domingo, 6 de abril de 2008

Exercícios Espirituais na Polônia - Parte 3

3º dia: Wadowice e Oswiecim (Auschwitz)

Dia 26/03 foi o dia mais frio de toda semana. Os termômetros chegaram a registrar índices negativos em várias partes do país. Ao amanhecer e abrir a janela do quarto, pela primeira vez na vida, pude ver a neve que cobria tudo! Uma visão fantástica! Um pequeno presente de Deus...


O terceiro e o quarto dias do Retiro foram dedicados à reflexão sobre os anos da juventude e da idade adulta de João Paulo II até o momento de sua nomeação como Papa. Agora, vamos falar das coisas que vivemos no terceiro dia, talvez um dos mais "impactantes" de toda essa caminhada espiritual.

Logo depois das orações da manhã, ouvimos uma pregação sobre a vida de Karol Woytilla, enquanto cidadão polaco. De fato, na Polônia, ele nasceu, cresceu e passou a maior parte de sua vida, antes de ser chamado a servir a Igreja como Sucessor de Pedro. Para entender sua história, personalidade e espiritualidade, é necessário compreender minimamente o contexto social e político de seu tempo. Por isso também nesse dia, à tarde, ao longo do trajeto que percorremos de ônibus, assistimos a dois documentários sobre sua vida durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Polônia estava sob domínio nazista e, depois, os anos passados sob o governo comunista. O primeiro lugar que conhecemos foi Wadowice, cidade natal de João Paulo II e, depois, visitamos os campos de concentração nazistas de Auschwitz.

Impossível relatar aqui a riqueza que significou esse dia para mim e para todos os que realizaram esse Retiro Espiritual. Tentarei, em breves palavras, relatar um pouco como as coisas aconteceram.

Wadowice

Famosa sobretudo por ser a cidade natal de João Paulo II, Wadowice fica cerca de 48 km de Cracóvia e conta com pouco mais de 35.000 habitantes. Situada na região da Pequena Polônia, é, hoje, o centro administrativo do Distrito de Wadowice. A cidade é muito acolhedora, mas não apresenta nada de diferenciado, a não ser a casa natal de João Paulo II que, hoje, é museu que abriga objetos de seu uso pessoal. Além da casa onde nasceu, visitamos à Igreja Paroquial não muito distante dali, onde Karol Woytilla recebeu o Sacramento do Batismo. A pia batismal conserva-se intacta e, diante dela, já como João Paulo II, em uma de suas visitas à Polônia, ele fez questão de rezar.

Vista de Wadowice


Casal onde nasceu Karol Woytilla (João Paulo II)


Entrada do Museu dedicado a João Paulo II


O caminho à Igreja Paroquial


Igreja Paroquial onde Karol Woytilla foi batizado.

Monumento dedicado ao mais famoso paroquiano do local...



Interior da Igreja

Pia batismal onde Karol Woytilla recebeu o Sacramento do Batismo


Oswiecim

Ao sairmos de Wadowice, fomos em direção a Oswiecim (60 km de Cracóvia). A cidade possui uma história quase milenar, tendo surgido no início do século XII. Em 1940, foi invadida e conquistada pelos nazistas que construíram ali os famosos campos de concentração. "Auschwits" é a versão alemã do nome polaco "Oswiecim". Hoje, a cidade, que conta com cerca de 40.000 habitantes, conserva seu nome em polaco, mas abriga em seu território, a amarga lembrança do maior campo de concentração da Segunda Guerra Mundial, responsável pela morte de mais de um milhão de pessoas.

Antes de visitarmos o Campos de Concentração, paramos na casa salesiana presente naquela cidade. Um fato curioso é que a obra salesiana dali foi a única escola que permaneceu em funcionamento durante a ocupação nazista. Os salesianos conseguiram permissão para continuar suas atividades apenas com uma escola profissional. Na Casa Salesiana de Oswiecim, nós celebramos a Eucaristia, almoçamos e depois partimos para a visita ao Campo de Concentração de Auschwitz.

Obra Salesiana de Oswiecim

Eucaristia celebrada pelo grupo de salesianos em Retiro


O campo de Auschwitz

Entre maio de 1940 e janeiro de 1945, cerca de 1.100.000 pessoas, em grande parte judeus, morreram em Auschwitz. O Campo de Concentração de Auschwitz foi construído nas dependências dos quartéis do exército polonês. Para atender à demanda de prisioneiros de guerra enviados àquele lugar, foram construídos também numerosos "campos satélites", de cujo complexo, Auschwitz era o centro administrativo. Dentre esses "campos satélites" visitamos o Auschwitz II - Birkenau (situado próximo à localidade de Brzezinka). Este campo é famoso por ter abrigado, no auge de sua atividade, seis câmeras a gás e quatro fornos crematórios...

Não é preciso dizer que a sensação de quem visita um lugar como esse é uma das piores já experimentadas na vida. Ali se tem certo contato de até onde chega o egoísmo e a barbárie humanos. No silêncio absoluto que reina em todos os lugares de Auschwitz é possível escutar milhões de gritos humanos vitimas daquele genocídio. Infelizmente, aquilo que se pode ver em Auschwitz (as fotos abaixo não são nem 10%) não são peças de museu como se fossem coisas do passado. Podemos imaginar as coisas que acontecem nos interiores de "campos de concentração" que ainda hoje se erguem nas regiões castigadas por guerras... São atrocidades que o mundo não vê, mas acontece, exatamente como na época de Auschwitz. O apelo de Auschwitz permanece eloquente. Ele continua sendo um monumento vivo à paz! Dali, a única palavra que sai do coração, vai em direção a Deus, para dizer tão somente: "Misericórdia de nós, Senhor!"



Porta de entrada do Campo de Auschwitz. Ao alto se podia ler "o trabalho renderá a liberdade". Não passava de uma propaganda enganosa, já que as pessoas que atravessavam esse portão, nunca mais voltariam a sair por ele...

Alojamentos do campo (fotos acima e abaixo)onde os prisioneiros eram colocados. Em alguns desse prédios funciona o museu de Auschwitz. Outros, no entanto, são conservados tal e qual o eram na época do massacre.







Cela onde morreu São Maximiliano Maria Kolbe, padre polonês, canonizado por João Paulo II; deu sua vida no lugar de um condenado à morte por que este era um pai de família. Nesse mesmo campo de concentração, morreram personalidades como Santa Edith Stein.



Fornos crematórios reconstituídos. Depois de serem mortos nas duchas de ácido ou nas câmaras de gás, as pessoas eram incineradas em fornos como esses. Sabe-se que as mulheres e crianças que chegavam ao campo eram mortos no mesmo instante; apenas os homens que podiam aguentar o duro ritmo de trabalho escravo, sobreviviam por mais tempo.

Placa na entrada do Campo de Concentração de Birkenau.

Entrada do Campo de Birkenau. Os prisioneiros eram trazidos por trem que os deixava dentro do campo. Dali, separavam-se os homens de suas mulheres e filhos. Os primeiros, como dissemos anteriormente, eram levados para os alojamentos, os demais, todos imediatamente mortos. Apenas algumas crianças sobreviviam para serem submetidas à experiências "científicas" desumanas.


Imagens à entrada do campo da chegada dos prisioneiros.

A quantidade de alojamentos de Birkenau nos dá a idéia da multidão de pessoas que por ali passaram...




Espaço interno de um dos alojamentos. Os prisioneiros dormiam amontoados como animais nesses comprtimentos, sem nenhum tipo de aquecimento. Quando visitávamos esse lugar, a temperatura chegou a -2ºC. No entanto, fomos informados que, no inverno rigoroso, a temperatura do lugar chega a -20ºC. Por esse motivo, os que não morriam pelo esforço do trabalho, acabavam morrendo doentes, geralmente, vítimas por epidemias descontroladas que acometiam esses alojamentos...

Espaço reservado como banheiro pelos prisioneiros. Como se vê, não havia higiene alguma, o que ocasionava mais doenças epidêmicas, responsáveis pela morte de outras milhares de pessoas.

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