terça-feira, 30 de setembro de 2008

Especial Apóstolo Paulo - Conclusão

Os capítulos 19 e 20 dos Atos dos Apóstolos são dedicados exclusivamente à narração da terceira viagem de Paulo que tem, sem sombra de dúvida, seu momento mais importante em Éfeso (cf. At 19). Paulo conclui essa terceira viagem quando retorna à Jerusalém (cf. At 21, 17). Essa seria a última vez que o Apóstolo veria a cidade santa. De fato, o Espírito Santo já o havia preparado para o que deveria lhe acontecer: "Agora, prisioneiro do Espírito, eis-me a caminho de Jerusalém; não sei qual há de ser lá a minha sorte, mas, em todo o caso, o Espírito Santo me atesta, de cidade em cidade, que cadeias e tribulações lá estão a minha espera" (At 20, 22-23).

É impressionante, no entanto, como o Apóstolo vive esse difícil momento de sua vida! Ao ler os versículos acima, pode ser que nosso coração tenha se enchido de tristeza e lamentação, mas não o de Paulo. De fato, ele continua seu discurso de despedida aos anciãos da Igreja de Éfeso, dizendo: "Aliás, eu na verdade não atribuo valor algum à minha vida; minha meta é levar a bom termo o meu trabalho e a missão que o Senhor Jesus me confiou: dar testemunho do Evangelho da graça de Deus." (At 20, 24). Dessa forma, os últimos capítulos dos Atos dos Apóstolos (21-28) – cuja leitura atenta, convido você, caro amigo leitor, a fazer – narram o longo processo judicial que o Apóstolo dos Gentios enfrentou até chegar em Roma, onde lá, segundo antíquíssima tradição, foi executado.

A fé e o amor inabaláveis de Paulo e o modo generoso como se entregou ao anúncio do Evangelho nunca deixarão de me impressionar profundamente. Mesmo sofrendo as conseqüências de sua opção pelo Evangelho, jamais abandonou sua fé. Pelo contrário, era capaz, ainda que submetido às mais duras provas, encorajar seus irmãos a trilhar o mesmo caminho: "Por isso recordo-te que tens de reavivar o dom de Deus que está em ti desde que te impus as mãos. Pois Deus não nos deu um espírito de medo, mas um espírito de força, amor e domínio de si. Não te envergonhes, portanto, de dar testemunho de nosso Senhor e não te envergonhes de mim, preso por causa dele. Mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus, que nos salvou e chamou com um chamamento santo, não por causa de nossas obras, mas por causa do seu próprio desígnio e de sua graça. (...) Eis porque suporto esses sofrimentos. Mas não me envergonho deles, pois sei em quem pus a minha fé e tenho a certeza de que ele tem o poder de guardar esse meu depósito até o grande Dia" ( 2 Timoteo 1, 6-9a.12).

Essa é a graça que eu peço a Deus! A graça de uma fé e amor tão grandes que nada nessa vida possa abalá-los. A graça de amar a Deus de tal modo que não procure outra coisa a não ser a sua glória. A graça de tornar seu nome conhecido e amado, nem que seja com o preço de minha própria vida! Sei que sou pequeno demais para isso tudo... E o Senhor sabe disso melhor do que eu! Mas também sei que tudo o que o Senhor pede de nós é apenas a docilidade de coração, o "sim" pronunciado diante das pequenas coisas de cada dia... E nessa tarefa, eu tenho me esforçado com todas as forças que possuo! Quero terminar minha vida (e oro para que você também o queira!) proclamando, com a mesma fé, as palavras daquele que transformou toda sua existência por amor ao seu Senhor: "Quanto a mim, eis que já fui entregue em sacrifício e o tempo de minha partida chegou. Combati o bom combate, terminei a minha carreira e guardei a fé". (2 Timoteo 4, 6-7)

Deus nos abençoe! São Paulo Apóstolo, rogai por nós!
Com afeto salesiano
Pe. Mauricio Miranda.


segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Especial Apóstolo Paulo - Parte 9

Depois de Corinto, Paulo retorna à Asia Menor, embarcando para a Síria, em companhia de Áquila e Priscila. Quando aporta na cidade de Éfeso (atual Turquia), Paulo se separa de seus amigos para pregar o Evangelho ali, mas não se demora, já que tem a intenção de prosseguir viagem. Então, de Éfeso, ele segue para Cesaréia e de lá, chega a Jerusalém, finalizando sua segunda viagem missionária. Estamos provavelmente no ano 52 d.C. Depois disso, Paulo inicia sua terceira viagem com o objetivo de "confirmar todos os discípulos" (At 18, 23b). Essa sua última viagem em liberdade (já que a "quarta" ele seguirá como prisioneiro para Roma) terá o seguinte percurso: Antioquia, Galácia, Frigia, Éfeso, Macedônia, Corinto, Macedônia, Trôade, Assos, Mitilene, Samos, Mileto, Cós, Rodes, Pátara, Tiro e, novamente, Jerusalém. Dessa sua terceira viagem, falaremos apenas de sua estadia em Éfeso. A esse importante período de sua terceira viagem, os Atos dos Apóstolos dedicam todo o capítulo 19.

A importância da cidade de Éfeso vai para além de ter sido local de estadia e da ação missionária do Apóstolo Paulo. Éfeso foi palco de acontecimentos muito importantes na história da Igreja, dos quais, sobretudo um, reflete-se fortemente no cristianismo até os nossos dias. Procurarei descrever, nessa postagem, apenas aquilo que diz respeito à passagem de Paulo. Sei que muitos leitores do blog aguardavam a chegada a Éfeso para saber dos outros pontos famosos da cidade, tais como a Basílica e o túmulo do Apóstolo João, a Casa da Virgem Maria e a Basílica do Concílio de Éfeso), mas por uma questão de ordem, eu tratarei sobre esses assuntos depois de terminada essa sessão de postagens dedicadas ao nosso querido Apóstolo.

Com afeto salesiano
Pe. Mauricio Miranda.


Éfeso

O Apóstolo dos Pagãos passou bom tempo na cidade de Éfeso, conforme relata os Atos dos Apóstolos: "... ia à sinagoga e, durante três meses, nela tomou a palavra com toda convicção a respeito do Reinado de Deus, esforçando-se por convencer os seus ouvintes. Como alguns se endurecessem e, longe de se deixar convencer, difamassem o Caminho em plena assembléia, Paulo rompeu com eles e, tomando à parte os discípulos, dirigia-lhes diariamente a palavra na escola de Tirano. Esta situação durou dois anos, de tal sorte que toda a população da Ásia, judeus e gregos, pôde ouvir a palavra do Senhor" (At 19, 8-10). A essa passagem, junto dois pequenos esclarecimentos:


a) Tirano deveria ser algum professor de retórica que emprestava ou alugava a sua sala a Paulo. Provavelmente, Paulo se reunia com os discípulos ali durante o horário reservado ao almoço e à sesta. Isso é interessante! A princípio, entendemos que para ouvir e aprofundar a Palavra de Deus, os discípulos renunciavam senão ao almoço, ao menos ao descanso que costumavam fazer logo em seguida...

b) Quando o autor diz que "toda a população da Ásia pode ouvir a palavra do Senhor", ele se referia à província da Ásia, uma região menor que a Ásia Menor e, portanto, muito diferente do que conhecemos hoje por esse nome... No entanto, a expressão parece ter uma intenção de explicitar o avanço do Evangelho. Provavelmente, é desse período a fundação das Igrejas de Colossas, Laodicéia e de Hierápolis, todas cidades da Ásia Menor.


Em Éfeso, puderam ser vistos verdadeiros milagres que o Senhor realizava pelas mãos de Paulo. De fato, como relata os Atos dos Apóstolos, "Deus realizava pelas mãos de Paulo milagres pouco comuns, a tal ponto que recolhiam, para os aplicar sobre os doentes, lenços e panos que haviam estado em contato com sua pele. Então, essas pessoas ficavam curadas de suas doenças, e os espíritos maus se retiravam" (At 19, 11-12).

Era grande o número daqueles que se convertiam ao Senhor. Por isso também tais mudanças começaram a atrapalhar os lucros de um grupo de artesãos que vivia da venda de artigos relacionados ao culto de Artêmis, deusa grega. De fato, em Éfeso existia um templo dedicado a Artêmis que, além de ser o maior de toda a Ásia, foi considerado umas das sete maravilhas do mundo antigo.

A rejeição ao anúncio do Evangelho, motivado por este grupo de pessoas, começou a crescer em Éfeso a ponto de se reunirem, segundo relato dos Atos dos Apóstolos, no teatro da cidade para conversarem a respeito. Embora Paulo estivesse decidido a comparecer a esse encontro, os discípulos não lhe permitiram ir, dado o risco que representava para sua vida estar no meio de uma multidão como aquela... (cf. At 19, 23-40). Por fim, "quando o tumulto se acalmou, Paulo mandou chamar os discípulos e os encorajou. A seguir despediu-se deles e tomou o caminho da Macedônia" (At 20, 1).


Ruínas da antiga cidade de Éfeso


Ruínas da antiga cidade de Éfeso (detalhes das colunas, acima e abaixo)



Ruínas da antiga cidade de Éfeso (detalhes das "ruas")


Templo de Adriano (acima e abaixo), construído em homenagem ao Imperador Romano. Em ruínas, restou apenas o arco da fachada principal.


A Biblioteca de Celso era a biblioteca da cidade de Éfeso. O edifício de três andares até hoje conserva sua imponência. Abaixo, foto de detalhe de inscrição num dos arcos, à direita da entrada principal.



Teatro da cidade de Éfeso. Aí aconteceu a cena narrada por Atos 19, 23-40

Nosso grupo de estudos lendo e estudando o trecho de Atos dos Apóstolos, no próprio local.

O Teatro visto da parte de baixo da cidade. Nesse ângulo é possível averiguar a grandeza da construção. Mesmo para aqueles que acreditam que o autor dos Atos dos Apóstolos tenha exagerado propositalmente no relato da dimensão do motim de Éfeso, não resta dúvida que para encher o teatro da cidade, a causa deveria ser realmente importante...

Especial Apóstolo Paulo - Parte 8

Entramos, nessa postagem, no capítulo 18 dos Atos dos Apóstolos. Isso porque continuamos acompanhando a segunda viagem missionária de São Paulo Apóstolo que, depois de Atenas, seguiu rumo a cidade de Corinto, um pouco mais ao sul.

Corinto

Como a maioria das cidades de então, Corinto, já na época de Paulo, havia uma história centenária. Como colônia romana, havia sido fundada por Júlio César e era capital da província de Acaia. Os dois portos (um de cada lado do istmo), faziam de Corinto uma cidade cosmopolita, marcada por grande diversidade cultural.

Ao chegar em Corinto, Paulo se instalou na casa de um casal de amigos, Áquila e Priscila, que muito o ajudaram na difusão do Evangelho. Ao longo da semana, trabalhava como fabricante de tendas para pagar os gastos com sua estadia e, aos finais de semana, pregava nas sinagogas. Com a chegada de Silas e Timóteo, Paulo passa, com eles, a se dedicar inteiramente ao anúncio do Evangelho por toda a região.

Ao longo de um ano e meio em que viveu em Corinto, Paulo também enfrentou forte resistência e oposição por parte de muitos judeus ao anúncio do Evangelho. Quando nosso grupo de estudos passou pelas ruínas de Corinto (parte antiga da cidade), tivemos a graça de celebrar a Eucaristia bem próximo ao lugar onde ele esteve diante do proconsul Galião acusado de promover a desordem entre o povo, conforme relata At 18, 12-17. Continuava, no entanto, destemido na proclamação da Boa Notícia, obediente às palavras que o Senhor lhe havia dito: "Não tenhas medo, continua a falar, não te cales. De fato, eu estou contigo e ninguém porá a mão em ti para te maltratar porque, nesta cidade, um povo numeroso me é destinado". (At 18, 10).

A comunidade cristã fundada por Paulo em Corinto, apesar de muito fervorosa e animada, vivia exposta aos perigos de uma cultura pagã que ameaçava comprometer a pureza do Evangelho que havia recebido. Toda a problemática que envolvia aquela comunidade aparece muito bem refletida na primeira carta que Paulo escreve aos Coríntios. De fato, sabe-se que corriam sério risco de se dividir, não apenas por causa da grande diversidade entre seus membros, mas também pela ação de adversários do Apóstolo que, imagina-se, estavam "infiltrados" na comunidade e pareciam disseminar confusão... É a esse respeito, por exemplo, que Paulo escreve sua segunda carta à mesma comunidade.

Convido você que me acompanha por esse blog a retomar essas duas importantes cartas do Novo Testamento. Pelos problemas que enfrentam e aos quais desejam dar soluções, ambas as cartas continuam extremamente atuais e podem, como Palavra de Deus que o são, muito contribuir para nossa fidelidade ao Senhor, condição do crescimento e do avanço do anúncio do Evangelho no mundo de hoje.

Com afeto salesiano
Pe. Mauricio Miranda.


Mapa da Grécia antiga. Entre os anos de 1881 a 1893, foi contruído um pequeno canal que uniu o Golfo de Corinto com o Mar Egeu. Dessa forma, separou-se a Península de Peloponeso (onde fica a cidade de Corinto) da parte principal da Grécia.

O Canal de Corinto (fotos acima e abaixo) tem apenas 6,3 quilômetros de comprimento por 21 metros de largura. Por ser tão estreito, comporta apenas o transporte de pequenas embarcações, evitando que as mesmas naveguem cerca de 400 quilômetros em torno do Peloponeso para então chegar ao local desejado.



Acima, face do Imperador Nero, resgatada quase intacta das ruínas da antiga cidade e exposta no Museu de Corinto. Abaixo, esculpidos em mármore, escultura de um homem e parte de escultura de peça da vestimenta militar. A terceira foto é de um mosaico decorativo das antigas construções, todos expostos no mesmo museu.








Templo de Apolo, uma das contruções mais bem conservadas de todo o sítio arqueológico. Com as montanhas ao fundo, dá para se ter a idéia da altura desse terreno. De fato, na Grécia antiga, os templos eram construídos em lugares bem altos, "próximos aos céus", morada dos deuses... A vista de cada um desses lugares é simplesmente magnífica!


As ruínas de Corinto (detalhe)

sábado, 27 de setembro de 2008

26º Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2008

Evangelho (Mateus 21, 28-32)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós!
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, Jesus disse aos sacerdotes e ­anciãos do povo: 28"Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: 'Filho, vai trabalhar hoje na vinha!' 29O filho respondeu: 'Não quero'. Mas depois mudou de opinião e foi. 30O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: 'Sim, senhor, eu vou'. Mas não foi. 31 Qual dos dois fez a vontade do pai?" Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: "O primeiro". Então Jesus lhes disse: "Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. 32 Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os cobradores de impostos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele".

— Palavra da Salvação!
— Glória a Vós, Senhor!



O evangelho desse 26º Domingo do Tempo Comum está inserido num bloco literário que prepara o leitor para a narração da paixão, morte e ressurreição do Senhor: os capítulos 21 a 25 do Evangelho de São Mateus. Toda a narrativa deve ser lida como uma preparação para o desfecho da condenação; por isso, talvez, o tom "pesado" das palavras que o Senhor profere contra os sumos sacerdotes e anciãos do povo: "...os coletores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele." (Mt 21, 31b-32a)

Mas, apesar das duras palavras, a mensagem central da parábola que Jesus conta repousa sobre a misericórdia do Senhor pelo pecador que se arrepende. De fato, fez a vontade do pai aquele filho que, embora tenha dito não, "mudou de opinião", ou seja, arrependeu-se e atendeu o pedido do seu pai. Ao contrário, o segundo filho, ainda que tenha se colocado à disposição, não transformou tal disposição em atos. Jesus sinaliza, com isso, que a verdadeira conversão é aquela que modifica o interior do homem. De fato, já em Mateus 7, 21, Jesus adverte: "não basta me dizer: 'Senhor, Senhor!' para entrar no Reino dos Céus; é preciso fazer a vontade do meu Pai que está nos céus."

É por isso que Jesus é tão duro com seus ouvintes quando diz que os coletores de impostos e as prostitutas, ou seja, os pecadores públicos, os precedem no Reino dos Deus. Na verdade, Jesus quis dizer (e Ele mesmo o explica) que tais pecadores chegariam primeiro ao Reino por terem se arrependidos verdadeiramente dos próprios pecados e transformado seu modo de vida.

Peçamos ao Senhor nesse Domingo a graça do reconhecimento sincero de nossos pecados e a mudança necessária para uma vida vivida em comunhão de amor com o Senhor. Convido você a fazer sua, a oração que o salmista dirige a Deus; ela esconde um coração verdadeiramente desejoso de trilhar os caminhos do Senhor, disposto a transformar em atos tudo quanto seus ouvidos escutam e seus lábios proclamam.

Com afeto salesiano
Pe. Mauricio Miranda.


Salmo 24

Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,
e fazei-me conhecer a vossa estrada!
Vossa verdade me oriente e me conduza,
porque sois o Deus da minha salvação;
em vós espero, ó Senhor, todos os dias!

Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura
e a vossa compaixão que são eternas!
Não recordeis os meus pecados quando jovem,
nem vos lembreis de minhas faltas e delitos!
De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia
e sois bondade sem limites, ó Senhor!

O Senhor é piedade e retidão,
e reconduz ao bom caminho os pecadores.
Ele dirige os humildes na justiça,
e aos pobres ele ensina o seu caminho.

Especial Apóstolo Paulo - Parte 7

Chegar e pregar em Atenas era, muito provavelmente, para Paulo, um dos maiores objetivos de sua viagem. De fato, como disse na postagem anterior, Atenas era ainda o grande modelo de toda a cultura helenística. Não é à toa que, ao chegar na cidade, Paulo se dirige de imediato tanto aos judeus como aos pagãos, atitude não somente nova, mas única em todo o seu ministério.

Nosso querido Apóstolo chega em Atenas, levado pelos irmãos de Beréia e aguarda a vinda de Silas e Timóteo que, embora tivessem permanecido naquela cidade, deveriam se encontrar com Paulo para iniciarem, juntos, a pregação em Atenas (cf. At 17,15).

Atenas

Creio que, dada a importância singular dessa cidade, tanto para o mundo antigo, quanto para o de hoje, e sua enorme influência em todo o pensamento ocidental, motivo pelo qual Atenas é amplamente estudada em nossos dias, essa famosa cidade dispensa qualquer comentário introdutório. Passemos, por isso, tão logo à chegada de Paulo.

Os Atos dos Apóstolos iniciam os dezoitos versículos destinados à presença do Apóstoloo entre os atenienses com as seguintes palavras: "Enquanto Paulo os esperava [a Silas e Timóteo] em Atenas, tinha a alma conturbada por ver esta cidade cheia de ídolos. Por isso, dirigia a palavra na sinagoga, aos judeus e aos adoradores de Deus e, a cada dia, na praça pública, a toda a gente" (At 17, 16-17).

A pregação de Paulo realmente atingia os corações dos ouvintes e não foi diferente com os atenienses. Mesmos os mais estudados, os chamados 'filósofos', queriam receber mais explicações daquele homem que acabava de chegar na cidade e já causava certo rumor entre aqueles que o ouviam (cf. At 17, 17-18). Por isso o levaram até o Areópago para o interrogarem. O Areópago ficava sobre uma colina à esquerda da Acrópole (espécie de 'centro' das cidades gregas), que ao mesmo tempo que servia como espaço para o descanso e convívio, provavelmente, no caso de Atenas, era o lugar das reuniões do grupo de magistrados da cidade. Diante do pedido de explicações e do desejo de aprofundamento da doutrina por parte dos magistrados, Paulo iniciou um discurso que encantaria pela inteligência e perspicácia de um pregador, se não fosse certamente movido pela ação do Espírito Santo que convence-nos de que o Senhor estava com ele e falava por meio dele.

O que leremos agora é Palavra de Deus. Convido você a ler o seguinte trecho em oração. Acredite: Deus falará com você por meio dela! Mesmo você que acessa, por acaso, esse blog de alguma parte, de casa ou mesmo de uma lan house ou internet cafe. Quero que você saiba que, na verdade, não é por acaso que Deus te fez 'navegar' por aqui. Ele o trouxe e o entretém nessas linhas mal escritas para que você chegasse até onde deveria chegar: nas palavras Dele! Convido você a ler com atenção o que realmente importa em todo esse blog: a Palavra de Deus!



"De pé no meio do Areópago, Paulo tomou a palavra: 'Atenienses, eu vos considero, sob todos os aspectos, homens quase religiosos demais. Quando percorro as vossas ruas, o meu olhar se dirige, muitas vezes, para vossos monumentos sagrados, e descobri, entre outros, um altar com esta inscrição: Ao deus desconhecido. Pois bem, aquele que venerais assim, sem o conhecer, é Ele que eu vos venho anunciar. O Deus que criou o universo e tudo o que nele se encontra, o Senhor do céu e da terra que não habita templos construídos pela mão dos homens e o seu serviço tampouco exige mãos humanas como se precisasse de alguma coisa, pois é Ele quem dá a todos a vida e a respiração e tudo o mais.

A partir de um só homem, Ele criou todos os povos para habitarem a face da terra. Ele determinou tempos fixos e traçou os limites do habitat dos homens: e tudo isso para que eles procurassem a Deus e o pudessem descobrir, mesmo que às apalpadelas. Ele, na realidade, não está longe de nenhum de nós. Pois é nele que vivemos, nos movemos e existimos, como, aliás, disseram alguns de vossos poetas: 'pois nós somos de sua raça'.

Então, visto que somos da raça de Deus, não devemos pensar que a divindade se pareça com ouro, prata ou mármore, escultura da arte e da imaginação do homem. E eis que Deus, sem levar em conta esses tempos de ignorância, anuncia agora aos homens que todos, e em toda parte, têm de se converter. Com efeito, Ele fixou o dia em que deve julgar o mundo com justiça por meio de um Homem que Ele estabeleceu, dando a todos por garantia o fato de tê-lo ressuscitado dos mortos." (At 17, 22-31)






As ruínas do areópago visto de cima da acrópole grega. Ao fundo, parte da cidade de Atenas, hoje.

A entrada do areópago. A placa, à direita, traz, em grego, a passagem de Atos 17.

Tivemos a imensa graça de celebrar a Eucaristia no alto do areópago! Na foto, nosso grupo se preparava para o intenso momento de oração.

Naquele local, pedi a Deus à graça do dom da Palavra: anunciá-la com palavras e em atos de vida! No mundo de hoje existem milhares de "areópagos" que continuam perguntando a razão de nossa fé. Que Deus nos transforme em autênticos anunciadores cheios de seu Espírito, assim como o foi São Paulo.

A vista da cidade de Atenas de cima do areópago.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Especial Apóstolo Paulo - Parte 6

O livro dos Atos dos Apóstolos dedica todo o capítulo 17 para narrar a passagem do Apóstolo Paulo pelas cidades de Tessalônica, Beréia e Atenas. Tentaremos tratar, brevemente, de Tessalônica e Beréia nessa única postagem.

Com afeto salesiano,
Pe. Mauricio Miranda.

Tessalônica

Tessalônica foi fundada em 315 a.C. por Cassandro, um dos generais de Alexandre Magno. O nome da cidade foi uma homenagem de Cassandro à sua esposa, meia-irmã de Alexandre. Na época romana, Tessalônica foi capital de um dos distritos da província da Macedônia. Quando Paulo ali chegou, encontrou a primeira "metrópole" de suas viagens missionárias, cidade de importância política e comercial singulares, onde viviam numerosos estrangeiros e, entre eles, uma importante colônia judaica.

O livro dos Atos dos Apóstolos relata que Paulo vinha de Filipos em companhia de Silas e Timóteo (cf. At 17,1-10). A fundação da comunidade cristã em Tessalônica é muito interessante, já que Paulo é obrigado a interromper bruscamente a pregação do Evangelho ali, para então, refugiar-se em Beréia. Provavelmente, o coração do Apóstolo deve ter se sentido por demais irriquieto ao deixar uma recente comunidade cristã "abandonada" durante uma dura perseguição que se iniciou na cidade por parte de alguns judeus. As duas belíssimas cartas endereçadas aos tessalonicenses trazem consigo elementos preciosos para se conhecer a ação missionária de Paulo e seu relacionamento com as comunidades que fundava. Certamente 1 Tessalonicenses foi o primeiro e, portanto, mais antigo escrito de todo o Novo Testamento, mesmo antes dos Evangelhos. A 2 Tessalonicenses, de autoria ainda duvidosa por parte dos estudiosos, provavelmente foi escrita pouco depois da primeira.

Na cidade, quase nada resta da época de Paulo, a não ser algumas poucas muralhas do tempo da dominação romana. Abaixo, seguem fotos de alguns lugares visitados por nosso grupo de estudos.


Centro da cidade. Ao fundo, as águas do Mar Egeu.

Igreja ortodoxa de São Demétrio, mártir de Tessalônica. Abaixo, detalhe de lustre principal da igreja.


Igreja ortodoxa de Santa Sofia. Sofia não é nenhum personagem histórico, senão a Santa Sabedoria de Deus. Abaixo, detalhe de afresco da abóboda principal da igreja.




Beréia

Os macedônios se estabeleceram na região por volta de 700 a.C. Beréia (atual Véria) era, na época de Paulo, uma importante cidade do Imperio Romano, capital do terceiro distrito da província da Macedônia.

A curiosidade que repousa sobre os judeus que habitavam a cidade quando da segunda viagem missionária de Paulo é a simpática acolhida que deram às palavras de Paulo. De fato, lemos que "mais corteses que os de Tessalônica, [eles] acolheram a Palavra com inteira boa vontade e cada dia examinavam as Escrituras para ver se era assim mesmo [como o Apóstolo lhes falava]" (At 17, 11).

Mas o livro continua narrando que os judeus de Tessalônica, sabendo da estadia de Paulo em Beréia, foram até lá afim de encontrá-lo e impedir que pregasse o Evangelho. Por isso, os irmãos da comunidade fizeram Paulo partir com destino a Atenas, marco importante do anúncio do Evangelho aos pagãos. Apesar de viver nesse período uma forte decadência política, Atenas continuava sendo o ícone da cultura helenística. Atenas será palco do primeiro confronto entre o Evangelho e alto pensamento pagão. Dali, em diante, o Cristianismo fará um difícil caminho do que, hoje, podemos chamar de esforço de "inculturação".


O "Púlpito de São Paulo" é um monumento erguido no local onde se acredita que Paulo tenha pregado o Evangelho em Beréia. As três pedras que se encontram ao centro do monumento são da época de Paulo e, acredita-se, serem do próprio local.

Mosaico em monumento dedicado ao Apóstolo, ao lado do monumento principal.

Um dos mosaicos no "Púlpito de São Paulo" retrata o anúncio do Evangelho aos judeus da cidade.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Especial Apóstolo Paulo - Parte 5

Na postagem anterior, tratamos sobre a segunda viagem missionária de Paulo (At 16-20). Dentre as muitas cidades pelas quais o Apóstolo passou, escolhemos falar hoje de Neápolis e Filipos; ambas, cidades da Grécia atual, tive a oportunidade de visitar em minha última viagem de estudos.

Neápolis

A cidade de Neápolis (cujo nome significa "nova cidade") foi fundada no século VI a.C. na região da Macedônia. Distante cerca de 14 km de Filipos, por ser uma cidade portuária, Neápolis ocupava um lugar de importância estratégica. Foi conqusitada pelos romanos em 168 a.C.

O livro dos Atos dos Apóstolos apenas relata a passagem do Apóstolo Paulo pela cidade (cf. At 16,11). Hoje, conhecida pelo nome de Kavalla, a cidade é um símbolo da chegada do Evangelho ao Ocidente. Para celebrar esse evento da História da Salvação, foi erguido em frente uma das Igrejas Greco-Ortodoxas da cidade um belíssimo mosaico do Apóstolo dos Pagãos.

Em Kavalla, nosso grupo fez uma parada para o almoço para, então depois, seguir viagem a Filipos. Abaixo seguem algumas fotos dessa simpática cidade.


Igreja Greca-Ortodoxa dedicada ao Apóstolo Paulo no centro de Kavalla


Mosaico comemorativo à chegada do Evangelho no Ocidente. A gravura representa a passagem do Oriente em direção ao Ocidente.


O belíssimo porto de Kavalla (fotos acima e abaixo)



Filipos

De Neápolis, Paulo e Silas viajaram para Filipos (cf. At 16,12), cidade bem conhecida no universo cristão, graças à comunidade cristã que ali vivia e que foi destinatária da conhecida Carta de São Paulo aos Filipenses.

Filipos foi uma cidade fundada por Filipe II, no leste da Macedônia. Além de haver minas de ouro em sua região, outro fator que motivou a fundação de Filipos foi o de estabelecer uma guarnição entre Neápolis, cidade portuária, e as demais cidades do reino. A partir de 167 a.C. passa a ser considerada uma cidade romana, assim como Neápolis, ambas conquistadas pelo Império que avançava.

O Apóstolo, assim como narra os Atos dos Apóstolos, visitou a cidade acompanhado por Silas. Embora não tenha sido a primeira cidade do Ocidente a ser visitada pelo Apóstolo, é o primeiro lugar de onde se tem notícia que o Evangelho tenha sido pregado em terras ocidentais. Em Filipos viviam poucos judeus, o que parecia não justificar a existência de uma sinagoga. Ao menos, à entrada de Paulo na cidade, nenhuma sinagoga é mencionada como lugar de oração daquela comunidade. Aos sábados, aquela pequena comunidade judaica costumava se reunir às margens do rio Zygacte. No sábado em que o Apóstolo chegou à cidade, estavam reunidas apenas as mulheres da comunidade. Foi naquela ocasião que Paulo anuncia o Evangelho à Lídia, mulher da cidade de Tiatira (Ásia Menor) e lhe confere o batismo. Sabe-se que ao longo de sua permanência em Filipos, foi na casa dessa mulher, grande colaboradora do anúncio do Evangelho em Filipos, que Paulo esteve hospedado.

Também em Filipos ocorre a prisão de Paulo e seus companheiros (cf. At 16, 16-40). Após haver expulso, em nome de Jesus Cristo, um espírito de adivinhação que agia numa mulher que o seguia, Paulo é arrastado pelos patrões dela para praça pública para ser julgado perante os magistrados. Depois de ser açoitado, foi enviado para uma prisão. Os Atos dos Apóstolos relatam que "por volta da meia-noite, Paulo e Silas, em oração, cantavam os louvores de Deus e os outros presos os escutavam. De repente houve um tremor de terra tão violento que abalou os alicerces do edifício. Todas as portas se abriram no mesmo instante e os grilhões de todos os prisioneiros arrebentaram". (At 16, 25-26). Foi naquele momento que, atordoado com o que estava acontecendo, o carcereiro pergunta a Pauloe Silas: " 'Senhores, que devo fazer para ser salvo?' Eles responderam: 'Crê no Senhor Jesus e serás salvo tu e a tua família'." (At 16, 30-31).

Convido você que me acompanha por este blog a concluir pessoalmente a leitura dessa importante passagem do anúncio do Evangelho em Filipos, depois da qual Paulo e Silas partem para Tessalônica. Também convido você a ler a Carta de São Paulo aos Filipenses. Pensa-se que tenha sido escrita quando o Apóstolo estava encarcerado em Roma. A alegria é a nota dominante em toda a carta que, por sua vez, demonstra ser a comunidade dos filipenses aquela que parece ter dado mais alegria ao Apóstolo.

Por hoje é só. Boa leitura e oração! A gente se vê amanhã.

Com afeto salesiano,

Pe. Mauricio Miranda.








As quatro fotos acima foram tiradas nas ruínas da antiga cidade de Filipos, distante poucos quilômetros da atual cidade que ainda conserva o mesmo nome.


Local da prisão do Apóstolo Paulo. Acredita-se que ele tenha ficado justamente nesta cela, já que estudos apontam ser exatamente essa a "cela mais retirada" (At 16, 24) do cárcere da antiga cidade.

Na foto, nosso grupo, em oração diante da entrada da cela de Paulo, escutava a leitura do respectivo trecho dos Atos dos Apóstolos. A emoção de orar num lugar como esse é realmente indescritível... No momento em que orávamos, o lugar não tremeu (cf. At 16, 26), mas certamente ficaram abalados os alicerces do coração! Ali, pedi a Deus a graça da coragem de testemunhar o Senhor Jesus, mesmo nas mais difíceis situações da vida...

Igreja dedicada a Santa Lídia, construída nas imediações do local onde ocorreu o encontro entre ela e Paulo. Toda a Igreja é construída em torno a um Batistério (foto abaixo).

Mosaico sob o teto da Igreja, bem acima do Batistério. Na gravura, João Batista batiza o Senhor nas águas do Jordão. Ali, renovei, mais uma vez de modo particular, minhas promessas batismais. Convido você a fazer o mesmo nesse momento. Pare por um instante a leitura e, em diálogo silencioso e amoroso com o Senhor, renove as promessas feitas no dia de seu Batismo: tal renovação consiste em renunciar ao Mal e a Satanás, princípio e autor do pecado e, em seguida, realizar com convicção nossa profissão de fé: Creio em Deus Pai...

O riacho que corre na região do encontro entre Lídia e Paulo. Possivelmente, nessas águas, após ter ouvido a pregação do Evangelho, Lídia pediu o batismo.

Local de oração, em frente à Igreja, conhecido como o Batistério de Lídia. Ali, nosso grupo celebrou a Santa Missa.

Parte do mosaico que adorna o altar principal da Igreja de Santa Lídia. Que a Virgem Santíssima nos auxilie a viver com alegria nossa vocação batismal: sermos sinais e portadores da luz de Cristo ao mundo!