sábado, 21 de novembro de 2009

Solenidade de Cristo, Rei do Universo - Ano B - 2009

Evangelho (João 18,33b-37)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós!
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, + segundo João.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, 33b Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: “Tu és o rei dos judeus?” 34 Jesus respondeu: “Estás dizendo isto por ti mesmo ou outros te disseram isto de mim?” 35 Pilatos falou: “Por acaso sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?” 36 Jesus respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”. 37 Pilatos disse a Jesus: “Então tu és rei?” Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a Vós, Senhor!

Caros amigos, estamos iniciando a última semana desse ano litúrgico. É a Solenidade de Cristo, Rei do Universo. A Igreja renova a certeza de que a Jesus foi entregue todo "o poder, glória e realeza" (Cf. Dn 7, 14a). E, embora seu reinado ainda seja desconhecido desse mundo, ele se manifestará plenamente no final dos tempos, quando Ele virá "com as nuvens e todos os olhos o verão" (Cf. Ap 1, 7a).

Diante da pergunta de Pilatos sobre se ele era realmente rei, Jesus responde que seu reino não é deste mundo (cf. Jo 18, 36). E por que? Porque seu reino é pautado na Verdade e aberto a todos os que procuram acolhê-la em sua vida.

Hoje, somos convidados a proclamar o reinado do Senhor. Submeter toda a nossa existência ao seu poder, deixando-nos guiar por seu amor. Concretamente, isso nos levará a realizar um compromisso - um verdadeiro pacto - com a Verdade. Somos impelidos pelo poder de nosso Rei a, em primeiro lugar, banir de nossa vida toda a forma de mentira. E, por fim, sustentados por seu amor, a assumir a vivência da Verdade em todas as suas conseqüências: seja no terrível instante em que defendê-la implicará pender com ela da Cruz, mas também no glorioso momento em que, ressurgiremos com ela para com ela reinar por toda a eternidade! Sim, amém!

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Audiência Geral com o Papa [18.11.2009]

Bento XVI
Audiência Geral - Sala Paulo VI (Vaticano)
Quarta-feira, 11 de novembro de 2009



Queridos irmãos e irmãs!

Na catequese da semana passada, eu apresentei alguns aspectos da teologia medieval. Mas a fé cristã, profundamente enraizada nos homens e mulheres daqueles tempos, não deu origem somente a obras-primas da literatura teológica, do pensamento e da fé. Também inspirou uma das maiores criações artísticas da civilização universal: as catedrais, a verdadeira glória da Idade Média cristã. De fato, por quase três séculos, a partir do início do século XI, se testemunhou na Europa um extraordinário fervor artístico. Um antigo cronista descreve o entusiasmo e o trabalho árduo da época: “Aconteceu que em todo o mundo, especialmente na Itália e na Gália, se começou a reconstruir as igrejas, apesar de que muitas, ainda estando em bom estado, não tivessem necessidade de restauração. Era como uma disputa entre um povo e outro; ninguém acreditava que o mundo, sacudindo os trapos velhos, quisesse se revestir por inteiro do manto branco de novas igrejas. Enfim, quase todas as igrejas catedrais, um grande número de igrejas monásticas, e mesmo algumas capelas do interior foram então restauradas pelos fiéis” (Rodolfo, o glaubro, Historiarum 3,4).

Vários fatores contribuíram para este ressurgimento da arquitetura religiosa. Em primeiro lugar, as condições históricas mais favoráveis, tais como uma maior segurança política, acompanhada de um aumento constante da população e do desenvolvimento progressivo das cidades, do comércio e da riqueza. Além disso, os arquitetos identificaram soluções técnicas mais aprimoradas para aumentar o tamanho dos prédios, garantindo-lhes, ao mesmo tempo, a imponência e a majestade. Mas foi principalmente devido ao ardor e ao zelo espiritual do monaquismo em plena expansão que foram elevados igrejas e mosteiros, onde a liturgia podia ser celebrada com dignidade e solenidade e os fiéis podiam fazer uma pausa para a oração, atraídos pela veneração das relíquias de santos, razão das incessantes peregrinações. Assim nasceram as igrejas e catedrais romanas, caracterizadas pela largueza no comprimento dos corredores, para acomodar os numerosos fiéis; grandes igrejas, com paredes espessas, arcos de pedra e de linhas simples e essenciais. Uma novidade é a introdução das esculturas. Sendo as igrejas romanas, o lugar da oração monástica e do culto dos fiéis, os escultores, ao invés de se preocuparem com a perfeição técnica, se importavam de modo especial com a finalidade educativa de suas obras. Já que deviam inspirar nas almas fortes impressões, sentimentos que capazes de encorajá-las a abandonar o vício, o mal e a praticar a virtude, o bem, o tema recorrente era a representação de Cristo como o juiz universal, cercado pelos personagens do Apocalipse. Normalmente são os portais de igrejas romanas que oferecem esta ilustração para enfatizar que Cristo é a porta que leva ao céu. Os fiéis, cruzando o limiar do edifício sagrado, entram num tempo e num espaço diferentes daqueles da vida cotidiana. Acima da porta da igreja, estão os fiéis em Cristo, soberano, justo e misericordioso, representavam o antegozo da bem-aventurança eterna que os fiéis em Cristo podiam sentir na celebração da liturgia e em atos de piedade realizados no interior do edifício sagrado.

Nos séculos XII e XIII, a começar do norte da França, se difundiu outro tipo de arquitetura na construção de edifícios sagrados, o gótico, com duas novidades em relação ao romano, ou seja, o impulso vertical e o brilho. As catedrais góticas demonstravam uma síntese de fé e arte harmoniosamente expressa por meio da linguagem universal e fascinante da beleza, que ainda hoje impressiona. Graças à introdução dos grandes arcos que repousam sobre fortes pilares, foi possível aumentar significativamente a altura dos edifícios. O impulso em direção ao alto queria convidar à oração e era, ele mesmo, uma oração.

A catedral gótica procurava, dessa forma, traduzir em suas linhas arquitetônicas, o anseio das almas para Deus. Além disso, com as novas soluções técnicas adotadas, as paredes externas podiam ser perfuradas e decoradas com vitrais. Em outras palavras, as janelas se tornavam grandes imagens luminosas, bem próprias para educar o povo na fé. Nelas - cena por cena – eram narradas a vida de um santo, uma parábola ou outras passagens bíblicas. Dos vitrais saíam uma cascata de luz que se derramava sobre os fiéis para lhes contar a história da salvação e para envolvê-los nessa história.

Outro mérito das catedrais góticas é o fato de que da construção e decoração, tão diferente, mas harmoniosa, participou toda a comunidade cristã e civil: humildes e poderosos, analfabetos e doutores, porque nesta casa comum todos eram instruídos na fé. A escultura gótica fez das catedrais uma “Bíblia em pedra”, representada por episódios do Evangelho e ilustrando os conteúdos do ano litúrgico, do Natal à glorificação do Senhor. Naqueles séculos, além disso, se difundia cada vez mais a percepção da humanidade do Senhor e os sofrimentos de sua paixão vinham retratados de forma realista: o Cristo sofredor (Christus patiens) tornou-se uma imagem querida por todos e própria para inspirar compaixão e arrependimento dos pecados.

Os fiéis que lotavam as catedrais góticas também gostavam de encontrar expressões artísticas dos santos, modelos de vida cristã e intercessores junto a Deus. E não faltaram manifestações “seculares” de sua existência; apareciam, aqui e ali, representações vindas dos campos, das ciências e das artes. Tudo era orientado e oferecido a Deus no lugar onde se celebrava a liturgia. Podemos compreender melhor o significado que vinha atribuído a uma catedral gótica, considerando o texto gravado no portão central da Saint-Denis, em Paris: “Peregrino, quem quer louvar a beleza dessa porta, não se deixe deslumbrar por seu ouro, nem por sua magnificência, mas sim por seu duro trabalho. Aqui reluz uma obra famosa, mas queira Deus que esta famosa obra que reluz faça brilhar os espíritos, para que com a verdade que ilumina se encaminhem à verdadeira luz, onde Cristo é a verdadeira porta”.

Queridos irmãos e irmãs, gostaria ainda de destacar dois elementos do estilo romano e gótico, úteis também para nós. O primeiro: as obras-primas da Europa dos séculos passados são incompreensíveis se não se levar em conta a alma religiosa que as inspiraram. Um artista que sempre afirmou o encontro entre a estética e a fé, Marc Chagall, escreveu que “por séculos, os pintores molhavam seus pincéis naquele alfabeto colorido que era a Bíblia.” Quando a fé, especialmente celebrada na liturgia, encontra a arte, se cria uma profunda sintonia, para que ambos possam e queiram falar de Deus, tornando visível o invisível. Gostaria de compartilhar isso no encontro com os artistas em 21 de novembro, repetindo para eles aquela proposta de amizade entre a espiritualidade cristã e a arte, ansiada pelos meus venerados predecessores, especialmente os Servos de Deus Paulo VI e João Paulo II. O segundo elemento: a força do estilo romano e o esplendor das catedrais góticas nos lembram que a via pulchritudinis, o caminho da beleza, é um caminho privilegiado e fascinante para aproximar-nos do mistério de Deus. Que é a beleza, que os escritores, poetas, músicos, artistas contemplaram e traduziram em sua língua, senão o reflexo do esplendor do Verbo eterno feito carne? Agostinho diz: “Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar difuso e suave. Interroga a beleza do céu, interroga a ordem das estrelas, interroga o sol, que ilumina o dia com seu esplendor; interroga a lua, que com o seu brilho, suaviza a escuridão da noite. Consulta os animais que se movem nas águas, que caminham pela terra, que voam pelo ar: almas que se escondem, corpos que se mostram; guias visíveis e invisíveis. Interroga-os! Todos responderão: Olha para nós, somos belos! São conhecidos por causa de sua beleza. Esta beleza mutável, quem a criou, se não a Beleza imutável?” (Sermo CCXLI, 2: PL 38, 1134).

Queridos irmãos e irmãs, o Senhor nos ajude a reencontrar o caminho da beleza como uma das vias, talvez a mais atraente e fascinante, para conseguir encontrar e amar a Deus.

(tradução livre, exclusiva para esse blog)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Encontro a sós [Ziza Fernandes]

Bem nos teus braços quero estar
Me refazer diante das pedras lançadas
Não quis errar, nem acertar
Eu quis somente te encontrar nas portas que eu bati

A cada dia que eu viver
Eu vou tentar reconhecer a estrada certa
Tua verdade quero amar
Pagar o preço por pensar e ser sincera

Foi devagar que eu te vi
Num vulto meu eu te perdi
Te procurei, me distraí comigo mesma

Já não é mais o meu lugar
Hoje já sei por onde andar
Eu vou buscando devagar teus passos na longa estrada

Mas se eu me achar sem ver a Ti
Não me levará a nada
Se eu me perder sem ser em Ti
Não me valerá de nada


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Aspirei o teu perfume e te desejei



"Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova,

tarde demais eu te amei...!

Tu estavas dentro de mim e eu te buscava do lado de fora.
Eu, disforme, buscava as belas formas das tuas criaturas.
Estavas comigo, mas eu não estava contigo.

Mantinham-me amarrado, longe de ti, as tuas criaturas
que, se não fossem sustentadas por ti, deixariam de existir.

Tu me chamaste e teu grito rompeu minha surdez.
Brilhaste e resplandeceste diante de mim,
e a tua luz dissipou minha cegueira.

Exalaste a tua fragância, aspirei o teu perfume e te desejei.
Saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti.
Tocaste-me e agora estou ardendo no desejo de tua paz."

(Santo Agostinho)


sábado, 14 de novembro de 2009

33º Domingo do Tempo Comum - Ano B - 2009

Evangelho (Marcos 13,24-32)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós!
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: 24“Naqueles dias, depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, 25 as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas. 26 Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. 27 Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra. 28 Aprendei, pois, da figueira esta parábola: quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto. 29 Assim também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Filho do Homem está próximo, às portas. 30 Em verdade vos digo, esta geração não passará até que tudo isto aconteça. 31 O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão. 32 Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a Vós, Senhor!



Estamos chegando ao final de um ano litúrgico, com a Festa de Cristo Rei, a ser celebrada no domingo que vem, ao mesmo tempo em que, nos preparamos para iniciar um novo ano, com a celebração do Tempo do Advento do Senhor. Esse período da vida da Igreja é muito privilegiado para celebrarmos a grande esperança cristã: "Este Jesus que vos foi arrebatado para o céu, voltará do mesmo modo como o vistes partir" (At 1, 11b).

Apesar da linguagem apocalíptica — própria de textos como o que escutamos na Primeira Leitura (cf. Dn 12, 1-3) e no trecho do Evangelho da Santa Missa desse Domingo — tratar esse tão esperado momento como se estivesse muito próximo a se cumprir, ninguém sabe exatamente quando estas coisas se realizarão (cf. Mc 13, 32; At 1, 7). Na verdade, tal linguagem tem a única intenção de nos ensinar como é chamado a viver aquele que aguarda (e anseia!) esse grande Dia.

No Evangelho desse Domingo, o Senhor nos convida a considerarmos a figura transitória desse mundo. De fato, tudo nesse mundo passa...! Ora, se é assim, por que colocarmos nossa esperança em coisas que perecem? Por que fazer consistir o sentido de nossa vida em coisas que hoje valem, mas que amanhã não valem mais? Somos chamados a edificar nossa existência no Senhor, única realidade que permanece para sempre (cf. Mc 13, 31)! Isso não significa dizer um "não" absoluto a tudo o que é desse mundo, mas não lhe dar um valor superior ao que realmente possui...

Com a vinda do Senhor, este mundo se transformará, dando lugar a "novos céus e uma nova terra" (cf. 2 Pd 3,13), onde "toda a lágrima será enxugada de seus olhos" e onde "já não haverá morte, não haverá mais luto, nem clamor, nem sofrimento, pois o mundo antigo desapareceu." (Ap 21, 4).

Diante de uma promessa assim tão feliz, como pode um cristão ter medo esse Dia? Antes, seu coração deve se encher de alegria e esperança e, por meio de atos concretos, seguir clamando: "Assim seja. Vem, Senhor Jesus!" (Ap 22, 20b).

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.

O Sacramento da Confirmação

Por que o Sacramento do Crisma tem que ser ministrado pelo Bispo e não por um padre como os outros sacramentos?
(Graça, São Paulo)

Olá, Graça!
Obrigado por visitar o blog e pela pergunta!

Para responder à sua pergunta, em primeiro lugar, é necessário conhecer qual a natureza do ministério episcopal e de sua missão na Igreja, ou seja, em outras palavras, quem é o bispo e qual a sua função junto ao povo de Deus. Para isso, lhe indico a leitura de um trecho de um importante documento da Igreja:

Constituição Dogmática Lumen Gentium, 20. 24-27


Por aqui, o que podemos dizer em rápidas palavras, é que o Bispo, enquanto sucessor dos apostólos, tem a missão de ensinar, santificar e governar a porção do povo de Deus confiada a seus cuidados. Ora, um sucessor dos apóstolos, em sua missão de santificar, é o primeiro ministro não somente do Sacramento da Confirmação, mas de todos os Sacramentos da Igreja.

Acontece que, com o passar do tempo, já nos primeiríssimos séculos da vida da Igreja, o contínuo aumento do número de fiéis e o rápido crescimento das estruturas eclesiais foram tornando praticamente impossível o exercício do ministério episcopal em primeira pessoa. Daí que também foram sendo delineadas as missões do presbítero (padre) e do diácono como aqueles que colaboram diretamente com a missão do Bispo. Mas, então, por que no caso da administração dos Sacramentos, apenas alguns (Ordem e Confirmação, por exemplo) acabaram ficando reservados exclusivamente ao Bispo? Para responder a essa pergunta, precisamos, além de saber a natureza e missão do ministério episcopal, entender o que cada um desses Sacramentos significa, para então compreendermos a estreita ligação entre o Bispo e a administração dos mesmos.

No caso do Sacramento da Confirmação, ele faz parte dos Sacramentos da Iniciação Cristã (= Batismo, Eucaristia e Confirmação), sem os quais, como o nome sugere, não se pode dizer que o fiel foi devidamente iniciado na fé cristã. A Confirmação aprofunda e consolida a graça batismal e "tem como efeito unir aqueles que o receberam, mais intimamente à Igreja, às suas origens apostólicas e à sua missão de dar testemunho de Cristo" (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1313).


Ora, se o Sacramento da Confirmação "tem como efeito unir aquele que o recebe mais intimamente à Igreja", é o Bispo - que fazendo as vezes de Cristo, Pastor da Igreja, e desempenhando suas funções - a pessoa mais indicada para presidir tal Sacramento.

Além disso, se o mesmo Sacramento "tem como efeito unir aquele que o recebe (...) às origens apostólicas (da Igreja)", é o Bispo - como legítimo sucessor dos Apóstolos - a pessoa que evidencia a apostolicidade da Igreja no momento da celebração.

Por fim, se o Sacramento da Confirmação "tem como efeito unir aquele que o recebe (...) à missão (da Igreja) de dar o testemunho de Cristo", é o Bispo - enquanto pastor daquela Igreja local, em união com toda Igreja universal - aquele que, por excelência, envia, em nome de Cristo, o fiel confirmado em missão "até os confins da terra" (Cf. At 1,8).

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.

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Conforto...

Ontem, antes de dormir, abri as Escrituras. Deparei-me com palavras de uma doçura tão grande que não poderia deixar de partilhá-las com você. Não sei onde está nesse exato momento, muito menos o que tem enfrentado em sua vida, mas sei que Deus quer visitá-lo por meio de sua Palavra, da mesma forma como me visitou ontem. Foi, aliás, essa convicção que me trouxe aqui tão cedo para lhe desejar um bom dia...

Deus te abençoe!

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.



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Livro da Sabedoria

18,14 Quando um tranqüilo silêncio envolvia todas as coisas e a noite chegava ao meio de seu curso, 15 a tua palavra onipotente, vinda do alto do céu, do seu trono real, precipitou-se, como guerreiro impiedoso, no meio de uma terra condenada ao extermínio; como espada afiada, levava teu decreto irrevogável; 16 defendendo-se, encheu tudo de morte e, mesmo estando sobre a terra, ela atingia o céu.

19,6 Então, a criação inteira, obediente às tuas ordens, foi de novo remodelada em cada espécie de seres, para que teus filhos fossem preservados de todo perigo.

7 Apareceu a nuvem para dar sombra ao acampamento, e a terra enxuta surgiu onde antes era água: o mar Vermelho tornou-se caminho desimpedido, e as ondas violentas se transformaram em campo verdejante, 8 por onde passaram, como um só povo, os que eram protegidos por tua mão, contemplando coisas assombrosas. 9 Como cavalos soltos na pastagem e como cordeiros, correndo aos saltos, glorificaram-te a ti, Senhor, seu libertador.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Posso comungar duas vezes num mesmo dia?

Se vou duas vezes à Missa ao domingo, é certo comungar as duas vezes?
(Graça, São Paulo)

Olá, Graça!
Obrigado pela visita ao blog e pela pergunta!

Antes de responder a sua pergunta, é bom salientar que não há necessidade de participarmos de mais de uma Missa por dia, já que numa única celebração recebemos de Deus tudo quanto necessitamos para nossa salvação. Contudo, por alguma circunstância especial, havendo a necessidade de participar de uma segunda Celebração Eucarística ao longo do mesmo dia, a Igreja permite que se receba novamente a santíssima Eucaristia, conforme se lê no cânone que transcrevo abaixo:

"Quem tiver recebido a santíssima Eucaristia pode voltar a recebê-la no mesmo dia, mas somente dentro da celebração eucarística em que participe..." (Código de Direito Canônico, cânone 917)

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.


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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Não pecar contra a castidade. Que é isso?

Padre, gostaria de uma explicação maior do 6º mandamento: Não pecar contra a castidade.
(Roberto, 14 anos, São Paulo)

Olá, Roberto!
Obrigado pela visita ao blog e pela pergunta!

Para tentar compreender melhor o 6º mandamento, a primeira pergunta que podemos nos fazer é sobre o que significa a palavra "castidade", já que atualmente, quando ela não é absolutamente esquecida, tem seu significado totalmente desfigurado.

O Catecismo da Igreja Católica define castidade como sendo "a correta integração da sexualidade na pessoa" (CaIC 2337); isso em outras palavras, significa a vivência da sexualidade de maneira verdadeiramente humana.

Mas o que é a sexualidade? A pergunta é simples, mas a resposta é bem complexa. Em todo o caso, a Igreja nos ensina que a sexualidade "diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de amar e de procriar e, de uma maneira geral, à aptidão a criar vínculos de comunhão com os outros (CaIC 2332).

Assim, podemos dizer que uma simples amizade para ser casta, precisa ser um espaço onde os amigos cresçam na comunhão uns com os outros, sem, por exemplo, instrumentalizar ninguém em prol de interesses pessoais. Isso vale, de maneira especial, para o relacionamento amoroso entre homem e mulher: para ser uma relação casta, precisa promover uma verdadeira comunhão, a partir da qual ambos realizem de maneira digna a própria capacidade de amar.


Para crescermos na vivência da castidade, precisamos, em primeiro lugar, procurar viver, pessoalmente, o amor de maneira íntegra, evitando toda espécie de comportamento duplo. Além disso, como a vida casta nos orienta à comunhão, aprendemos com ela a nos doar por inteiro, tornando-se para os outros, testemunhas do amor e da ternura de Deus que se doou inteiramente a nós.

Por fim, toda situação ou comportamento que ofende o amor verdadeiramente humano, ou seja, aquele que se espelha no amor de Deus, fere e ofende a castidade. Obedecer ao sexto mandamento, implica, de um modo geral, rejeitar toda a forma de banalização do amor.

A partir desses mínimos conceitos, podemos começar a analisar casos concretos, dos quais podem (e devem!) surgir muitas perguntas do tipo "viver desse jeito, corresponde à uma vida casta?" Perguntar-se sobre isso é atitude fundamental para quem deseja responder com fidelidade ao 6º mandamento. Bem, meu caro Roberto, mas para analisar situações concretas, vou aguardar suas outras perguntas, está bem?

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.

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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A abadia de Cluny [França]

Caro amigo,

Na postagem anterior, pudemos ver que o Papa Bento XVI dedicou sua catequese de hoje à então chamada "Reforma de Cluny", cuja história ele mesmo forneceu elementos suficientes para uma boa compreensão da extensão e alcance de tão importante movimento.

Como havia dito na pequena introdução ao discurso do Papa, tive a graça de visitar o lugar onde se encontram os escombros dessa antiga abadia (Borgonha, ao centro-nordeste da França), em abril desse ano. Estávamos realizando uma peregrinação aos lugares de São Francisco de Sales, quando então "desviamos" a rota para conhecer um dos mais importantes centros religiosos e culturais da Idade Média.

Para além do que você já pode ler na postagem anterior, vale dizer ainda que o imenso complexo da abadia foi destruído quase que totalmente por ocasião da Revolução Francesa. Mas o que resta hoje do complexo oferece condições ao visitante para se ter idéia do que a abadia representou durante o grande período em que existiu. Abaixo, algumas fotos, como prometido.

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.


Maquete da Abadia de Cluny, no momento mais alto de sua expansão: acima, o complexo visto de frente; abaixo, uma visão lateral que possibilita também vê-lo aos fundos.




A foto acima e as duas abaixo mostram o pouco que sobrou da Abadia de Cluny.


Audiência Geral com o Papa [11.11.2009]

Caro amigo,

Nessa manhã, em audiência geral aos peregrinos no Vaticano, o Papa Bento XVI continuou sua série de catequeses. Hoje, ele falou de um importante movimento da Idade Média que, para além do que representou à vida da Igreja, contribuiu em muito à formação da identidade do continente europeu. Tive a graça de, no início desse ano, visitar o lugar onde tudo o que o Papa relatou, teve seu início (prometo dedicar a próxima postagem para algumas fotos que tirei do local quando por lá estive!).

As palavras do Papa são, a meu ver, um grande e profundo convite à reflexão, diante de forças que, recentemente, estão se levantando pela Europa e, creio, ainda demonstrarão seu poder de influência no Brasil, onde aliás, já estão presentes...

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.


Bento XVI
Audiência Geral - Praça de São Pedro
Quarta-feira, 11 de novembro de 2009


Caros irmãos e irmãs,

Nessa manhã, gostaria de vos falar de um movimento monástico que teve grande importância ao longo de toda a Idade Média, do qual eu já fiz algumas referências nas catequeses anteriores. Se trata da Ordem de Cluny, que, nos inícios do século XII, num momento de sua máxima expansão, contava com quase 1.200 mosteiros: um número realmente impressionante! Na cidade de Cluny, há exatos 1.100 anos atrás, no ano de 910, foi fundado um mosteiro confiado aos cuidados do abade Bernão, logo depois da doação de Guilherme, conhecido como "O Piedoso", duque de Aquitânia. Naquele período, o monaquismo ocidental, nascido há alguns séculos atrás com São Bento, estava muito abalado por diversas causas: condições políticas e sociais instáveis devido às contínuas invasões e devastações dos povos que não pertenciam ao mundo europeu, a pobreza cada vez maior e, sobretudo, a dependência das abadias aos senhores feudais que controlavam tudo aquilo que pertencia aos territórios sob seu controle. Em tal contexto, Cluny representou a alma de uma profunda renovação da vida monástica para reconduzi-la aos seus inícios.

Em Cluny, a observância da Regra de São Bento foi restaurada com a introdução de algumas adaptações já existentes em outros reformadores. De uma maneira especial, se queria garantir o papel central que a Liturgia deve ocupar na vida cristã. Os monges cluniacenses se dedicavam com amor e grande dedicação à celebração da Liturgia das Horas, ao canto dos Salmos, às procissões da devoção popular e àquelas solenes, mas, sobretudo, à celebração da Santa Missa. Promoveram a música sacra; quiseram que a arquitetura e a arte contribuíssem para a beleza e para a solenidade dos ritos; enriqueceram o calendário litúrgico de celebrações especiais como, por exemplo, no início de dezembro, a Comemoração dos fiéis defuntos, que também nós celebramos há alguns dias atrás; incrementaram o culto à Virgem Maria. Tanta importância dedicada à liturgia se deve ao fato de que os monges de Cluny acreditavam que ela era uma participação à liturgia do céu. Sentiam-se responsáveis por interceder junto ao altar de Deus pelos vivos e pelos mortos, já que um grande número de fiéis lhes pediam com insistência de serem recordados em suas orações. Justamente para isso é que Guilhermo, o Piedoso, havia desejado o surgimento de uma abadia em Cluny. No antigo documento da fundação do mosteiro, se lê: “Declaro que, com esta doação, seja construído um mosteiro em honra aos santos apóstolos Pedro e Paulo e que lá se reúnam monges que vivam segundo a Regra de São Bento (...), que se fomente um venerável refúgio de oração e se procure com toda força e íntimo ardor a vida celeste, e constantemente sejam elevadas ao Senhor orações, invocações e súplicas". Para conservar e alimentar esse clima de oração, a regra cluniacense valorizou a importância do silêncio, disciplina a qual os monges se submetiam com prazer, certos de que a pureza da virtude que desejavam conquistar, lhes exigia um íntimo e constante recolhimento. Não nos surpreende que bem cedo uma fama de santidade tomou conta do mosteiro de Cluny e que muitas outras comunidades monásticas quiseram imitar seus hábitos. Muitos príncipes e Papas pediram aos abades de Cluny que difundissem suas reformas, à medida em que se formava uma grande rede de mosteiros ligados àquela abadia, seja por meio de vínculos jurídicos propriamente ditos, seja por meio de uma ligação de natureza carismática. Se formava assim uma Europa do espírito nas várias regiões da França, Itália, Espanha, Alemanha e Hungria.

O sucesso de Cluny foi assegurado, antes de tudo, pela elevada espiritualidade que se cultivava ali, mas também por outras condições que lhe favoreciam o crescimento. Diverso de tudo que havia acontecido até então, o mosteiro de Cluny e suas comunidades foram reconhecidos independentes da jurisdição dos Bispos locais e subordinados diretamente à autoridade do Romano Pontífice. Isso implicava uma ligação especial com a sede de Pedro e, graças justamente à proteção e ao encorajamento dos Pontífices, os ideais de pureza e fidelidade, perseguidos pela reforma cluniacense, puderam se difundir rapidamente. Além disso, os abades eram eleitos sem nenhuma interferência da parte das autoridades civis, diferentemente do que acontecia em outros lugares. Pessoas realmente dignas se sucederam na condução de Cluny e na de suas comunidades monásticas: o abade Odão de Cluny, de quem falei em uma catequese há dois meses atrás, e outras grandes personalidades, como Emardo, Maiolo, Odilão e sobretudo Hugo, o Grande, os quais prestaram seu serviço por longo período, assegurando estabilidade à reforma iniciada e à sua difusão. Além de Odão, são venerados como santos Maiolo, Odilão e Hugo.

A reforma cluniacense produziu efeitos positivos não somente na purificação e no reflorescer da vida monástica, mas também na vida de toda a Igreja universal. De fato, o desejo de uma perfeição evangélica representou um estímulo no combate a dois graves males que atingiam a Igreja daquele período: a simonia, isto é, a aquisição de cargos pastorais por dinheiro e a imoralidade do clero secular. Os abades de Cluny, com sua autoridade espiritual, os monges cluniacenses que se tornaram Bispos, alguns deles até mesmo Papas, foram protagonistas dessa imponente ação de renovação espiritual. E os frutos não faltaram: o celibato sacerdotal voltou a ser valorizado e vivido e, na ascensão aos ofícios eclesiásticos, foram introduzidos procedimentos mais transparentes.

Significativos também foram os benefícios oferecidos à sociedade pelos mosteiros inspirados na reforma cluniacense. Numa época em que somente as instituições eclesiásticas cuidavam dos indigentes, a caridade foi praticada com empenho. Em todas as casas, a hospedaria acolhia os viajantes e peregrinos mais necessitados, os padres e religiosos em viagem e, sobretudo, os pobres que vinham pedir comida e abrigo por algum tempo. Importantes também foram outras duas instituições, típicas da civilização medieval, promovidas por Cluny: as assim chamadas “tempos de Deus” e a “paz de Deus”. Numa época fortemente marcada pela violência e pelo espírito de vingança, com os "tempos de Deus" eram assegurados longos períodos de paz, em ocasião de determinadas festas religiosas ou de alguns dias da semana. Com a "paz de Deus" se pedia, sob pena de uma censura canônica, respeito às pessoas desamparadas e aos lugares sagrados.

Na consciência dos povos da Europa se incrementava, assim, aquele processo de longa gestação, que portaria ao reconhecimento, sempre mais claro, de dois elementos fundamentais para a construção da sociedade, isto é, o valor da pessoa humana e o bem primário da paz. Além disso, como acontecia com outras fundações monásticas, os mosteiros cluniacenses dispunham de amplas propriedades que, cultivadas, contribuíram para o desenvolvimento da economia. Ao lado do trabalho manual, não faltaram também algumas atividades tipicamente culturais do monaquismo medieval como as escolas para as crianças, o desenvolvimento das bibliotecas, os lugares destinados à transcrição de livros.

Desse modo, há mil anos atrás, quando era em pleno desenvolvimento o processo de formação da identidade européia, a experiência cluniacense, presente em vastas regiões do continente, ofereceu sua importante e preciosa contribuição. Chamou à atenção o primado dos bens do espírito; manteve viva a tensão em direção às coisas de Deus; inspirou e favoreceu iniciativas e instituições para a promoção de valores humanos; educou para um espírito de paz. Caros irmãos e irmãs, oremos para que todos aqueles que tem um autêntico humanismo no coração e trabalham pelo futuro da Europa, saibam redescobrir, valorizar e defender o rico patrimônio cultural e religioso destes séculos.

(tradução livre, exclusiva para esse blog)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Audiência Geral com o Papa [04.11.2009]

Caros amigos,

Nessa manhã, em audiência geral aos peregrinos no Vaticano, o Papa Bento XVI continuou sua série de catequeses. Hoje, dando prosseguimento à história do desenvolvimento da teologia, o Papa tratou de uma disputa ocorrida no século XII. Embora longo, tenho certeza de que, o texto tem muito a ensinar para a Igreja dos dias de hoje. Abaixo, segue o discurso do Papa, na íntegra.

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.


Bento XVI
Audiência Geral - Praça de São Pedro
Quarta-feira, 04 de novembro de 2009


Queridos irmãos e irmãs,

Na última catequese, apresentei as características principais da teologia monástica e da teologia escolástica do século XII, que poderemos de certo modo chamar "teologia do coração" e "teologia da razão". Entre os representantes de uma e de outra corrente teologia se desenvolveu um debate amplo e, muitas vezes, inflamado, simbolicamente representado pela controvérsia entre São Bernardo de Claraval e Abelardo.

Para compreender o confronto entre esses dois grandes mestres, é necessário recordar que a teologia é a procura de uma compreensão racional, na medida do possível, dos mistérios da Revelação cristã acolhidos pela fé - fides quaerens intellectum - a busca da inteligibilidade da fé, para usar uma expressão tradicional, concisa e precisa. Ora, enquanto São Bernardo, típico representante da teologia monástica, coloca o acento na primeira parte da definição, isto é, na fé, Abelardo, que é um escolástico, insiste sobre a segunda parte, ou seja, o intellectus, a compreensão por meio da razão. Para Bernardo, a fé em si mesma é dotada de uma certeza interior fundada no testemunho das Escrituras e nos ensinamentos dos Padres da Igreja. A fé é também reforçada pelo testemunho dos santos e pela inspiração do Espírito Santo na alma de cada um dos fiéis. Em caso de dúvidas e ambiguidades, ela é protegida e iluminada pelo exercício do Magistério da Igreja. Assim, Bernardo encontra dificuldades em concordar com Abelardo e, mais ainda, com todos os que submetiam a verdade da fé ao exame crítico da razão; um exame que comportava, na opinião dele, um grave perigo, o intelectualismo, a relativização da verdade, o questionamento das verdades da fé. Nesse modo de agir, Bernardo via uma audácia que beirava a crueldade, fruto do orgulho da inteligência humana, que pensa poder "capturar" o mistério de Deus. Em sua carta, entristecido, escreve assim: "A mente humana toma conta de tudo, não deixando mais nada à fé. Enfrenta aquilo que está acima de si mesma, examina aquilo que lhe é superior, invade o mundo de Deus, altera os mistérios da fé, em vez de iluminá-los; aquilo que é fechado e obscuro, não o abre, mas o esvazia, e o que não é viável por si mesmo, o desconsidera e se recusa a crer nele"

Para Bernardo, a teologia tem um único objetivo: promover a experiência íntima e viva de Deus. A teologia é, portanto, um auxílio para amar sempre mais e melhor o Senhor... Nesse caminho, existem diversos graus que Bernardo descreve com detalhes até o ponto mais alto, quando a alma do fiel se inebria nos vértices do amor. A alma humana pode alcançar ainda na terra aquela união mística com o Verbo Divino, união que Bernardo descreve como as "núpcias espirituais". O Verbo Divino a visita, elimina suas últimas resistências, a ilumina, a inflama e a transforma. Em tal união mística, a alma goza de uma grande serenidade e doçura, e canta a seu esposo um hino de alegria. Como eu recordei na catequese dedicada à vida de São Bernardo (21.10.2009), a teologia para ele só pode se alimentar da oração contemplativa, em outras palavras da união afetiva do coração e da mente com Deus.

Abelardo, que é precisamente aquele que introduziu o termo "teologia" no sentido que nós o entendemos hoje, se põe em uma perspectiva diversa. Nascido na Bretanha, na França, este famoso professor do século XII, era dotado de uma inteligência vivíssima e a sua vocação era o estudo. Ele primeiro se ocupou com a filosofia e depois aplicou os resultados obtidos com essa disciplina à teologia, da qual foi mestre na cidade mais culta daquela época, Paris, e depois nos mosteiros onde morou. Ele foi um orador brilhante: suas palestras foram seguidas por uma multidão de alunos. De espírito religioso, mas com uma personalidade inquieta, a sua vida foi cheia de supresas: contestou seus professores, teve um filho com uma mulher culta e inteligente, Eloísa. Muitas vezes se meteu em polêmica com seus colegas teólogos, sofreu também condenações eclesiásticas, mas morreu em plena comunhão com a Igreja, a cuja autoridade ele se submeteu com espírito de fé. São Bernardo mesmo contribuiu para algumas condenações de algumas doutrinas de Abelardo no sínodo provincial de Sens, no ano de 1140, e também pediu a intervenção do papa Inocêncio II. O abade de Claraval contestava, como já dissemos, o método demais intelectualista de Abelardo que, ao seu parecer, reduzia a fé a uma mera opinião a respeito da verdade revelada. Os temores de Bernardo não eram infundados e eram condivididos por outros pensadores daquele tempo. Na verdade, o uso excessivo da filosofia enfraqueceu a doutrina trinitária de Abelardo e, dessa forma, a sua idéia de Deus. No campo moral, seus ensinamentos eram cheios de ambiguidade: ele insistiu em considerar a intenção do indivíduo como a única fonte para descrever a bondade ou a maldade dos atos morais, desconsiderando o significado objetivo e o valor moral das ações: um subjetivismo perigoso. Este é, como sabemos, um tema de grande atualidade para a nossa época, em que a cultura é muitas vezes marcada por uma tendência crescente do relativismo ético: somente o eu decide aquilo que é bom para si. Não podemos nos esquecer, porém, os grandes méritos de Abelardo que, tinha muitos discípulos e contribuiu de modo muito significativo para o desenvolvimento da teologia escolástica, destinada a expressar-se de modo mais maduro e seguro no século seguinte. Também não devemos subestimar algumas de suas idéias como, por exemplo, quando ele diz que tradições religiosas não-cristãs, estão preparadas para acolher a Cristo, o Verbo Divino.

O que podemos aprender nós, hoje, do confronto, de tons frequentemente fortes, entre Bernardo e Abelardo e, em geral, entre a teologia monástica e aquela escolástica? Primeiro de tudo, creio que nos mostra a utilidade e a necessidade de uma saudável discussão teológica na Igreja, especialmente quando os assuntos discutidos não foram definidos pelo Magistério que, por sua vez, continua sendo uma referência incontornável. São Bernardo, mas também Abelardo, sempre reconheceram sem exitação a autoridade. Além disso, as condenações que Abelardo sofreu nos recorda que deve haver um equilíbrio entre o que chamamos de princípios arquitetônicos dados a nós pela Revelação e que conservam, portanto, sempre uma prioritária importância, e aquelas interpretações sugeridas pela filosofia, ou seja, pela razão, e que têm um papel importante, mas instrumental. Quando este equilíbrio entre a arquitetura e os instrumentos de interpretação é esquecido, a reflexão teológica corre o risco de ser afetada por erros e é, então, que do Magistério se espera aquele necessário serviço à verdade que lhe caracteriza. Além disso, é bom salientar que dentre os motivos que levaram Bernardo a "tomar partido" contra Abelardo e solicitar a intervenção do Magistério, estava aquele de salvar os fiéis simples e humildes, que devem ser defendidos quando correm o risco de serem confundidos ou desviados por opiniões muito pessoais e por argumentos teológicos duvidosos, que podem comprometer a sua fé.

Gostaria de recordar, enfim, que o confronto teológico entre Bernardo e Abelardo terminou com uma plena reconciliação entre os dois, por meio da mediação de um de seus amigos, o abade de Cluny, Pedro, o venerável, de quem falei em uma das catequeses anteriores (14.10.2009). Abelardo mostrou humildade em reconhecer seus erros e Bernardo usou de grande bondade. Prevaleceu em ambos o que deve realmente estar no centro, quando nasce uma controvérsia teológica: salvar a fé da Igreja e fazer triunfar a verdade na caridade. Que esta seja, ainda hoje, a virtude com a qual se discute na Igreja, tendo sempre como meta a busca da verdade.


(tradução livre, exclusiva para esse blog)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sexo antes do casamento

O que a Igreja fala sobre sexo antes do casamento e por que é contra a pílula? A vida de hoje não é muito difícil para se ter muitos filhos?
(Adriana, 22, São Paulo)

Olá, Adriana!
Obrigado pela visita ao blog e pela pergunta!

Bem, na verdade, são três as perguntas que você me fez. Tentarei, de maneira suscinta, comentá-las na mesma postagem, ainda que mereçam, pela importância que possuem, um espaço bem maior... Começaremos tratando-as na ordem inversa em que foram feitas, ou seja, da terceira à primeira.

A primeira coisa que devemos considerar com atenção é que o fato dos tempos de hoje não serem nada fáceis, não nos permite lançar mão de qualquer método para impedir a geração da vida. Em princípio, a Igreja não se opõe ao controle da natalidade, desde que os métodos utilizados para tanto não firam o curso natural da vida.

Por esse motivo, a Igreja desautoriza a utilização da então conhecida "pílula" como medida contraceptiva. De um modo geral, tais composições químicas não respeitam a natureza e a finalidade do ato matrimonial, além de se revelarem, em sua grade maioria - como é o caso da conhecida "pílula do dia seguinte" -, como procedimentos abortivos.



Por fim, o ato conjugal possui dois grandes significados: ao mesmo tempo em que une de modo íntimo e profundo os esposos, os tornam aptos para a geração de novas vidas. É nesse contexto que se compreende a relação sexual como coroação de um longo processo que encontra no matrimônio sua plena realização. Por isso, fora da vida matrimonial, a relação sexual esvazia-se de seu sentido pleno e se afasta da sua mais alta finalidade. Creio que as palavras de João Paulo II expressam bem o pensamento da Igreja a respeito do assunto:

"A sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se doam um ao outro com os atos próprios e exclusivos dos esposos, não é em absoluto algo puramente biológico, mas diz respeito ao núcleo íntimo da pessoa humana como tal. Ela só se realiza de maneira verdadeiramente humana se for parte integral do amor com o qual homem e mulher se empenham totalmente um para com o outro até a morte." (Exort. Apostólica Familiaris Consortio, 11)

É claro que, com essas poucas palavras, não estamos colocando um ponto final a tão complexo tema. São apenas sinalizações que o pouco espaço de que dispomos nos permite realizar. Continuamos abertos às novas e possíveis perguntas que procurem aprofundar o assunto.

Com afeto salesiano,
P. Mauricio Miranda.

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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A Igreja revê seus conceitos ou permanece sempre a mesma?

Nem tudo que a Igreja Católica considera como pecado está escrito na Bíblia. A Bíblia foi escrita numa outra época, em outra realidade. A Igreja revê seus conceitos ou permanece sempre a mesma?
(Márcia, 35 anos)

Cara Márcia,
Obrigado pela visita ao blog e pela pergunta!

Realmente, sua pergunta é muito interessante e daria uma boa e longa conversa. No entanto, dispondo de pouco espaço por aqui, tentarei fazer algumas observações que, penso, poderão lhe ajudar a aprofundar sua reflexão. Continuo, no entanto, aberto para receber outras dúvidas suas que possam nascer desse meu primeiro comentário.

Antes de lhe dar uma resposta, você faz duas afirmações que precisam ser consideradas com muita atenção. Isso porque, embora tragam algo de verdadeiro, podem gerar confusões se não forem bem compreendidas.

1. "Nem tudo o que a Igreja considera como pecado está escrito na Bíblia."

Sim. Isso é verdade, em parte. E por dois motivos. O primeiro deles é que a religião católica não é fundamentada apenas na Palavra de Deus escrita (Sagrada Escritura), embora a tenha em especialíssima consideração, como Palavra de Deus revelada! Um importante documento da Igreja nos explica como se dá a Revelação de Deus e o papel da Sagrada Escritura nesse processo:

"O Cristo Senhor, em quem se completou toda a revelação de Deus altíssimo (cf. 2Cor 1,20), comunicou aos apóstolos os dons divinos e os encarregou de pregar a todos o Evangelho prometido aos profetas, por ele cumprido e promulgado por sua própria boca, como a fonte da verdade salutar e a expressão da correta maneira de viver.

Essa disposição foi fielmente cumprida. Primeiro pelos apóstolos que haviam aprendido diretamente com as palavras, o convívio e a atuação de Cristo e pela ação do Espírito Santo o transmitiram pela pregação, pelo exemplo e pelas instituições que criaram. Depois, pelos apóstolos e homens apostólicos que, sob inspiração do mesmo Espírito Santo, escreveram a mensagem da salvação.

Para conservar o Evangelho íntegro e vivo na Igreja, os apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores, transmitindo-lhes o lugar que ocupavam no magistério. Esta Tradição sagrada, juntamente com a Escritura dos dois Testamentos são o espelho em que a Igreja peregrina contempla Deus, de quem tudo recebeu, enquanto não chega a vê-lo face a face (cf. 1Jo 3,2)." (Constituição Dogmática Dei Verbum, 7)


2. "A Bíblia foi escrita numa outra época, em outra realidade."

Com essa sua segunda afirmação, praticamente, você mesma responde à sua primeira objeção. Quero dizer que exatamente porque a Bíblia foi escrita dentro de um contexto específico, é que ela não pode trazer uma "lista com os pecados da atualidade". No entanto, na Sagrada Escritura, encontramos princípios divinos muito claros que nos permitem nos posicionar diante das novidades de nosso tempo. Um exemplo? A Sagrada Escritura não fala do procedimento da eutanásia, mas defende o inquestionável valor da vida humana que, porque dom do Criador, deve ser defendida em todas as suas expressões.

Mas essa sua segunda afirmação, ainda carece de uma precisação para não ser mal interpretada. O fato da Sagrada Escritura haver sido escrita em um outro contexto, não quer dizer que ela não possa falar aos homens de hoje. Ela é sempre Palavra de Deus! Afinal de contas, o próprio Senhor nos recorda que "céus e terra passarão, mas as minhas palavras não passarão." (Mt 24, 35). É certo, porém, que temos o dever e a necessidade de interpretar aquilo que foi escrito há tanto tempo atrás. Por isso, mais uma vez, volto a lhe recomendar a leitura do importante documento do qual falei acima e, do qual agora, lhe apresento mais alguns trechos importantíssimos:

"Tendo Deus nos falado por intermédio de homens e à maneira humana, aquele que interpreta as Escrituras, para saber o que Deus nos quis comunicar, deve pesquisar com atenção o sentido visado diretamente pelo autor sagrado e o que Deus entendia manifestar por tais palavras.

Para saber o que o autor sagrado queria dizer, considerem-se, entre outras coisas, os gêneros literários. A verdade se propõe e se exprime diferentemente nos diversos textos históricos, proféticos, poéticos ou de qualquer outro gênero. É indispensável que o intérprete procure saber, levando em consideração as circunstãncias de tempo e de cultura em que escrevia o autor sagrado, qual dos gêneros literários quis usar ou usou para se exprimir, dentre os que eram correntes em sua época.

(...) Finalmente, como a Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada no mesmo Espírito com que foi escrita, para entender corretamente o sentido dos textos sagrados ,não se pode desprezar o conteúdo e a unidade de toda a Escritura, nem deixar de levar em conta a Tradição viva de toda a Igreja e a analogia da fé.

(...) Tudo, porém, que se refere ao modo de interpretar as Escrituras depende, em última análise, do julgamento da Igreja, que por disposição divina, desempenha o ministério de conservá-las e interpretá-las." (Constituição Dogmática Dei Verbum, 12)



3. "A Igreja revê seus conceitos ou permanece sempre a mesma?"

Assim, tendo considerado o que dissemos acima, chegamos, finalmente, à sua pergunta. E a resposta depende do que você quis dizer com "rever seus conceitos". Se isso significa mudá-los, a resposta então é não. Isso porque a Igreja conserva não conceitos seus, mas a Palavra de Deus revelada. O que a Igreja revê continuamente (e isso faz parte de sua missão!), é a forma de anunciar ao homem moderno os princípios divinos. Dessa forma, respondemos à segunda parte de sua pergunta: ao mesmo tempo em que está em constante e necessária mudança, a Igreja permanece sempre a mesma.

Espero ter lhe ajudado a compreender um pouco mais a nossa belíssima fé católica. Como lhe disse anteriormente, continuo aberto a outras dúvidas que possam surgir.

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.

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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Audiência Geral com o Papa [28.10.2009]

Caros amigos,

Nessa manhã, em audiência geral aos peregrinos no Vaticano, o Papa Bento XVI continuou sua série de catequeses. Hoje, falando sobre o desenvolvimento da teologia no século XI, o Papa deu uma rica lição aos homens de hoje. Embora longo, tenho certeza de que, para quem gosta, é um belo texto a respeito da história da teologia. Abaixo, segue o discurso do Papa, na íntegra.

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.


Bento XVI
Audiência Geral - Praça de São Pedro
Quarta-feira, 28 de outubro de 2009


Queridos irmãos e irmãs,

Hoje vou me deter numa página interessante da história, referente ao florescimento da teologia latina no século XII, que ocorreu por uma série de coincidências providenciais. Nos países da Europa Ocidental, reinava, naquele tempo, um relativa paz que garantia à sociedade desenvolvimento econômico e consolidação das estruturas políticas, além de que favorecia uma grande atividade cultural, graças também aos contatos com o Oriente. Dentro da Igreja se sentiam os benefícios da vasta ação conhecida como "reforma gregoriana" que, promovida vigorosamente no século anterior, havia conquistado um maior grau de pureza evangélica para a vida da comunidade eclesial, especialmente entre o clero, restituindo à Igreja e ao Papado uma verdadeira liberdade de ação. Além disso, ia se difundindo uma vasta renovação espiritual, apoiada pelo desenvolvimento exuberante da vida consagrada: nasciam e se expandiam novas ordens religiosas, enquanto aquelas já existentes experimentavam uma recuperação muito promissora.

Nesse contexto, floresceu também a teologia que retomou uma consciência ainda maior da sua própria natureza: ela refinou o método, enfrentou novos problemas, avançou na contemplação dos mistérios de Deus, produziu grandes obras, inspirou importantes iniciativas culturais, da arte à literatura, e preparou as obras-primas do século seguinte, o século de Tomas de Aquino e Boaventura de Bagnoregio. Dois foram os ambientes em que se desenvolveu essa fervorosa atividade teológica: os mosteiros e as escolas da cidade (scholae), algumas das quais se transformaram bem cedo nas universidades, que constituem uma das típicas "invenções" da Idade Média cristã. Só a partir destes dois ambientes, os mosteiros e as scholae, se pode falar de dois modelos diferentes de teologia: a "teologia monástica" e "teologia escolástica." Os representantes da teologia monástica eram monges, geralmente abades, cheios de sabedoria e de fervor evangélico, dedicados principalmente em suscitar e alimentar o desejo amoroso de Deus. Os representantes da teologia escolástica eram homens cultos, apaixonados pela investigação: mestres dispostos a mostrar a razoabilidade e validade dos mistérios de Deus e do homem, assumidos pela fé, sim, mas também pela razão. As diferentes finalidades explica a diferença dos métodos e das maneira de fazer teologia.

Nos mosteiros do século XII, o método teológico era essencialmente ligado às explicações da Sagrada Escritura, a sacra pagina, para nos expressar como os autores daquele período; se praticava, especialmente a teologia bíblica. Os monges eram todos ouvintes e leitores dedicados da Escritura, e uma das suas funções principais era realizar a lectio divina, ou seja, a leitura orante da Bíblia. Para eles, a simples leitura do texto sagrado não bastava para perceber seu sentido profundo, sua unidade interna e sua mensagem transcendente. Era preciso, portanto, praticar uma "leitura espiritual", realizada na docilidade ao Espírito Santo. Assim como na escola dos Padres da Igreja, a Bíblia era, portanto, interpretada de forma alegórica, para se descobrir em cada página, do Antigo como do Novo Testamento, o que Cristo diz e a sua obra de salvação.

O Sínodo dos Bispos do ano passado sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja lembrou a importância da abordagem espiritual das Sagradas Escrituras. Para este fim, é útil recorrer à teologia monástica, uma exegese bíblica ininterrupta, bem como às obras compostas por seus representantes, valiosos comentários ascéticos sobre os livros da Bíblia. Ao conhecimento literário, a teologia monástica unia o conhecimento espiritual. Ela estava consciente de que uma leitura puramente teórica e secular não era suficiente: para chegar ao coração da Sagrada Escritura, era preciso lê-la no espírito em que foi escrita e criada. O conhecimento literário era necessário para conhecer o exato sentido das palavras e facilitar a compreensão do texto, refinando a sensibilidade gramatical e filológica. O estudioso beneditino do século passado, Jean Leclercq, assim intitulou a obra pela qual apresenta as características da teologia monástica: L'amour des lettres et le désir de Dieu (O amor pelas palavras e o desejo de Deus). Na verdade, o desejo de conhecer e amar a Deus, que vem até nós por meio da acolhida, meditação e prática da sua Palavra, nos leva a aprofundar os textos bíblicos em todas as suas dimensões. Eis uma outra atitude sobre a qual insistem aqueles que praticavam a teologia monástica: um movimento interior de oração, que deve preceder, acompanhar e complementar o estudo da Sagrada Escritura. Justamente porque, em última análise, a teologia monástica é a escuta da Palavra de Deus, não se pode deixar de purificar o coração para acolhê-la e, acima de tudo, não se pode inflamá-lo de fervor para encontrar o Senhor. Teologia torna-se, portanto, meditação, oração, cântico de louvor e leva a uma conversão sincera. Muitos representantes da teologia monástica foram levados, por esta via, a patamares muito altos da experiência mística, e são um convite, também para nós, para alimentarmos a nossa existência, com a Palavra de Deus, por exemplo, ouvindo mais de perto as leituras e o Evangelho, especialmente na missa aos domingos. É também importante reservar algum tempo todos os dias para meditar a Bíblia, porque a Palavra de Deus é a luz que ilumina nossa jornada diária na Terra.

Diferentemente, a teologia escolástica - como disse, praticada nas escolas - surge junto às grandes catedrais da época com o objetivo de preparar o clero, ou em torno a um mestre de teologia e seus discípulos, para formar profissionais da cultura, numa época em que o conhecimento era cada vez mais apreciado. No método dos escolásticos, era argumento central a quaestio, ou seja, o problema que se coloca o leitor para afrontar as palavras da Escritura e da Tradição. Diante dos problemas que esses importantes textos impunham, se levantavam perguntas e nascia o debate entre professor e alunos. Nestes debates, apareciam de um lado os argumentos de autoridade, do outro, os da razão e o debate se desenvolvia no sentido de encontrar no final, uma síntese entre a autoridade e a razão para chegar a um entendimento mais profundo da Palavra de Deus. A este respeito, Boaventura diz que a teologia é "per additionem", ou seja, a teologia acrescenta a dimensão da razão à Palavra de Deus e, assim, cria uma fé mais profunda, mais pessoal e, portanto, mais concreta em nossas vidas. Assim, das várias conclusões e soluções encontradas, foram começando a construir um sistema teológico. A organização das quaestiones levava à compilação de sínteses cada vez mais amplas, ou seja, se compunham diversas quaestiones com diferentes respostas, criando uma síntese, as assim chamadas sumas (summae) que eram, na verdade, grandes tratados teológico-dogmáticos nascidos do confronto da razão humana com a Palavra de Deus. A teologia escolástica procurava apresentar a unidade e a harmonia da revelação cristã por meio de um método, chamado de "escolástico", a escola que dá confiança à razão humana: a gramática e a filologia ao serviço do conhecimento teológico, mas ainda a lógica, que é aquela disciplina que estuda a função do raciocínio humano, de modo que pareça evidente a verdade de uma proposição. Ainda hoje, lendo as sumas escolásticas se fica maravilhado com a ordem, a clareza, a seqüência lógica dos temas e a profundidade das idéias. Com uma linguagem técnica, são atribuídos a cada palavra um significado preciso e, entre o crer e o compreender, se estabelece um movimento recíproco de esclarecimento.

Queridos irmãos e irmãs, ecoando o convite da Primeira Carta de Pedro, a teologia escolástica encoraja-nos a estar sempre prontos para responder a todo aquele que pede a razão da esperança que está dentro de nós (cf. Pd 3,15). É preciso acolher tais perguntas e ser capaz também de dar uma resposta. Lembra-nos que entre a fé e a razão, existe uma amizade natural, fundamentada na ordem da Criação. O Servo de Deus João Paulo II escreveu em sua encíclica Fides et Ratio: "Fé e razão são como duas asas com as quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade." A fé é aberta ao esforço de compreensão por parte da razão; a razão, por sua vez, reconhece que a fé não a aprisiona, mas pelo contrário, a impulsiona em direção a horizontes mais amplos e mais altos. Entra aqui a eterna lição de teologia monástica: fé e razão, em diálogo mútuo, se enchem de alegria quando ambas são animadas pela busca de união íntima com Deus. Quando o amor dá vida à dimensão orante da teologia, os conhecimentos adquiridos pela razão tornam-se mais amplos. A verdade é procurada com humildade, recebida com admiração e gratidão: numa palavra, o conhecimento cresce apenas se se ama a verdade. Amor torna-se inteligência e sabedoria autêntica, teologia do coração, que orienta e sustenta a fé e a vida dos que crêem. Oremos para que o caminho do conhecimento e aprofundamento dos mistérios de Deus seja sempre iluminado pelo amor divino.

(tradução livre, exclusiva para esse blog)

sábado, 17 de outubro de 2009

29º Domingo do Tempo Comum - Ano B - 2009

Evangelho (Marcos 10,35-45)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, 35 Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a Jesus e lhe disseram: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir”. 36 Ele perguntou: “O que quereis que eu vos faça?”37 Eles responderam: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!”38 Jesus então lhes disse: “Vós não sabeis o que pedis. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?”39 Eles responderam: “Podemos”. E ele lhes disse: “Vós bebereis o cálice que eu devo beber, e sereis batizados com o batismo com que eu devo ser batizado. 40 Mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. É para aqueles a quem foi reservado”. 41 Quando os outros dez discípulos ouviram isso, indignaram-se com Tiago e João. 42 Jesus os chamou e disse: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. 43 Mas, entre vós, não deve ser assim; quem quiser ser grande, seja vosso servo; 44 e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. 45 Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.


Para nossa reflexão, partiremos da figura do sumo-sacerdote, abordada na segunda leitura da Santa Missa (cf. Hb 4, 14-16) desse 29º Domingo do Tempo Comum. No judaísmo antigo, o sacerdote havia a importante função de mediador entre Deus e o seu povo, exercida de maneira especial nos sacrifícios oferecidos ao Senhor. Nessa função de mediação, ao Sumo-sacerdote, era reservado um lugar de honra ainda maior que se distinguia pela proximidade que ele possuía com o Eterno Deus.

De fato, apenas o Sumo-sacerdote entrava no lugar chamado de Santo dos Santos, onde permanecia a arca da Aliança, e de onde Deus falava com os homens. Somente uma vez ao ano, no chamado Dia do Grande Perdão (cf. Lv 16), é que o Sumo-sacerdote podia se aproximar desse lugar santíssimo da manifestação de Deus e, apresentando o sacrifício do sangue de animais, conseguir o perdão de Deus, tão necessário aos pecados do povo.

Na carta aos Hebreus, Jesus nos é apresentado como o Sumo-sacerdote da nova e eterna aliança. E por que? Porque, depois dele, não foi mais preciso oferecer sangue de animais em holocausto. Isso porque ele, oferecendo-se a si mesmo, derramou o próprio sangue para o perdão dos pecados do povo. Se o antigo Sumo-sacerdote somente se aproximava do lugar sagrado do Santo dos Santos, com a intenção de obter o perdão pela oferta do sangue de animais, Jesus, entra diretamente nos céus, nas moradas de Deus (cf. Hb 4, 14), uma vez que derrama seu sangue em oferta de amor. Pelo sacrifício da Cruz, Jesus manifesta sua mais profunda intimidade com aquele lugar (cf. Lc 15,38), podendo ele mesmo ser chamado de o Santo dos Santos!

Agora nos resta perguntar como nós podemos participar dessa intimidade com Deus. O pedido de Tiago e João traduz esse tipo de preocupação: gozar de intimidade com o Senhor. E a resposta, nós a encontramos já na primeira leitura (cf. Is 53, 10-11), mas sobretudo no evangelho, quando Jesus afirma que: " quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos” (Mc 10, 43-44). Em outras palavras, significa procurar, sob todos os aspectos, associar a nossa vida ao santo Sacríficio do Senhor, conformar tudo quanto vivemos ao mistério de sua morte e ressurreição.

Participemos de coração da Santa Eucaristia!
Estamos diante do Trono da Graça! (cf. Hb 4,16)
E deixemos que a Graça nos ajude a traduzir em vida tudo quanto celebramos!

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O Inferno existe?

Se Deus é perdão, porque existe inferno?
Michelle, 25 anos

Cara Michelle,
Obrigado pela visita ao blog e pela pergunta!

De fato, sua pergunta é muito importante. Isso porque a falta de entendimento do assunto, infelizmente, leva muitos à negação da existência do inferno, realidade claramente afirmada pelos ensinamentos da Igreja.

Na Sagrada Escritura, encontramos muitas referências ao Inferno. Na verdade, ele vem indicado por várias palavras. Não é possível estudá-las todas aqui, mas para exemplificar, podemos falar da utilização de uma delas: Geena.

Geena era o nome de um antigo vale de Jerusalém (cf. Js 15,8), de onde se tem notícias de terem sido praticados holocaustos de crianças (cf. 2Cr 28,3; 33,6); profanado por Josias (cf. 2Rs 23,10), é provavel que tenha se transformado em lugar de lixo público, tornando-se na Bíblia, símbolo de impureza e maldição (cf. Jr 7,31; 19,6; 32,35). No entanto, o que nos interessa é o fato de que o Novo Testamento sempre utiliza a palavra Geena, não mais como um espaço geográfico, mas sim como um estado de maldição eterna (cf. Mt 5,22.29; 13,42.50; Mc 9,43-48; Ap 14,10).



A Igreja sempre ensinou que o Inferno está reservado aos que se recusam obstinadamente, por livre opção, até o fim de suas vidas a crer e converter-se. Ele é, enfim, como define o Catecismo da Igreja Católica, "um estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados" (CaIC 1033).

O mesmo Catecismo afirma que "Deus não predestina ninguém ao inferno; para isso é preciso uma aversão voluntária a Deus (um pecado mortal) e persistir nela até o fim" (CaIC 1037). Na verdade, todo o ensino da Igreja se baseia na misericórdia de Deus que quer "que ninguém se perca, mas que todos venham a converter-se" (2 Pd 3,9). Porém, as afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja acerca do Inferno são um chamado à responsabilidade com a qual o homem deve usar de sua liberdade em vista de seu destino eterno" (CaIC 1036).

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.

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Posso lhe ajudar? Sua dúvida pode ser a de muitos outros.
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Não esqueça de dizer seu primeiro nome, idade e cidade de onde escreve.

Uma carícia de Deus...

Na tarde de anteontem, ao participar da oração com minha comunidade, me deparei com a récita de um salmo que, confesso, já a fiz muitas outras vezes. Porém, naquele momento, a graça de Deus me permitiu olhar para aquelas palavras com novos olhos, permitiu que a Palavra de Deus fosse semeada de maneira nova em meu coração.

A oração do salmista me convencia ainda mais do imenso amor de Deus. Voltei a rezá-lo por diversas vezes sozinho, depois daquele momento de graça! Convido você que visita esse blog a rezá-lo também. Independente de onde você esteja nesse momento, desejo que Deus lhe visite de maneira nova. Que Ele próprio lhe convença do quanto você é amado e de que esse amor é capaz de mudar a sua vida!

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.


Salmo 138, 13-18.23-24

Foste tu que criaste minhas entranhas;
tu me abrigavas no seio materno.
Reconheço que sou uma verdadeira maravilha,
tuas obras são prodigiosas:
sim, reconheço-o claramente.

Meus ossos não te permaneceram ocultos
quando eu fui feito em segredo,
tecido na profundidade da terra.
Ainda sem forma e os teus olhos me viram.
No teu livro, estavam descritos
aqueles dias em que foram formados
quando ainda nenhum deles existia.

Ó Deus, como são difíceis para mim os teus projetos,
como é grande o número deles!
Gostaria de contá-los, mas são mais numerosos que a areia.
Quando penso que terminaram, estão ainda contigo.

Ó Deus, sonda-me e conhece o meu coração;
prova-me e conhece meus pensamentos.
Vê, portanto, se estou trilhando um caminho de mentiras
e conduze-me pelas estradas da vida.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um amigo de Deus [15.10]

Santa Teresa D'Ávila, virgem e doutora da Igreja

Nasceu na cidade de Ávila, na Espanha, no ano de 1515. Tendo entrado na Ordem das Carmelitas, teve grandes revelações místicas e fez imenso progresso no caminho da perfeição cristã. Dedicada à reforma de sua Ordem, teve que enfrentar muitas tribulações, mas tudo venceu com uma coragem inabalável. Escreveu também livros de profunda doutrina, todos frutos de suas experiências místicas. Morreu em Alba de Tormes (Salamanca) aos 04 de outubro de 1582. Paulo VI, aos 27 de setembro de 1970, a conferiu o título de doutora da Igreja.



Ó Deus, que por meio do vosso Espírito, suscitastes na Igreja Santa Teresa D'Ávila para indicar um novo caminho de perfeição, concedei a nós, vossos fiéis, de nutrir-se espiritualmente de sua doutrina e de ser inflamados por um vivo desejo de santidade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Virgem Aparecida

Solenidade de Nossa Senhora Aparecida
Padroeira do Brasil

A imagem de Nossa Senhora Aparecida foi encontrada por dois pescadores no rio Paraíba do Sul, na região de Guaratinguetá, estado de São Paulo, por volta do ano de 1717. À imagem, que representa Nossa Senhora da Conceição, logo foi dado o nome de Aparecida, por ter aparecido do meio das águas. Inicialmente instalada em uma capela na vila dos pescadores, já por volta do ano de 1745 teve sua primeira igreja oficial, em torno da qual viria a nascer o povoado e o santuário de Aparecida.

A consagração de Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil ocorreu em 31 de maio de 1931, em uma celebração que reuniu, já naquela época, um milhão de pessoas. No dia 04 de julho de 1980, o papa João Paulo II, em missa celebrada no Santuário, consagrou a Basílica, que recebeu o título de Basílica Menor.


Ó Deus todo-poderoso, ao rendermos culto à Imaculada Conceição de Maria, Mãe de Deus e Senhora nossa, concedei que o povo brasileiro, fiel à sua vocação e vivendo na paz e na justiça, possa chegar um dia à pátria definitiva. Por nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém.

domingo, 11 de outubro de 2009

Seguir Jesus requer nadar contra a maré! - Parte 2

Caro amigo,

Nesse domingo (11/10), o Papa Bento XVI voltou a falar que seguir Jesus requer saber nadar contra a maré. Exatamente há um mês atrás ele utilizava a mesma expressão aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro (cf. também postagem do dia 11/09). Dessa vez, o discurso se dirigiu aos fiéis reunidos para a canonização de cinco novos santos para a Igreja.

Penso que esta seja a grande graça que precisamos aprender a pedir a Deus em nosso dias. De modo especial, os jovens precisam ser agraciados com a coragem de testemunhar seu amor pelo Senhor, mesmo em situações onde isso implique ser "diferente" dos demais!

Abaixo, segue notícia extraída de um site da internet. Apesar do site não ser de origem confessional, muito me alegrou o modo como noticiaram o evento.

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.



Papa Bento XVI canoniza cinco novos santos

CIDADE DO VATICANO, 11 OUT (ANSA) - O papa Bento XVI canonizou neste domingo cinco novos santos católicos em uma cerimônia realizada na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

São eles o polonês Zygmunt Szczesny Felinski, fundador da Congregação das Irmãs Franciscanas da Família de Maria; a francesa Marie de la Croix, criadora da Congregação das Irmãzinhas dos Pobres; o padre belga Jozef Damian de Veuster, que dedicou sua vida à assistência de pessoas com hanseníase no Havaí; e os espanhóis Rafael Arnaiz Baron, religioso da ordem trapista, considerado um dos grandes místicos do século XX, e Francisco Coll y Guitart, fundador da Congregação das Irmãs Dominicanas da Anunciação de Nossa Senhora.

A Eucaristia foi celebrada por nove arcebispos, 14 bispos e 20 sacerdotes. Bento XVI mencionou os exemplos de vida de todos os beatos, dando ênfase a seus feitos em favor do próximo e pelo amor a Deus. A perfeição dos santos, disse o Papa, "na lógica da fé às vezes humanamente incompreensível, não consiste em colocar a si mesmo no centro, mas em optar por andar contra a corrente, vivendo segundo o Evangelho". "Estas pessoas mantiveram um sincero desejo de alcançar a vida eterna conduzindo uma honesta e virtuosa vida terrena", complementou.

Cerca de 50 mil fiéis acompanharam a missa, que foi assistida também por autoridades dos países de origem dos novos santos. Estiveram presentes o rei belga, Alberto II, e a rainha Paola, o presidente da Polônia, Lech Kaczynski, o primeiro-ministro francês, François Fillon, e o chanceler espanhol, Miguel Angel Moratinos. Em nome do governo dos Estados Unidos, nação à qual pertence o Havaí, participaram o embaixador junto à Santa Sé, Miguel Umberto Diaz, e o senador havaiano Daniel Kahikina Akaka.

Após a cerimônia, já durante o Angelus, Bento XVI saudou a presença de um grupo de pessoas que sobreviveram aos ataques de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. O Papa orou para que "o mundo nunca mais assista a semelhantes destruições massivas de vidas humanas inocentes".

sábado, 10 de outubro de 2009

28º Domingo do Tempo Comum - Ano B - 2009

Evangelho (Marcos 10,17-30)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, 17 quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?”18 Jesus disse: “Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. 19 Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe”. 20 Ele respondeu: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude”. 21 Jesus olhou para ele com amor, e disse: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” 22 Mas, quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico. 23 Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!” 24 Os discípulos se admiravam com estas palavras, mas ele disse de novo: “Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25 É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!” 26 Eles ficaram muito espantados ao ouvirem isso, e perguntavam uns aos outros: “Então, quem pode ser salvo?” 27 Jesus olhou para eles e disse: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível”. 28 Pedro então começou a dizer-lhe: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. 29 Respondeu Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30 receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.



Celebramos o 28º Domingo do Tempo Comum. Ao centro da mensagem que acabamos de ouvir, retirada do Evangelho de São Marcos, está a gratuidade da salvação. Sim! Deus nos salva de maneira gratuita, sem o nosso merecimento. Ele quis nos salvar pelo simples fato de nos amar! (cf. 10, 27).

Porém, à iniciativa de Deus, cabe uma resposta humana. A pergunta mencionada no versículo 17 deve ser entendida a partir da preocupação de como colaborar com Deus em seu projeto de salvação, ou seja, de como corresponder à iniciativa amorosa de Deus. A primeira resposta de Jesus vai em direção à observância dos mandamentos. De fato, quem ama a Deus, observa seus mandamentos. Porém, o interlocutor parece querer ir mais longe. Por isso, Jesus lhe ensina que unido ao princípio do amor a Deus está o do amor ao próximo. Corresponder à iniciativa de Deus implica nossa decisão por amá-lo acima de todas as coisas e ao próximos como nós mesmos! (cf. Mt 22, 34-40).

Seremos salvos pelo amor! Sim! Em primeiro lugar, porque o Amor, pendente da cruz, nos salvou! E, depois, porque, em resposta a tão grande amor, nos decidimos em amá-Lo, traduzindo nossa vida inteira em amor! Sim, é o amor que salva o mundo!

Deus te abençoe!

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.