sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Turquia - Parte 6

Depois de conhecer a cidade de Pérgamo, voltamos, ainda mais uma vez, à famosa cidade de Éfeso que, como dissemos, possui uma importância muito grande na história da Igreja. Para além do trabalho missionário do Apóstolo Paulo (Postagem de 29/09), da presença do Apóstolo João (Postagem de 06/10) e de, provavelmente, também Maria, Mãe do Senhor, ter morado naquelas terras (Postagem de 08/10), que mais pode haver na história de Éfeso de tão importante assim?

Para responder a essa pergunta, teremos que voltar ao ano de 431 d.C. Antes de "aterrissarmos" no século V da era cristã, é preciso que compreendamos alguns pontos essenciais da fé da Igreja que, sem eles, se torna impossível entender a importância do que será narrado aqui.

A primeira e fundamental verdade de nossa fé é a de que Deus quis, na sua bondade e sabedoria, se revelar e manifestar o mistério de sua vontade a todos os seres humanos (cf. Ef 1,9). Cremos nessa maravilhosa verdade: Deus se revela por amor, ao longo da história da humanidade, falando ao coração dos homens com a intenção de fazê-los participar de sua gloria. Todos somos, portanto, convidados a acolher com fé a revelação que Deus faz de si mesmo a nós.

Se você compreendeu esse primeiro ponto, pode estar se perguntando agora: mas de que forma Deus se revela? Na verdade, Deus se manifestou desde o início do mundo aos primeiros habitantes da terra (cf. Gn 1,26-31). Mesmo depois que pecaram, rompendo a comunhão com Ele, Deus não deixou de cuidar do ser humano para que todos os que praticassem o bem, pudessem voltar àquela comunhão que haviam perdido. Por isso Deus chamou Abraão e, a partir dele, formou um grande povo para si (cf. Gn 15,5) e o ensinou por meio dos patriarcas, por Moisés e por todos os profetas, a reconhecer seu imenso amor por todos. Mas só isso? Claro que não. Deus não se deixa vencer em amor e generosidade! Depois de falar muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, Deus enviou o seu próprio Filho (cf. Hb 1, 1-2) para morar entre nós e nos levar à plena comunhão com Ele, comunhão que pecado algum pudesse romper mais. E este é o segundo ponto: toda a revelação que Deus fez de si mesmo encontrou em Jesus, o seu ponto mais alto e importante. Jesus é a plenitude de toda a revelação de Deus.

Nossa... É preciso fazer todo esse caminho mesmo se quisermos chegar a Éfeso? Sim, é preciso! E por que? Ah... Aqui vai o terceiro ponto. Preste atenção:

Deus quis que a revelação destinada a todos os povos se mantivesse íntegra através dos tempos e fosse transmitida a todas as gerações. Por isso, Jesus, plenitude dessa revelação, encarregou, primeiramente, o grupo dos Apóstolos de anunciar a mensagem de Salvação ao mundo inteiro. Essa ordem foi realizada com fidelidade, tanto pelos Apóstolos (por meio da pregação, exemplos e comunidades que fundaram), como por aqueles que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, escreveram a mensagem da salvação em livros que hoje formam o que chamamos de Novo Testamento. E, por fim, para conservar a mensagem do Evangelho íntegra e viva na Igreja, os Apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores. A função dos bispos na Igreja, portanto, é conservar e anunciar o que receberam dos Apóstolos. A isso nós chamamos de Tradição Apostólica. E aqui está o terceiro ponto: a revelação de Deus para nós consiste nas Escrituras (Antigo e Novo Testamento) e na Tradição Apostólica.

Mas se você está acompanhando essa reflexão com atenção, deve estar se fazendo uma última pergunta: Mas o que tem a Tradição Apostólica de diferente das Escrituras? Nada! A Tradição Apostólica existe para manter íntegra, ou seja, sem alterações, a mensagem das Escrituras. Porém, é verdade que a mensagem das Escrituras pode e deve ser aprofundada pela Tradição, de modo que a Igreja vai, fiel à mensagem recebida por Deus, ampliando e aprofundando a compreensão sobre ela. E aqui está o último ponto: por isso, podemos afirmar que dessa forma, Deus que falou no passado e, de maneira plena, por meio de seu Filho Jesus, continua a conversar hoje, incessantemente, com seus filhos.

Vamos recapitular os quatro pontos?

1. Deus quis, na sua bondade e sabedoria, se revelar e manifestar o mistério de sua vontade a todos os seres humanos;

2. Jesus é a plenitude de toda a revelação de Deus;

3. A revelação de Deus consiste, assim, na Tradição Apostólica e nas Escrituras (Antigo e Novo Testamento);

4. A Tradição Apostólica e as Escrituras constituem a forma pela qual Deus continua, hoje, conversando com seus filhos e filhas.




Concílio de Éfeso (431 d.C.)

Agora sim podemos falar do outro acontecimento que fez de Éfeso uma cidade importante: o Concílio acontecido no ano de 431 d.C. Desde o início da Igreja, as pessoas já procuravam compreender melhor o mistério sobre a pessoa de Jesus Cristo. Assim, com o tempo, pelo estudo das Escrituras e o desenvolvimento da Tradição Apostólica, a Igreja passou a compreender que na pessoa de Jesus havia duas naturezas: uma divina e uma humana, ou seja, que ele era Deus e homem ao mesmo tempo.

No entanto, no século V, alguns começaram a se perguntar como é que essas naturezas se relacionavam entre si. E o problema surge quando Nestório (*380 +451), um homem da Igreja daquele tempo, começa a afirmar que a Virgem Maria não poderia ser considerada Mãe de Deus, mas somente Mãe de Jesus. De fato, desde sempre os cristãos chamavam a Virgem Maria como Mãe de Deus e nossa. O que Nestório não podia compreender é que ao afirmar que Maria era apenas mãe do homem Jesus e não de sua divindade, ele estava, na verdade, "dividindo" Jesus em dois...

Foi quando os bispos, sucessores dos Apóstolos, se reuniram, em 431 d.C., na cidade de Éfeso, para discutir como se dava a união das naturezas divina e humana na pessoa de Cristo. E, ali, pela assistência do Espírito Santo, a Igreja reafirmou a unidade em Jesus, ou seja, o Senhor era Deus e Homem de maneira absolutamente inseparável. E, portanto, é também naquele momento, na cidade de Éfeso que a Igreja proclama o primeiro dogma sobre Maria: segundo a fé da Igreja, revelada por Deus desde sempre, Maria é Mãe de Deus porque gerou no seu ventre, de maneira inseparável, a natureza divina e humana, unidas na única pessoa de Jesus.

Conta-se, por fim, que o próprio Papa, ao final daquele tempo de reunião, dirigiu à Mãe de Deus a seguinte oração: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém. Essa oração do Papa foi, com os anos, juntada às passagens bíblicas de Lc 1, 28 e Lc 1, 42, dando origem à oração da Ave-Maria que conhecemos hoje.

Abaixo seguem fotos das ruínas do local onde, há mais de 1.500 anos, aconteceu essa grande reunião conciliar que marcou para sempre a história da Igreja porque, além de significar um importante passo na compreensão do Mistério de Jesus Cristo, o Filho de Deus, aproximou ainda mais os filhos da Igreja à Mãe de Deus e nossa. É Deus permitindo e auxiliando sua Igreja a aprofundar aquilo que Ele revelou para a nossa Salvação!

Com afeto salesiano

Pe. Mauricio Miranda.

















No site abaixo, você poderá escutar a oração da Ave-Maria, cantada por Andrea Bocelli. Tal como nós a conhecemos hoje, essa música foi composta por Charles Gounod, no século XIX. Como a letra é em latim, abaixo segue a transcrição:

Ave Maria, gratia plena
Dominus tecum
Benedicta tu in mulieribus
Et benedictus fructus ventris tui Jesus
Sancta Maria, Mater Dei,
Ora pro nobis pecatoribus
Nunc et in hora mortis nostrae
Amen.

http://www.youtube.com/watch?v=l3JtQ6XKIVQ&feature=related



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