma de suas visitas à Polônia, ele fez questão de rezar.

Vista de Wadowice


Casal onde nasceu Karol Woytilla (João Paulo II)


Entrada do Museu dedicado a João Paulo II


O caminho à Igreja Paroquial


Igreja Paroquial onde Karol Woytilla foi batizado.

Monumento dedicado ao mais famoso paroquiano do local...



Interior da Igreja

Pia batismal onde Karol Woytilla recebeu o Sacramento do Batismo


Oswiecim

Ao sairmos de Wadowice, fomos em direção a Oswiecim (60 km de Cracóvia). A cidade possui uma história quase milenar, tendo surgido no início do século XII. Em 1940, foi invadida e conquistada pelos nazistas que construíram ali os famosos campos de concentração. "Auschwits" é a versão alemã do nome polaco "Oswiecim". Hoje, a cidade, que conta com cerca de 40.000 habitantes, conserva seu nome em polaco, mas abriga em seu território, a amarga lembrança do maior campo de concentração da Segunda Guerra Mundial, responsável pela morte de mais de um milhão de pessoas.

Antes de visitarmos o Campos de Concentração, paramos na casa salesiana presente naquela cidade. Um fato curioso é que a obra salesiana dali foi a única escola que permaneceu em funcionamento durante a ocupação nazista. Os salesianos conseguiram permissão para continuar suas atividades apenas com uma escola profissional. Na Casa Salesiana de Oswiecim, nós celebramos a Eucaristia, almoçamos e depois partimos para a visita ao Campo de Concentração de Auschwitz.

Obra Salesiana de Oswiecim

Eucaristia celebrada pelo grupo de salesianos em Retiro


O campo de Auschwitz

Entre maio de 1940 e janeiro de 1945, cerca de 1.100.000 pessoas, em grande parte judeus, morreram em Auschwitz. O Campo de Concentração de Auschwitz foi construído nas dependências dos quartéis do exército polonês. Para atender à demanda de prisioneiros de guerra enviados àquele lugar, foram construídos também numerosos "campos satélites", de cujo complexo, Auschwitz era o centro administrativo. Dentre esses "campos satélites" visitamos o Auschwitz II - Birkenau (situado próximo à localidade de Brzezinka). Este campo é famoso por ter abrigado, no auge de sua atividade, seis câmeras a gás e quatro fornos crematórios...

Não é preciso dizer que a sensação de quem visita um lugar como esse é uma das piores já experimentadas na vida. Ali se tem certo contato de até onde chega o egoísmo e a barbárie humanos. No silêncio absoluto que reina em todos os lugares de Auschwitz é possível escutar milhões de gritos humanos vitimas daquele genocídio. Infelizmente, aquilo que se pode ver em Auschwitz (as fotos abaixo não são nem 10%) não são peças de museu como se fossem coisas do passado. Podemos imaginar as coisas que acontecem nos interiores de "campos de concentração" que ainda hoje se erguem nas regiões castigadas por guerras... São atrocidades que o mundo não vê, mas acontece, exatamente como na época de Auschwitz. O apelo de Auschwitz permanece eloquente. Ele continua sendo um monumento vivo à paz! Dali, a única palavra que sai do coração, vai em direção a Deus, para dizer tão somente: "Misericórdia de nós, Senhor!"



Porta de entrada do Campo de Auschwitz. Ao alto se podia ler "o trabalho renderá a liberdade". Não passava de uma propaganda enganosa, já que as pessoas que atravessavam esse portão, nunca mais voltariam a sair por ele...

Alojamentos do campo (fotos acima e abaixo)onde os prisioneiros eram colocados. Em alguns desse prédios funciona o museu de Auschwitz. Outros, no entanto, são conservados tal e qual o eram na época do massacre.







Cela onde morreu São Maximiliano Maria Kolbe, padre polonês, canonizado por João Paulo II; deu sua vida no lugar de um condenado à morte por que este era um pai de família. Nesse mesmo campo de concentração, morreram personalidades como Santa Edith Stein.



Fornos crematórios reconstituídos. Depois de serem mortos nas duchas de ácido ou nas câmaras de gás, as pessoas eram incineradas em fornos como esses. Sabe-se que as mulheres e crianças que chegavam ao campo eram mortos no mesmo instante; apenas os homens que podiam aguentar o duro ritmo de trabalho escravo, sobreviviam por mais tempo.

Placa na entrada do Campo de Concentração de Birkenau.

Entrada do Campo de Birkenau. Os prisioneiros eram trazidos por trem que os deixava dentro do campo. Dali, separavam-se os homens de suas mulheres e filhos. Os primeiros, como dissemos anteriormente, eram levados para os alojamentos, os demais, todos imediatamente mortos. Apenas algumas crianças sobreviviam para serem submetidas à experiências "científicas" desumanas.


Imagens à entrada do campo da chegada dos prisioneiros.

A quantidade de alojamentos de Birkenau nos dá a idéia da multidão de pessoas que por ali passaram...




Espaço interno de um dos alojamentos. Os prisioneiros dormiam amontoados como animais nesses comprtimentos, sem nenhum tipo de aquecimento. Quando visitávamos esse lugar, a temperatura chegou a -2ºC. No entanto, fomos informados que, no inverno rigoroso, a temperatura do lugar chega a -20ºC. Por esse motivo, os que não morriam pelo esforço do trabalho, acabavam morrendo doentes, geralmente, vítimas por epidemias descontroladas que acometiam esses alojamentos...

Espaço reservado como banheiro pelos prisioneiros. Como se vê, não havia higiene alguma, o que ocasionava mais doenças epidêmicas, responsáveis pela morte de outras milhares de pessoas.