quinta-feira, 5 de junho de 2008

Deus de toda a misericórdia - Conclusão


Com essa postagem, a oitava, concluímos nosso caminho inicial em direção ao Deus de toda a misericórdia. Espero que, se não atrapalhado, os textos tenham ajudado os leitores a meditarem um pouco mais sobre aquilo que considero como o mais importante a ser entendido a respeito de Deus: "Deus é Amor" (1 Jo 4, 8).

Hoje, continuando nossa pequena reflexão sobre a Parábola do Filho Reencontrado, ou como prefiro chamá-la, do Pai Misericordioso, vamos nos deter em Lc 15, 20-32. Vamos, dessa vez, analisar trecho a trecho:

20 E voltou ao seu Pai. Ainda estava longe, quando o pai o avistou e foi tomado de compaixão: correu, lhe abraçou e o cobriu de beijos."

Creio que o versículo 20 seja, senão o mais importante, certamente o mais bonito de toda a parábola porque procura descrever a intensidade do amor do Pai. Descreve antes de tudo, a atitude fundamental do filho: ele voltou para a casa do Pai! Essa é a atitude que temos que tomar sempre: voltar para o Pai a cada vez que, infelizmente, nos afastarmos dele.

Mas o mais impressionante, como disse, é o modo como Jesus apresenta a reação do pai dessa história. Notem que o filho "ainda estava longe, quando o pai o avistou e foi tomado de compaixão". Permitam-me ser um pouco detalhista na minha reflexão porque, nesse trecho, cada palavra traz consigo um profundo significado.

Ainda estava longe quando o pai o avistou

Nesse trecho existe uma sutileza literária que, se lido apressadamente, pode ser que nos passe despercebida. Se o filho foi avistado pelo pai, mesmo estando ainda longe, é porque na verdade, o pai jamais deixou de olhar em sua direção. A cena procura descrever aquele pai que não retira os olhos da estrada pela qual o filho saiu, porque tem a profunda esperança de que ele a qualquer momento poderá voltar. É como quando esperamos ansiosamente por alguém e levantamos a cabeça para olhar ao longe para ver se a avistamos o quantos antes! Eis aqui uma primeira verdade da qual Jesus deseja nos convencer: Deus jamais se afasta de nós! Ainda que respeite as decisões que tomamos e que nos afastam dele, Ele jamais se afasta de nós! Como peço a Deus que me convença a cada dia mais disso! Precisamos estar profundamente convencidos dessa verdade: Deus nos ama, anseia por nos ter sempre ao seu lado, respeita nossas decisões que nos afastam dele, mas deseja ardentemente que retornemos!

Foi tomado por compaixão

Como é forte essa expressão! O pai sentiu compaixão pelo filho que, mesmo estando longe, estava retornando. Como vimos nas primeiras postagens, compaixão não é a mesma coisa que "ter dó", mas é muito mais; significa aproximar o coração de tal forma do da outra pessoa que se consegue "sentir com os mesmos sentimentos" dela. É, de fato, uma aproximação tão grande de corações que aquele que sente compaixão, sabe exatamente o que se passa no coração do outro e, exatamente por isso, não o incrimina, mas o acolhe sem restrição. É isso que Deus sente por nós: verdadeira compaixão! É incapaz de nos incriminar... Entende as nossas motivações mais profundas. Sabe que erramos, porém compreende o por quê...

Mas a expressão é mais forte ainda... Ele não só sentiu compaixão, mas foi verdadeiramente "tomado" por ela. Ser "tomado" por algum sentimento, implica estar inteiramente entregue a ele... Em outras palavras, Jesus quer dizer que o pai não sentia apenas compaixão, mas era a própria compaixão! Louvado seja Deus por isso! É por isso mesmo que disse nas postagens anteriores que Deus não era apenas misericordioso, mas que era a própria misericórdia!

Correu-lhe, o abraçou e o cobriu de beijos

Quanta delicadeza da parte de Jesus! Quanto detalhe para falar do Pai! É interessante compreendermos que para o público que escutava Jesus no momento em que contava essa parábola, essa pressa era uma atitude estranha! Jesus parece querer chocar mesmo... Era tomado de compaixão de uma tal forma que não se continha, saiu correndo ao encontro do filho... Era o filho que deveria correr ao encontro do pai, mas ele é surpreendido quando vê o pai correndo ao seu encontro! Meu Deus do céu! Como precisamos entender isso...

Mas Jesus ainda continua: "o abraçou e o cobriu de beijos". O abraço do pai é sinal de total acolhida. Imagine aqui aquele abraço que é capaz de envolver a pessoa, que chega a retirá-la do chão como um pai faz com seu filho pequenino... É assim que aquele pai abraçou seu filho! É assim que Deus nos abraça!

E os beijos? Os beijos são sinais do perdão concedido! Mas vejam! O filho não pediu perdão ainda! Sim, pois é... O pai não lhe deixou falar, já foi logo lhe acolhendo e lhe perdoando! E por que? Ah... Veja como a Palavra de Deus vai se explicando por si mesma: porque ele estava tomado de compaixão; não era preciso dizer nada porque o pai já sabia de tudo o que se passava em seu coração... Meus amigos, é assim que Deus nos perdoa! Observem que se os beijos são sinais de perdão, nessa cena havia um perdão sem limites: o pai o cobriu de beijos! Não eram apenas alguns beijos, não! Ele estava sendo coberto de carinhos e beijos! Jesus exagerou na descrição?! Não, claro que não... É exatamente assim que Deus nos perdoa...

21 O filho lhe disse: 'Pai, pequei contra o céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho...' 22 Mas o pai disse aos seus servos: 'Depressa, trazei a mais bela roupa e vesti-o; ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. 23 Trazei o bezerro cevado, matai-o, comamos e festejamos, pois este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reecontrado' E eles se puseram a festejar.

Muito interessante o versículo 21! Várias traduções ajuntam a esse versículo o trecho "trata-me como a um dos teus empregados", já que era assim que o filho havia prometido dizer ao pai (cf. Lc 15, 19). Mas o texto breve, mais provavelmente correto, ressalta a pressa do pai e o fato de que a sua acolhida impede o filho de chegar ao fim de sua humilhação...

E, imediatamente, o pai lhe reveste de roupa nova, anel no dedo e sandália aos pés. Cada um desses componentes traz consigo um profundo significado. Colocar uma roupa nova significa revestir-se de uma nova vida, recomeçar; o anel é o símbolo da autoridade que lhe é devolvida; as sandálias faziam parte do traje do homem livre em oposição ao modo como andavam os escravos (implica pois, libertação!) Em suma, meus amigos, o pai devolve ao filho a dignidade que ele havia perdido! É preciso dizer mais alguma coisa?!...

Mas não só isso! De fato, Deus não se deixa vencer em generosidade... O pai da parábola ainda dá como que um veredicto, proclama "oficialmente" a razão de toda a festa: "este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado".

Bem, creio que eu deva parar por aqui... Essa postagem já ficou grande demais! Nem sei se vocês terão a paciência de ler tudo isso... Desculpem-me, mas falar da misericórdia de Deus realmente me empolga e acabo não encontrando as palavras justas para tentar dizer tudo o que vai dentro do coração...

Dividimos todo esse trecho da parábola em dois para facilitar nossa reflexão, mas na verdade, analisando conjuntamente, tudo o que refletimos compõe a primeira parte dela. A segunda parte começa no versículo 25 e se estende ao 32. Precisaremos de mais uma postagem para falar desses versículos (uma espécie de conclusão - Parte 2... rs). Posso escrever mais amanhã? (hehe). É que seria uma pena se não fôssemos até o fim, já que é com essa parte da história que Jesus realmente responde à pergunta dos fariseus, formulada em Lc 15, 1-2.

Se não se importarem, nos encontramos amanhã...

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

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