segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Especial Apóstolo Paulo - Parte 1

Caro amigo

Inicio hoje uma série de postagens que têm por intenção ajudá-lo na própria vivência do Ano Paulino. Como sabemos, para comemorar os dois mil anos do nascimento do "Apóstolo dos Gentios", o Papa Bento XVI dedicou um ano inteiro (28/06/2008 a 29/06/2009) para as comemorações.

Para quem deseja ler a homilia do Santo Padre por ocasião da abertura do Ano Paulino, favor acessar: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/homilies/2008/documents/hf_ben-xvi_hom_20080628_vespri_po.html

Muito está sendo falado em várias partes do mundo a respeito desse grande Apóstolo e, sobretudo, muito tem sido feito em vista das comemorações em minha arquidiocese de origem, no Brasil, que o tem como padroeiro principal. Portanto, as coisas que aqui postarei querem apenas ser mais uma pequena contribuição de quem, desde muito cedo, aprendeu a admirar aquele que se deixou conquistar por Cristo de tal forma a ponto de exclamar: "Já não sou mais eu quem vivo, é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20).

Peço que esse gigante da fé alcance do Pai as bênçãos que tanto precisamos para que, sendo inteiramente Dele, anunciemos com o mesmo fervor que animou o coração de São Paulo, a Boa Notícia revelada na pessoa de Jesus Cristo, Filho do Deus Vivo.

Com afeto salesiano
Pe. Mauricio Miranda.




Para começar...

A história desse grande Apóstolo inicia-se na cidade de Tarso, na Cilícia, uma região da Ásia Menor, atualmente província da Turquia. Tarso é uma cidade que foi construída pelos Assírios durante o século VII a.C. num ponto geograficamente estratégico. Seu grande porto dava a seus habitantes a possibilidade de ter freqüentes contatos comerciais e culturais com povos da parte oriental do Mar Mediterrâneo.

Saulo (versão grega de seu nome 'Saul') nasceu entre os anos 6 e 8 da era cristã. Era proveniente de uma família de hebreus da tribo de Benjamim. Em Tarso, existia uma comunidade hebraica que possuía, como acontecia com as outras comunidades espalhadas pela Ásia Menor, o centro de sua vida cultural e religiosa na sinagoga. Seguramente, foi na sinagoga que Saulo aprendeu a história da fé de seus pais e foi educado na observância da Lei de Moisés com o rito fariseu. Como seus compatriotas, esperava a vinda do Messias que libertaria seu povo do domínio romano e os faria retornar à terra prometida.

Seu pai era um cidadão romano, fato que talvez indique sua pertença à alta sociedade da cidade. Desde cedo, enviou seu filho à Jerusalém para estudar junto ao Mestre Gamaliel, um grande rabino de então. Logo depois desse tempo de estudo, Saulo se tornou um profundo conhecedor da teologia judaica e prodigioso jurista. Também sabe-se que era um grande conhecedor da língua, literatura e filosofia grega. Assim, por volta de 30 d.C., ainda que fosse jovem, Saulo já havia formado uma forte personalidade religiosa arraigada nas tradições de seu povo.

Nessa mesma época, depois da Ressurreição de Cristo e do derramento do Espírito Santo sobre a Igreja que nascia (cf. At 2, 1-13), os Apóstolos começaram a ensinar o povo e a pregar o nome de Jesus. Os discípulos, cujo número crescia a cada dia (cf. At 2,47b), embora professassem a fé em Jesus como Cristo e Senhor, estavam institucionalmente ligados ao Templo e às sinagogas e, talvez por isso, eram tidos como "deturpadores da ordem". Por isso, a Igreja em Jerusalém começou a sofrer uma grande perseguição que tem seu ápice no martírio de Estevão (cf. At 7, 54-60). É justamente quando estão prestes a matar Estevão, que se pode ver a primeira menção do nome de Paulo num livro bíblico: "Depois, todos juntos, atiraram-se contra ele (Estevão), arrastaram-no para fora da cidade e se puseram a apedrejá-lo. As testemunhas tinham deposto as vestes aos pés de um jovem chamado Saulo. (...) Ora, Saulo era um dos que aprovavam este homicídio" (At 7, 58b; 8,1)

Mas não só! Os Atos dos Apóstolos ainda continua relatando que "naquele dia, rompeu contra toda a Igreja de Jerusalém violenta perseguição. Todos, com exceção dos apóstolos, se dispersaram nas regiões da Judéia e da Samaria. (...) Quanto a Saulo, devastava a Igreja; penetrava nas casas e arrancava de lá homens e mulheres e os lançava na prisão" (At 8, 1b.3). Parece ter sido grande o ódio que nutria no coração pelos seguidores do Caminho, como eram chamados os cristãos de então, já que chegou a pedir ao Sumo Sacerdote cartas de apresentação às sinagogas de Damasco para que pudesse ali também persegui-los e aprisioná-los (cf. At 9,1-2).

É justamente quando estava a caminho de Damasco que um acontecimento mudaria radicalmente a existência de Saulo. Abaixo, transcrevo o trecho dos Atos dos Apóstolos que narra este momento:

"Seguindo o seu caminho, ele se aproximava de Damasco, quando, de repente, uma luz vinda do céu o envolveu com o seu brilho. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: 'Saulo, Saulo, por que me persegues?' - 'Quem és tu, Senhor?', perguntou ele. - 'Eu sou Jesus, é a mim que persegues. Mas levanta-te, entra na cidade e ali te será dito o que deves fazer'. Os seus companheiros de viagem tinham parado, mudos de espanto: eles ouviam a voz, mas não viam ninguém. Saulo se levantou do chão, mas embora tivesse os olhos abertos, não enxergava mais nada. E foi conduzido-o pela mão que os seus companheiros o fizeram entrar em Damasco, onde permaneceu privado da vista durante três dias, sem comer e sem beber" (cf. At 9, 3-9).

Os companheiros de Paulo o levaram até a casa de Judas que se localizava à Rua Direita, onde sob a ordem de Deus, Ananias, um discípulo do Senhor, foi encontrá-lo (cf. At 9, 10-12). Os Atos dos Apóstolos descrevem aquilo que era de se esperar: o temor de Ananias de, obedecendo a ordem do Senhor que lhe havia aparecido numa visão, se encontrar com Saulo. De fato, ele era conhecido entre os discípulos do Senhor como aquele que perseguia para jogá-los na prisão. Mas, obediente ao pedido do Senhor, Ananias se dirigiu ao lugar onde estava Saulo e lhe impôs as mãos.

O gesto da imposição das mãos está ligado com a comunicação do dom do Espírito Santo. Imediatamente após esse gesto, Saulo recobrou a vista e, tendo-se convertido ao Senhor de todo o coração, foi finalmente batizado. De perseguidor passou a ser seguidor! Que transformação de vida! Mas a verdadeira transformação, Paulo a testemunharia durante os anos de apostolado que terminarão com a entrega de sua própria vida por amor àquele que o conquistou de maneira definitiva.

Paulo começa a pregar o nome de Jesus na cidade de Damasco, mas sabendo que sua vida corria perigo e que havia um grupo de pessoas que vigiava a saída da cidade para poder matá-lo quando por ali passasse, recebeu ajuda dos discípulos que o desceram por uma das muralhas da cidade. Dali, ele fugiu para Jerusalém a fim de ser apresentado ao grupo dos Apóstolos. Seu amigo Barnabé foi o responsável por fazê-lo chegar aos Doze, já que todos os discípulos tinham medo dele. De fato, era difícil acreditar em sua conversão.

Uma vez apresentado aos Apóstolos, Paulo passa a andar com eles e a pregar com autoridade o nome de Jesus. Também em Jerusalém ele passa a ser perseguido e ameaçado de morte. Então, mais uma vez, Paulo é obrigado a fugir por causa do Evangelho: segue em direção à Cesaréia e, de lá, para Tarso, sua cidade Natal.

A cidade de Tarso hoje

Tarso hoje possui cerca de 220.000 habitantes. Pouca coisa restou dos tempos de Paulo. O que se pode ver ainda é a presença de um bairro judaico na cidade. Nesse bairro, é possível encontrar também uma pequena propriedade que abriga um poço e algumas escavações arqueológicas que remontam à época de Cristo. A mais remota tradição sempre assinalou ser ali o local onde Saulo teria nascido e habitado até se mudar para Jerusalém e, certamente, onde ele teria se abrigado nas várias vezes em que regressou a sua cidade. É, sem dúvida alguma, em Tarso, o local onde se sente "mais próximo", historicamente, do Apóstolo.

Tarso conta com um único templo católico dedicado a São Paulo, cuja estreita função é receber turistas. A princípio, o templo é considerado um "museu" pelo governo. Ao menos estatiscamente, em Tarso não consta nenhum cristão ou católico. Isso mesmo! As estatísticas dizem que não existem cristãos em Tarso. A princípio, apenas duas irmãs católicas consagradas moram em Tarso; são elas que cuidam desse pequeno templo. Quando nosso grupo de estudos esteve visitando o local, as irmãs nos disseram que, quando não participam das missas celebradas no interior do templo por grupos de visitantes católicos, devem percorrer a distância de mais de 50 km se quiserem participar da Missa Dominical... Vale dizer também que, na Turquia, é proibida toda manifestação religiosa pública. Isso equivale a dizer que, em nosso caso católico, momentos de oração só são admitidos dentro dos limites dos poucos templos que existem.

O centro da cidade


Vista da torre de uma sinagoga na cidade. São dezenas delas espalhadas pela cidade; milhares em toda a Turquia.


Arco de Cleópatra: local histórico do famoso encontro entre Marco Antônio e Cleópatra.



Única via, construída pelos romanos, ainda preservada na cidade. O local, dada sua antiguidade, é aberto , mas monitorado para a visita do público.


Rua do bairro judaico de Tarso. Provavelmente, ali Paulo nasceu, cresceu e ficou abrigado nos momentos em que, em meio a sua atividade missionária, retornou a sua cidade.


Poço onde a tradição diz ser a casa da família de Paulo. No local existem escavações arqueológicas que comprovam a antiguidade do ambiente.


Igreja dedicada a São Paulo

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