segunda-feira, 2 de junho de 2008

Deus de toda a misericórdia - Parte 6


Continuamos nosso exercício de fixar os olhos, a atenção e o coração no modo como Jesus procurava manifestar a misericórdia divina por toda a pessoa humana. É bom não perdemos de vista porque estamos trilhando esse caminho! É justamente para compreender o que Jesus continua querendo nos dizer hoje, já que ele "é o mesmo ontem hoje e sempre!" (Hb 13,8).

Na última postagem, refletimos sobre a parábola da ovelha reencontrada. Confesso que, eu mesmo, relendo a postagem, admiti que faltam tantos outros detalhes importantes para se compreender a grandeza daquele trecho. Porém, é assim mesmo... Jamais conseguiremos falar tudo a respeito da misericórdia de Deus: ela é infinita!

Prossigamos nosso caminho. Hoje, analisaremos a parábola seguinte (Lc 15, 8-10). Lembro-lhes que o fazemos em clima de profunda oração. Esse blog não quer ser apenas um canal de comunicação de idéias, ele quer levar vocês a falarem com Deus, a transformarem tudo que lêem em diálogo com o Senhor.

A parábola da moeda reencontrada

Essa pequeno trecho é posto pelo evangelista, logo depois da párobola da ovelha reencontrada. Ambas devem ser lidas num conjunto, já que querem tratar sobre o mesmo assunto. Mas se é o mesmo assunto, por que então duas parábolas? Pois bem... Deus não se deixa vencer em amor, não mede esforços para nos convencer disso. Está, nesse capítulo de Lucas, lançando mão de várias comparações para nos explicar com que intensidade nos ama, com que desejo nos quer junto dele, independente da nossa história e condição atual.

Por isso, para entendermos bem a parábola de hoje, devemos lê-la "em sintonia" com a de ontem. Vamos começar?

8 Ou ainda, qual a mulher que, tendo dez moedas de prata e vindo a perder uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura com cuidado até encontrá-la? 9 E quando a encontrou, ela reúne as suas amigas e vizinhas e lhes diz: 'Alegrai-vos comigo, pois reencontrei a moeda que tinha perdido!' 10 É assim, eu vos digo, que há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converta.
(Lc 15, 8-10)


Um aceno

Antes de entrarmos diretamente no texto, vale a pena fazermos um aceno ao tema do pecado que está sendo abordado tanto na parábola de ontem como na de hoje. Se notarmos bem, procurei abordar a misericórdia de Deus, ao menos até a parte 4, sem tocar no assunto do pecado, mas pecado e misericórdia estão intimamente ligados. Jesus, a plena manifestação da misericórdia do Pai, é "aquele que tira o pecado mundo" (João 1,29).

Infelizmente nós andamos perdendo a exata noção do pecado e de suas graves conseqüências na nossa vida e na de todos. A verdade é tão somente essa! Achamos que pecar não é tão grave assim. Em nossas conversas, nas músicas que escutamos, nos apelos das publicidades espalhadas por aí, muitas vezes ouvimos dizer no "gosto bom" que o pecado tem...

Embora seja um erro grave ignorar o pecado, podemos explicar o fato das pessoas, hoje em dia, chegarem a tal ponto de vista. No mundo e tempo em que vivemos, aquilo que não se pode ver, é como se não existisse. Não é assim que muitas pessoas dizem: "o que os olhos não vêem, o coração não sente"? Pois é. Mas isso é uma grande mentira... Isso é a perda do sentido espiritual da vida e, na verdade, perda do sentido de Deus...

Mas nós teremos a oportunidade, mais a frente, de refletirmos sobre o pecado. Quis, no entanto, fazer esse aceno aqui para que compreendêssemos qual a grandeza do apelo que Jesus nos faz por meio dessas duas parábolas.

Deus não quer que nenhum de nós se perca!

Na parábola anterior, era uma ovelha que tinha sido reencontrada. E qual não foi a alegria do pastor ao vê-la retornar ao rebanho! Na parábola de hoje é uma moeda de prata. A moeda corrente, no Império Romano de então, era o denário. Um denário equivalia, em média, ao salário de um dia de trabalho de um trabalhador. Isso significa dizer que um denário era tudo o que um trabalhador precisava para sobreviver ao longo de um dia. Para uma dona de casa que tinha apenas dez denários, a perda mesmo que seja de um só, é muito significativa!

Isso explica porque Jesus utiliza esse tipo de comparação para falar da relação que Deus estabelece conosco. Para o Senhor, nós temos um valor incomensurável. Ele não nos quer perder por nada, mesmo que seja apenas um de nós. Não é isso que lemos em Gen 18, 23-33 quando Deus garante a Abraão que, enquanto houvesse qualquer justo em Sodoma, a cidade não seria destruída? Não é com estas palavras que Jesus se dirige ao Pai, momentos antes de ser entregue aos judeus: "quando eu estava com eles, eu os guardava em teu nome que tu me deste; eu os protegi e nenhum deles se perdeu..." (Jo 17,12)? Caro amigo, se convença disso: Deus não quer perder você! Ele sabe de você! Para Deus, você não é mais um número em meio a tantos... Você é único, amado de modo particular por ele!

Compreender isso é fundamental! É justamente a respeito desse amor incondicional de Deus por você que Jesus deseja lhe convencer no dia de hoje! Não me canso de repetir porque Deus não cansa de se expressar assim: você é amado por Deus!

Quero aqui, fazer uma breve pausa, lhe convidando a rezar a partir dessa linda passagem do livro do Profeta Isaías. É mais uma vez, Deus manifestando seu amor a nós, de maneira que não reste qualquer dúvida de que somos realmente amados por Ele!

1 Mas agora, assim fala o Senhor que te criou, Jacó, que te formou, Israel: não tenhas medo, pois eu te resgatei, te chamei pelo nome, tu és meu. 2 Se passares pelo meio das águas, estarei contigo; se fores através dos rios, eles não te afogarão. Se caminhares pelo fogo, não serás queimado e a chama não te consumirá, 3 pois eu, o Senhor, eu sou o teu Deus, o Santo de Israel, teu Salvador. Eu dei o Egito em resgate por ti, Kush e Sebá em troca de ti, 4 porque és precioso aos meus olhos e eu te amo; dou, pois, homens em troca de ti, populações inteiras em troca da tua pessoa. (Isaías 43, 1-4)


A alegria do reencontro

O pastor de ovelhas se alegrou quando reencontrou aquela que que se tinha desgarrado. A dona de casa se alegrou, após procurar "com cuidado", por achar a moeda que se havia perdido. Observemos que só nessas duas parábolas, ao longo de sete versículos (Lc 15, 3-10), a palavra alegria aparece cinco vezes! De fato, Jesus quer dizer que há verdadeira alegria no coração de Deus quando nós nos decidimos por Ele, quando dia após dia, procuramos dizer não ao pecado por entendermos que o amor de Deus pode nos preencher de modo pleno!

Essa alegria que brota do reencontro com o Senhor terá a sua "explosão", ou seja, sua mais explícita manifestação com a próxima parábola, com a qual se encerra Lucas 15. A essa tão importante parábola, nós dedicaremos as nossas duas próximas postagens.

A gente se encontra amanhã!

Com afeto salesiano
P. Mauricio Miranda.

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